foto: Bruno Espadana

09 abril 2009

#  «Pessoa para todas as ocasiões»

Fernando Pessoa por José de Almada-NegreirosAbriu hoje oficialmente as portas um novo blogue, de seu nome Pessoa para todas as ocasiões, editado por mim e por uma amiga.

Conforme se pode ler do “editorial”, datado de 27 de Janeiro deste ano, a ideia é «fazer um blogue exclusivamente com citações da obra de Fernando Pessoa, escolhidas a propósito de acontecimentos, efemérides, evocações, associações de ideias, estados de espírito...»

O blogue já tem uma vintena de posts — por isso é ler antes que esgotem!

Etiquetas: ,

30 setembro 2008

#  A métrica dos combustíveis fósseis (epílogo)

Reclamar ainda vale a pena: o infografista corrigiu o tamanho do círculo da energia hidroeléctrica. Agora, tudo bate certo.
Infografia: Energia das ondas em Portugal (versão corrigida)

Etiquetas: , , , ,

29 setembro 2008

#  A métrica dos combustíveis fósseis?

O Infografando, blogue convidado do Público, apresenta uma infografia sobre a central de aproveitamento eléctrico da energia das ondas a instalar ao largo da Póvoa de Varzim.

Infografia: Energia das ondas em Portugal
Só gostava de saber que métrica é que o infografista usou para determinar o tamanho relativo dos círculos de «Comparação dos maiores projectos por tipo de energia»...

A comparação deveria ser entre as áreas de cada círculo, mas não foi certamente o que se passou: 1200 MW é menos do dobro de 630 MW, mas a área do círculo daquele é 9,6 vezes maior do que a deste. Por outro lado, 630 MW é 7,5 vezes maior do que 84 MW, mas a relação entre as áreas dos respectivos círculos é inferior a 1,4...

A relação entre as potências instaladas também não se reflecte nos raios dos círculos (o que, ainda que errado, pelo menos teria uma lógica subjacente): para uma relação de 1,9 em potência temos 3,1 em raio do círculo, e para uma relação de 7,5 em potência temos uma relação inferior a 1,2 em raio...

Ora, como sabemos, muitos leitores não olharão para os números, mas para os tamanhos relativos dos círculos. (É exactamente esta constatação que dita a utilidade da infografia...) E o que é que os leitores infografo-dependentes concluirão (erradamente)? Que a central térmica é muitíssimo mais produtiva do que as restantes centrais, hidroeléctrica incluída — donde a energia térmica é e será sempre (ou pelo menos a médio prazo) insubstituível.

Tendo em conta que todas as energias apresentadas, com excepção da térmica, são renováveis, pergunto-me se a métrica utilizada na definição dos tamanhos relativos dos círculos terá sido a métrica do lobby dos combustíveis fósseis...


Nota: Este post teve epílogo...

Etiquetas: , , , ,

10 setembro 2008

#  Dêem-me tradutores e revisores puristas — mas dêem-me tradutores e revisores, de facto!

Desidério Murcho escrevia ontem no Público (reproduzido no blogue De Rerum Natura):
Poucas pessoas sabem como se faz um livro, e por isso não sabem que o que um autor ou tradutor escreve é pacientemente revisto por pessoas especialistas nessa tarefa.
E depois continua para desancar os revisores «puristas» que censuram a língua e o estilo, como se a língua e o estilo fossem fósseis.

Pois, pois...

Em muitas edições portuguesas (particularmente traduções), eu até gostava de um correctorzinho purista — era sinal de que havia um corrector, in the first place!
O grande problema é que, frequentemente, não há; se há, só fingiu que fez o seu trabalho; e se fez o seu trabalho, então manifestamente não está qualificado para o fazer. (O mesmo se pode dizer, sem dúvida e por maioria de razão, dos próprios tradutores.)
Há de tudo: ignorância linguística, ignorância cultural (geral), ignorância sobre o tema...

As traduções dos livros de Georges Minois (Teorema) são apenas um exemplo dos mais flagrantes, mas tem muita companhia.
A tradução que Serafim Ferreira fez de História do Ateísmo é (permitam-me a ironia) de bradar aos céus: à força de desconhecer (!!!) a expressão francesa «ne que», o homem conseguiu pôr o texto em português a dizer o contrário do original francês (é tão evidente que até eu, sem o original à frente e sem grandes conhecimentos de francês, dou conta do problema — infelizmente, não sempre, certamente).
E a ignorância histórica (não só de personagens e autores importantes, mas também do facto de os nomes antigos e medievais, e ainda o dos modernos monarcas e papas, serem por tradição adaptados à língua de quem escreve) faz surgir preciosidades como «a Bíblia do Rei Jacques de Inglaterra»...

Por isso, dêem-me tradutores e revisores puristas — mas dêem-me tradutores e revisores, de facto!



Sobre este mesmo tema (e caindo um pouco na repetição), permito-me reproduzir aqui dois posts que escrevi ainda no tempo da revista Periférica (blogue A Oeste Nada de Novo):

HISTÓRIA DO ATEÍSMO (06/05/2004)

Foi finalmente publicado em Portugal o livro que, desde há pelo menos cinco anos, eu indicaria se algum dia me perguntassem a clássica «Que livro gostaria de ver traduzido em português?» (infelizmente, nunca ninguém quer saber essas coisas — ou muitas outras — de mim...).

Refiro-me a História do Ateísmo, de Georges Minois, setecentas e tal páginas a que tenho de me dedicar o mais rapidamente possível.

O aspecto menos positivo (a priori — espero enganar-me) foi a Teorema ter entregue a tradução a Serafim Ferreira, que recordo por ter traduzido outra obra do mesmo autor saída na Teorema: História do Futuro. Li o livro há não muitos meses (esteve anos na fila de espera) e surpreendeu-me pela negativa um tão pouco rigoroso trabalho de tradução...

POST SCRIPTUM SOBRE A TRADUÇÃO DE AS ORIGENS DO MAL DE GEORGES MINOIS (13/09/2005)

A tradução de As Origens do Mal foi entregue a Carlos Correia Monteiro de Oliveira, o que é uma boa notícia, pois o tradutor das obras precedentes (Serafim Ferreira) foi avançando paulatinamente até alcançar o nível do assassinato na tradução de História do Ateísmo, em que frequentemente pôs a edição portuguesa a dizer precisamente o contrário do original francês.

Se Carlos Oliveira comete os mesmos erros, tal não é evidente (o que, paradoxalmente, será um demérito face a Serafim Ferreira, com quem conseguíamos muitas vezes "reconstruir" o sentido original...), mas numa coisa ambos se irmanam: no critério (ou falta dele) quanto à tradução (ou não) de alguns títulos de obras e ao aportuguesamento (ou não) dos nomes de certos autores e personagens históricas ou mitológicas. É assim que surgem pérolas como a deusa grega «Gaïa», a seita dos «caïnitas» e o romancista «Dostoïevski», teólogos gregos como «Numérius d'Apamée», «Marcion du Pont» (ambos do séc. II) ou «Méthode d'Olympe» (séc. IV), o famoso escocês «Jean Duns Scot» (sécs. XIII–XIV) e muitos outros «Jeans» holandeses, alemães e doutras paragens, o «Livre des jubilés» (composto por uma seita judaica entre 135 a. C. e 105 a. C. e encontrado em Qumran) ou as obras de Ireneu (séc. II) e do alemão Martinho Lutero (séc. XVI), todas com títulos em francês — e ainda o meu preferido, o rei «Jacques I de Inglaterra». Ou, reverso da medalha, um certo «Teodoro» Roosevelt...*

Sejamos claros: deixar em francês títulos de obras não originalmente publicadas nessa língua ou nomes de personagens históricas não francófonas que por tradição são conhecidos na sua forma aportuguesada (ou afrancesada, no caso dos países francófonos, daí a opção de G. Minois) denota, antes de mais, ignorância e falta de cultura geral. O tradutor, simplesmente, não faz a mínima ideia de quem tais personagens foram — nem procurou saber.

* Alguns dos exemplos que dou são da autoria de Serafim Ferreira e não de Carlos Oliveira.

Etiquetas: , , , ,

27 agosto 2008

#  Orwell, 70 anos depois

GMT-70 years : Orwell Diaries
Os Diários de George Orwell, começados a escrever a 9 de Agosto de 1938, vão ficando disponíveis em formato de blogue, precisamente 70 anos após a sua redacção original.

Etiquetas: ,

30 junho 2008

#  Sucesso a martelo

Há uns dias dizia Carlos Fiolhais:
Teme-se o pior: pelo caminho que as coisas levam, qualquer dia o exame de Portumática do 9º ano — uma só prova para ser mais fácil — será escrever a palavra "batata", dizer se é nome ou substantivo (a ver se sabe as TLEBS), contar o número total de letras dessa palavra e, finalmente, traçar uma circunferência à volta do resultado. Claro que vai ter a cotação toda um aluno que conte três, pois contou correctamente sílabas em vez de letras, e que desenhe um quadrado em vez de uma circunferência, pois também é uma figura geométrica. Seria cómico se não fosse trágico!

O cenário futuro apresentado pelo Carlos Fiolhais pode parecer exagerado, mas já andamos lá perto, conforme se apercebeu a minha irmã, quando no ano passado corrigiu exames nacionais de Português do 9.º ano.

Em primeiro lugar, «do 9.º ano» é uma maneira de dizer, pois não havia um único conteúdo que fosse posterior ao 8.º.
(A minha irmã confirmou isso mesmo: no início do ano lectivo que agora acaba usou o exame em causa como teste diagnóstico das suas turmas de 9.º ano — que, obviamente, ainda nada tinham aprendido desse nível de ensino — e a grande maioria teve nota positiva, alguns alcançando mesmo notas elevadas, em linha com as classificações obtidas no final do 8.º ano.)

Em segundo lugar, para além das perguntas muito simples e até ao 8.º ano apenas, os próprios critérios de correcção potenciavam o «sucesso» a martelo: por exemplo, em cada resposta, por mais breve que fosse, os alunos poderiam dar até 4 erros ortográficos diferentes, sem que os correctores pudessem descontar 1% que fosse. (Como os erros teriam de ser diferentes, usar N vezes a mesma palavra erradamente escrita constituía um único erro.)

Uma pergunta tinha mesmo um critério de correcção caricato: apelava à «criação», mas a simples cópia ainda garantia alguns pontos. Concretamente, um texto abordava a campanha do Banco Alimentar Contra a Fome, citando o slogan «Alimente Esta Ideia». Aos alunos era pedido que criassem um novo slogan para o BACF: segundos os critérios de correcção, o aluno que simplesmente repetisse «Alimente Esta Ideia» teria ainda assim direito a 20% da cotação da pergunta; aplicando o critério dos erros ortográficos, aquele que nessas 3 palavras desse 4 erros (p. ex., Halemente Ésta Edeia) ainda teria direito aos 20% (ou até mais, não sei: talvez em sede de recurso os erros fossem interpretados como sinal de criatividade e não de plágio mal feito...).

Os exemplos poderiam continuar...

Com estes critérios e estes conteúdos programáticos, os alunos da minha irmã tiveram notas no exame substancialmente melhores do que as obtidas ao longo do ano lectivo (houve quem passasse de 2 para 4 e de 3 para 5). Resultado: foi visitada por «Inspectores» da DREN, preocupados com a sua «incapacidade de avaliar». (A Matemática, na mesma escola, houve alunos que passaram de 5 para 1 ou 2, mas os respectivos professores não foram «visitados» nem a sua «incapacidade avaliativa» foi vista como preocupante...)
A minha irmã expôs a sua visão das coisas, nomeadamente o facto de o exame não abordar conteúdos do 9.º ano (de facto, os únicos alunos com negativa no exame tinham sido aqueles a quem ela já tinha dado negativa... no 8.º ano!), mas os ditos inspectores avisaram: se no final do 1.º Período as notas não melhorassem significativamente, seriam obrigados a enviar «um Técnico» para auditar os seus métodos de ensino... (A minha irmã perguntou: «Técnico de quê?», mas não obteve resposta.)
Durante todo o ano lectivo nunca foi visitada por ninguém, mas por duas vezes lhe telefonaram na semana anterior às reuniões avaliativas, naquilo que a minha irmã entendeu como uma tentativa de intimidação: parece que afinal estavam pouco interessados nos seus métodos de ensino, apenas os preocupando as notas propriamente ditas.

Etiquetas: ,

31 maio 2008

#  Hortografia

Helena Araújo sobre o Acordo Ortográfico:
Também não concordo com simplificações da ortografia para facilitar a aprendizagem. Isso equivale a, desculpem a ofensa, fazer uma hortografia: ortografia para nabos.

Nota: Concordo no geral com a opinião de Helena Araújo sobre o Acordo Ortográfico. Pena que caia na ignorância (infelizmente tornada cliché) de falar em «mínimo denominador comum», que é coisa que não existe... (O termo correcto é «máximo denominador comum», mas como só é usado vox populi com intenção de denegrir, penso que a quem escreve parece melhor dizer «mínimo» e não «máximo», não vá o leitor pensar que é coisa positiva... Deve ter sido por aí que tudo começou; depois a ignorância tratou de consagrar a expressão.)

Etiquetas: , ,

21 maio 2008

#  Saber fazer contas — e saber o que fazer com elas

O Presidente Executivo (CEO) da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira, «passou ao contra-ataque e devolve pressões ao Governo», afirmando que «Petróleo pesa um terço no custo total dos combustíveis».

Em reacção a esta notícia, Rui Cabral, do blogue Palermice de Bacalhau, devolve as pressões à Galp:
Então se o Petróleo pesa apenas um terço no custo total dos combustiveis a que se deve o aumento brutal de preços que se tem vindo a verificar?!?

Mesmo que os preços tivessem aumentado 50% (de 60 euros para 90 euros, sendo que o barril ainda nao chegou aos 90 euros) os portugueses sabem multiplicar… sabem 33% (custo do petroleo no total dos cumbustiveis) x 50% (aumento nos combustiveis) = 16,5%.

33% x 50% = 16,5% de aumento!!!

e não 50%!!!
[...]

A ideia de Manuel Ferreira Oliveira é simples, baixe-se os impostos em 30%, a Galp baixa os preços em 10% e todos ficamos felizes. O lucro da Galp aumenta e o “tuga” paga menos e gasolina, e como a vista é curta o “tuga” não se importa que o Estado deixe de ganhar para uma empresa ganhar, desde que ganhe (em termo privados) um pouco. Esses preferem pressionar ainda mais o Estado.

Nem o CEO da Galp nem o CEO do Palermice de Bacalhau sabem fazer contas (ou querem fazê-las).

Sendo verdade que o petróleo só representa 33% do preço final dos combustíveis, não é verdade que o aumento de 50% no preço do petróleo só seja reflectido em 0,33 x 50% no aumento do preço final dos combustíveis.
Os impostos são indexados ao preço-base, pelo que se o preço-base aumenta (em função do aumento da matéria prima), o valor correspondente ao imposto aumenta proporcionalmente, mantendo-se constante o seu peso percentual no preço final.

Vejamos o que se passa com o IVA: se o preço-base é 100 e o IVA é 21%, o preço final é 121 (i.e., 100 x 1,21). Mas se o preço base aumentar para 200, o preço final não é 221, mas 242 (i.e., 200 x 1,21).
Ou seja, um aumento para o dobro do preço base (2 x 100) resulta num aumento para o dobro do preço final (242 = 2 x 121).

Genericamente, um aumento de X% no preço base (antes dos impostos) significará um aumento de X% no preço final (já com impostos). Isto só não será assim se o valor do imposto não for perfeitamente percentual: por exemplo, se for um valor monetário fixo (seria mais uma taxa do que um imposto) ou se for percentual, mas com diferentes escalões.

Obviamente, isto não invalida duas coisas:

1. Que o CEO da Galp tem razão ao pôr a culpa da falta de competitividade dos combustíveis nacionais na carga de impostos (que o digam os gasolineiros da fronteira).

2. Que o CEO do Palermice de Bacalhau tem razão ao prever que uma diminuição do ISP prejudicaria o Estado sem beneficiar (significativamente) os consumidores, pois a diferença iria (quase) integralmente para os bolsos das petrolíferas. (Veja-se o que aconteceu com a baixa do IVA nos ginásios; e falta pouco para vermos o que vai acontecer com a baixa geral da taxa máxima de IVA...)

Etiquetas: ,

30 outubro 2007

#  Falhar o alvo

Clara França Martins, autora do blogue As Setas, comenta assim o artigo de Nuno Crato a que me referi há dias:
Acho extraordinário o que diz Nuno Crato [NC] sobre o uso da calculadora. Então NC nã sabe que estamos no séc. XXI? Os jovenzinhos começam a utilizar computadores com 3,4 anos! Porque raio deveriam proibi-los de usar calculadoras desde o início do ensino da Matemática? Achará também NC que é necessário aprender a lavar a roupa no tanque (ou talvez no rio...), antes de utilizar a máquina de lavar? Ridículo!

Cara Clara, deve inicialmente proibir-se a máquina de calcular para que haja lugar à prática mental requerida pelos algoritmos de cálculo apropriados. A tónica é em «prática mental». Se as crianças começarem logo pelo uso de máquinas de calcular, nunca desenvolverão muitas capacidades cerebrais que só se desenvolvem quando se “faz o trabalho todo”.
Da mesma maneira, o uso de um processador com corrector ortográfico para escrever logo na fase inicial de aprendizagem de uma língua escrita é pernicioso, pois a “muleta” do corrector não estimula a que aprendamos a ortografia da língua que supostamente estamos a aprender — e que, portanto, aprenderemos pior.

Para sair do âmbito da Educação, uma analogia: se a um bebé que ainda só gatinha o enfiarmos logo num carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado, esse bebé nunca aprenderá a caminhar. Com o tempo, os músculos das suas pernas atrofiarão. O que não importa, claro, visto que tem o tal carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado... até ao dia em que o menino das perninhas atrofiadas se depara com uma escada. Aí não há carrinho que o ajude — mas por essa altura já as pernas estarão incapacitadas para o levarem mais além.

Etiquetas: ,

12 julho 2007

#  Vantagens de ficar calado

Nas duas primeiras semanas de Julho, apesar de não ter escrito nada aqui — ou exactamente por isso —, o número de visitas ao “Não tenho vida para isto” registou um súbito incremento.

Ontem e hoje quebrei o ciclo bonançoso. Podem começar a debandar!

Etiquetas:

22 março 2007

#  A Criação explicada

Escreve Francisco José Viegas hoje:

Criacionismo

A perspectiva mais radical do «criacionismo» desfaz-se num minuto. Por exemplo: acreditar que o mundo foi criado há exactamente 6000 anos significa esquecer que a cerveja foi criada cerca de 2500 anos antes dessa data. É uma injustiça.

Pelo contrário, caro FJV — essa cronologia explica muita coisa, nomeadamente a imperfeição da Criação saída da mente e da mão de um Criador perfeito: Deus sentou-se no estirador após dois milénios e meio de divinais pielas. E, erro de cálculo, 6000 anos antes de se inventar o Gurosan.



PS: A propósito, acabo de descobrir o De Rerum Natura [Sobre a Natureza das Coisas], blogue colectivo de Carlos Fiolhais, Desidério Murcho e Jorge Buescu, entre outros. Dada a temática e a proveniência, entra directamente para a minha restrita lista de sugestões. (Vou ali actualizar o template e já venho...)

Etiquetas: , , ,

03 outubro 2006

#  Um Passado novo, todos os dias

Passado/Presente: a construção da memória no mundo contemporâneo
Rui Bebiano, Tiago Barbosa Ribeiro e Miguel Cardina acabam de inaugurar o quase-blogue Passado/Presente. No editorial do projecto podemos ler que:
A obsessão contemporânea pelo passado — pelas comemorações, pelos museus e pelos monumentos, pelos velhos bairros e centros históricos, pelas tradições (autênticas ou fabricadas), pelas perigosas «essências identitárias», tanto quanto pelas biografias, pelos filmes e romances de temática histórica, pelos textos sagrados, pela ressurreição dos antigos ícones, por um consumo revivalista — parece compensar os inevitáveis progressos do esquecimento. Mas este interesse pelo acontecido tende sempre a revê-lo, a adaptá-lo, a ficcioná-lo também, produzindo e reproduzindo um passado-outro que não é senão um novo cenário, projectado sobre um velho palco, para os relatos do mundo.

Mais uma paragem obrigatória na (quase-)blogosfera portuguesa.

Etiquetas:

18 julho 2006

#  Estatística

Entre os post mais ou menos recentes do blogue Arrastão, de Daniel Oliveira, encontro um com o documentário do realizador israelita Avi Mograbi sobre o quotidiano na Palestina.

Ocorre-me a elaboração de uma estatística de algibeira: se contabilizarmos todos os abusos israelitas denunciados por cineastas, jornalistas e organizações de direitos humanos israelitas (vi vários ao longo dos anos), e se compararmos com os abusos palestinianos — muitas vezes sobre o seu próprio povo — denunciados pelos homólogos palestinianos (zero, em igual período de tempo), só podemos concluir uma coisa: que os Israelitas são uns carrascos e os Palestinianos uns santos.

(Ou então que o silêncio é muito eloquente.)

Etiquetas: , , , ,

14 julho 2006

#  Como assim, «season»?

Sobre o pouco relevo dado na imprensa nacional aos atentados em Bombaim, Eduardo Pitta escreveu um post intitulado «Silly Season», onde se lê:
Abriu a época parva. Em Bombaim explodiram sete bombas, matando mais de 180 pessoas (o triplo do que em Londres) e ferindo cerca de 700, e o Correio da Manhã preocupa-se com os salários dos assessores da Câmara Municipal de Lisboa. [...] Mas não é só o CM. Ontem, nas televisões, os atentados de Bombaim — isto é, no centro financeiro da democracia mais populosa do mundo — tiveram tratamento displicente. [...] Quanto aos atentados de Bombaim, who cares?

Concordo com tudo o que é dito. Só não concordo com o que é deixado implícito: que a parvoíce dos media é sasonal, que ciclicamente fecha. Wishful thinking, Mr. Pitta...

Etiquetas:

29 junho 2006

#  Correlação

O Rui Ângelo Araújo, na senda do Rui Bebiano, escreve:
Na Galiza, território com 3 milhões de habitantes, publicam-se 652.000 exemplares do jornal La Voz de Galicia e 304.000 do Faro de Vigo. Em Portugal (10 milhões de almas) a miséria é esta: Correio da Manhã, 116.000; Jornal de Notícias, 97.000; Público, 45.000; 24 Horas, 42.000; Diário de Notícias, 35.000.

Eu cá não embarco no nacional-derrotismo nem em extrapolações apressadas: tiragem não quer dizer leitura.

Já alguém se deu ao cuidado de cruzar os dados da imprensa com os do consumo galego de castanhas assadas?! Façam isso e só depois conversamos.

Etiquetas: , , ,

07 junho 2006

#  Sintomático?

Sobre o incumprimento da profecia catastrofista de Nostradamus (que alguns diziam referir-se ao dia de ontem), escreveu Rui Bebiano:

Seis do seis do seis

Absolutamente decepcionante. Afinal parece que não aconteceu nada de particularmente obscuro no «dia da besta». Uma nuvem negra que fosse, uma marca traçada a vermelho-sangue nos muros da cidade, uma mensagem iniludível, cheia de triplos sentidos e de maus prenúncios.

E Pedro Mexia:

O fim do mundo

O 6 do 6 de 6 passou e o mundo não acabou. Aliás, quem como eu já assistiu ao fim do mundo sabe que não é coisa que aconteça duas vezes.

Terá sido a cautela que os levou a esperar pelo 7/6/6 para “postarem” o comentário?


Adenda: Alguns crêem que a data 6/6/6 deve ser considerada segundo o calendário juliano, pois o calendário gregoriano só foi adoptado 16 anos após a morte de Nostradamus. Ou seja, o «dia da besta» será 19 de Agosto*. Que mais não seja por ser dia de descanso (sábado), certamente no pasará nada...

* O calendário juliano vai actualmente 13 dias atrasado em relação ao gregoriano; adicionalmente, o seu primeiro mês é Março, pelo que Agosto é o sexto.

Etiquetas: ,

24 maio 2006

#  A boçal manada

Um post n’ A Origem das Espécies chamou-me a atenção para a notícia sobre um estudo de Rui Bebiano e Elísio Estanque, no âmbito do colóquio internacional “Movimento Estudantil: dilemas e perspectivas”. Sobre a praxe, um inquérito aos alunos de uma das mais importantes universidades portuguesas resultou em números vergonhosamente reveladores:
  • 32,3% concorda com a prática de actos de «violência física ou simbólica»;

  • 28% acham que praxe deve ser obrigatória e não deve respeitar quem não quiser aderir;

  • mais de 80% dizem-se favoráveis à discriminação sexual, recusando qualquer revisão do código da praxe que dê igualdade de direitos a homens e mulheres;

  • só 3% dos alunos defendem que a praxe «deve ser completamente abolida, pois é uma violência».
(Para ajudar ao retrato de conjunto, talvez referir que 18,4% admite que não lê livros. Não se sabe quantos não o admitem.)

Numa outra universidade nacional, o Código de Praxe (da responsabilidade do Conselho de Veteranos — leia-se, boçal manada dos mais comprovados ignorantes e calões) é também revelador: em vez de um instrumento de regulação — de refreio, mesmo! — da praxe, temos um documento pleno de inanidades, com que os “senhores doutores” acharam por bem divertir-se um pouco mais à custa dos caloiros. Só para terem uma ideia, o Capítulo VI («Dos Julgamentos») consagra que «A maior ofensa que um Caloiro pode cometer é ser Caloiro», e o Capítulo XIV («Graves Ofendus») coloca no topo do seu rol de ofensas à Praxe o facto de se «Ser Caloiro». E se está previsto, de facto, um estatuto de Objector à Praxe (cheio de desvantagens e proibições* — é quase um ghetto — para afugentar potenciais interessados), o processo de “obtenção” desse estatuto (que está dependente de «deferimento do pedido») é ele próprio uma praxe feita de requisitos documentais e etapas burocráticas: obrigações impostas a quem, exactamente por ser objector à praxe, não reconhece ao Conselho de Veteranos qualquer autoridade seja no que for...

* Há uns anos, uma versão anterior do Código em causa previa que os Objectores estivessem proibidos, não só de participar na Latada e no Cortejo Académico, como, imagine-se, sequer de assistir a estes eventos (que, como se sabe, se desenrolam na via pública). Na versão actual esta proibição foi retirada.


Adenda (25/05): Elísio Estanque diz no Público de hoje que não é legítima a interpretação dos dados do inquérito (que ainda decorre), tal como ela apareceu no JN de ontem.
Por exemplo, não é verdade que 32,3% tenha manifestado concordância com «violência física ou simbólica»; simplesmente não assinalaram a frase «[a praxe académica] deve repudiar qualquer forma de violência física ou simbólica» como uma das que descreve a sua opinião sobre o assunto.
Genericamente, Elísio Estanque considera que os resultados «apontam, até, para a existência de algum distanciamento crítico dos estudantes em relação à praxe».

Etiquetas: ,

23 maio 2006

#  Comes with the territory

Escrevia ontem Pedro Mexia no seu blogue:
Que João César das Neves seja ultramontano tanto se me dá como se me deu. Acho que até cumpre uma função lúdica. O que chateia é o modo como ele propaga alucinantes ilusões sobre a natureza humana. Nem os marxistas mais beatos e dogmáticos dizem tantas tolices sobre a nossa natureza.

João César das NevesCaro Mexia, o “ludismo” de João César das Neves resulta da forma involuntariamente caricatural, quase de comédia bufa, como ele é ultramontano. O que é indissociável da propagação de «alucinantes ilusões sobre a natureza humana», de ser «beato e dogmático» e de dizer «tolices sobre a nossa natureza»: uma e outra coisa são mais do que o anverso e o reverso da medalha — são causa e efeito. Se o efeito te «chateia», a causa não te pode ser indiferente. Decide-te.

Etiquetas: , , ,

19 maio 2006

#  3.º Encontro de Poesia de Vila do Conde

Vou para lá. Volto domingo.

Etiquetas: , ,

17 maio 2006

#  O problema (deles) é mesmo esse!

Leio n’umblogsobrekleist:
Acho graça àqueles que nos massacram os tímpanos com alusões alvoroçadas à jihad e ao califado, sem serem capazes de indicar um único exemplo de acção militar expansionista de um país muçulmano contra um país dito “ocidental” nas últimas décadas.

Alexandre Andrade tem razão no que diz — e não tem razão no que deixa implícito.

Eu também não consigo «indicar um único exemplo de acção militar expansionista de um país muçulmano contra um país dito “ocidental” nas últimas décadas» (ou, de facto, nos últimos séculos). Mas isso não se deve à ausência de apelos à jihad, à inexistência de uma aspiração ao califado universal, sequer à benignidade ou não-beligerância dos conceitos de “jihad” e “califado”. Deve-se, isso sim, à incapacidade dos países islâmicos de efectivarem militarmente os desígnios expansionistas do Islão*. E essa incapacidade — essa “castração” — explica muita da sanha do mundo muçulmano em relação ao Ocidente (v. O Médio Oriente e o Ocidente: O Que Correu Mal?, de Bernard Lewis).

* Note-se que, se não há expansão dos países muçulmanos, o mesmo não se pode dizer do Islão em sentido lato, que não só cresce demograficamente nos países de maioria muçulmana, como alarga a sua área de influência (por penetração e conversão) aos países exteriores ao “mundo muçulmano”.

Etiquetas: , ,