foto: Bruno Espadana

11 abril 2009

#  «Passei metade da vida a lutar contra os “Maus”. Agora sou um dos “Maus”, e sabem que mais? Até que não é mau...»

No Público de hoje:

Pela primeira vez na história, Brasil passa a credor do FMI

“Chique”, “histórico”, “soberano”. Não faltaram adjectivos ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, para classificar o empréstimo que o país vai conceder ao Fundo Monetário Internacional (FMI). [...] “Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?”, perguntou a um dos jornalistas presentes na conferência de imprensa. “Eu passei parte da minha juventude a carregar faixas contra o FMI no centro de São Paulo e, agora, serei o primeiro Presidente deste país a emprestar dinheiro à mesma estrutura a quem já devemos muito dinheiro”, enfatizou.
No final desta semana, o Governo brasileiro anunciou que vai disponibilizar 3,4 mil milhões de euros ao FMI, com o objectivo de ajudar países emergentes que enfrentam dificuldades de crédito devido à crise internacional. “Agora estamos a entrar no clube de credores do FMI”, frisou o ministro das Fazenda (Finanças), Guido Mantega.
[...]

Brasil viveu “humilhação”

Depois de décadas a receber visitas de representantes do FMI, o Brasil saldou as dívidas com a estrutura em finais de 2005 [...].Até essa altura, sublinhou Lula da Silva antes de seguir para a cimeira do G20 em Londres, o país viveu um “inferno”, uma “humilhação”.
“A gente via descendo do avião, no aeroporto, mulheres e homens do FMI dando palpites sobre o que tínhamos de fazer. Aquilo era uma humilhação. Diziam que tínhamos de fazer ajuste fiscal, contenção de gastos... era um inferno”, afirmou.
[...] “Antes da actual crise financeira global, disse o Presidente, o FMI vivia dando palpites sobre as economias do Brasil e de outros países da América do Sul”, assegurou.

Curioso: agora que está no “Clube dos Ricos”, Lula da Silva não explicou se:
  • Estava errado quando lutava contra o FMI;
  • O FMI tinha razão quando pedia o saneamento das contas brasileiras, e isso ajudou a chegar onde estão hoje;
  • A postura do FMI era mesmo errada e ele, agora que tem voto na matéria, vai lutar por um “FMI de rosto humano”;
  • Qual quê! Agora que é credor, vai levar aos outros a «humilhação» que o Brasil sofreu antes, dando-lhes palpites a toda a hora...

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11 maio 2008

#  Birmânia: Dúvida estatística

Pergunto-me quantas pessoas terá a Junta Militar da Birmânia “despachado” por conta do ciclone...

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29 março 2008

#  Eppur è tutto vero...

19 março 2008

#  Não me lembra nada nem ninguém (7)

«Aprender sem pensar é inútil. Pensar sem aprender é perigoso.»
(Confúcio, Lúnyŭ, ii.15)

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19 novembro 2007

#  It makes sense

No Público online:

Presidente do Irão diz que não vai utilizar petróleo como arma


... daí a pesquisa nuclear.

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13 novembro 2007

#  «¿Por qué no te callas?»

Sobre o instantaneamente famoso «¿Por qué no te callas?» do Rei de Espanha, duas coisas:

Primeiro: Juan Carlos não mandou calar Chávez: perguntou-lhe por que não se calava. Se na intenção vai dar ao mesmo, formalmente é diferente. E, como sabemos, diplomacia e educação vivem muito da forma, se bem que não dispensem (não devam dispensar) o conteúdo e a intenção.

Quanto às extrapolações monárquicas, são duplamente ridículas: não só porque não é preciso ser rei para pôr alguém na ordem, mas até porque a coroa neste caso é um empecilho: leva muitos a sair acriticamente em defesa do “plebeu” (simplesmente por ser “plebeu”, não por ter razão e merecer ser defendido) e suscita o comentário (que Chávez mais tarde faria) de que «Juan Carlos pode ser rei, mas não me cala». Um presidente não teria esse flanco aberto.

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27 outubro 2007

#  Não me lembra nada nem ninguém (4)

Ilustração de Jason Holley
Ilustração de Jason Holley

  • inferior predictive structure (estrutura preditiva inferior)
  • frontal stupidity lobe (lobo frontal da estupidez)
  • CNBC gibberish cortex (córtex da léria da CNBC)
  • corpus credulum
  • neo-bovine herd-mentalitum (mentalitum da manada neo-bovina)
  • logic void (vazio lógico)
  • falsehood persistence node (nodo da persistência na falsidade)
  • arithmetical impossibility rationalization complex (complexo da racionalização das impossibilidades aritméticas)
  • price decline overreaction region (região da reacção exagerada à baixa de preços)
  • guru-bloviation acceptance ganglia (gânglios da aceitação do palavreado do guru)
  • beer (cerveja)
  • inappropriate enthusiasm nucleus (núcleo do entusiasmo inapropriado)
  • historical lesson rejection lobe (lobo da rejeição das lições da história)

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23 abril 2007

#  Assobiar para o lado

Excerto de um comentário do Adam Gopnik, na edição da New Yorker que saiu hoje:

SHOOTINGS

[...] [We] were told that it was not the right moment to ask how the shooting had happened—specifically, why an obviously disturbed student, with a history of mental illness, was able to buy guns whose essential purpose is to kill people—and why it happens over and over again in America. At a press conference, Virginia’s governor, Tim Kaine, said, “People who want to . . . make it their political hobby horse to ride, I’ve got nothing but loathing for them. . . . At this point, what it’s about is comforting family members . . . and helping this community heal. And so to those who want to try to make this into some little crusade, I say take that elsewhere.”
If the facts weren’t so horrible, there might be something touching in the Governor’s deeply American belief that “healing” can take place magically, without the intervening practice called “treating.” The logic is unusual but striking: the aftermath of a terrorist attack is the wrong time to talk about security, the aftermath of a death from lung cancer is the wrong time to talk about smoking and the tobacco industry, and the aftermath of a car crash is the wrong time to talk about seat belts.[...]

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06 março 2007

#  Tortura em horário nobre

A edição de 19 de Fevereiro da New Yorker traz um interessante artigo de Jane Mayer sobre o recurso à tortura na série de televisão “24”. Este artigo vem na sequência de um estudo da organização Human Rights First, que mostra que, não só o número de cenas de tortura tem aumentado (v. imagem aqui ao lado), como efectivamente elas têm um efeito negativo sobre os soldados que as vêem e que tendem a imitá-las: afinal, e ao contrário do que se passava há alguns anos, actualmente a tortura é usada pelos “heróis” das séries, que obtêm desta forma preciosos (porque sempre exactos*) resultados.

É uma coisa que nos deve fazer pensar — isso, e o facto de o pico de cenas de tortura se ter verificado em 2003, ano da invasão do Iraque. (O campo de detenção de Guantánamo foi aberto em 2002, sendo transferidos para lá prisioneiros da guerra do Afeganistão, onde já tinha sido noticiado o recurso à tortura na prisão de Bagram; o escândalo de Abu Ghraib veio a público em 2004.)
Como diriam os Americanos, the hidden agenda is not that hidden...


* Diversos estudos internacionais — e a experiência — apontam para a falta de eficácia da tortura: para além do desejo de martírio (particularmente verdadeiro quando falamos de terrorismo islâmico), que limita em muito a obtenção de informação, verifica-se frequentemente uma falta de fiabilidade desta: para os fazerem parar, os interrogados que cedem dizem, simplesmente, o que os torturadores querem ouvir (o que nem sempre corresponde à verdade)...

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19 fevereiro 2007

#  Grandes mudanças, portanto

O dia de ontem assinalou o Ano Novo Chinês, em que o Cão deu lugar ao Porco.

Segundo a Astrologia Chinesa, o ano do Porco caracteriza-se por guerras, revoluções, desentendimentos e confusões em geral.

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05 setembro 2006

#  As novas 7 Maravilhas do Mundo

As minhas apostas:

Pirâmides de Gizé Petra Estátuas da Ilha da Páscoa Grande Muralha da China
Taj Mahal Estátua da Liberdade Torre Eiffel

Votações online: www.new7wonders.com

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01 setembro 2006

#  Tudo bons rapazes

Um governante também se define pelas companhias que tem e que procura.

Hugo Chávez, presidente da Venezuela, parece querer garantir que não haja ambiguidades quanto a ele: um a um, vai fazendo um fraterno périplo pelos regimes mais repressivos do mundo. Depois de Cuba (7.0*), da Bielorrússia (6.5) e do Irão (6.0), a Síria (7.0).

Quando fizer cinco-em-linha ganha um brinde.


* Este índice refere-se ao grau de liberdade, conforme aferido pela organização Freedom House; varia entre 1.0 (máximo da liberdade) até 7.0 (máximo da repressão).
A Venezuela é considerada parcialmente livre (4.0), mas a situação piorou de 2005 para 2006.

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17 agosto 2006

#  Não me lembra nada nem ninguém (3)

(c) Jack Ziegler / The New Yorker
«Claro, seria uma história totalmente diferente se conseguíssemos extrair petróleo das células estaminais.»

Cartoon de Jack Ziegler / The New Yorker

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07 agosto 2006

#  Escolha o bombardeamento que mais lhe convém

A Reuters retirou da sua base de dados 920 fotografias de um freelancer libanês, depois de se descobrir que pelo menos duas delas tinham sido manipuladas.
(Mais detalhes: aqui, aqui e aqui.)

Fotografia manipulada Fotografia original

Um exemplo é o que apresento aqui. À esquerda, a imagem inicialmente divulgada, claramente manipulada, com “fumo” acrescentado; à direita, a imagem original.

Sugestão a futuros manipuladores: o fumo é mais realisticamente simulado usando algoritmos fractais...

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18 julho 2006

#  Estatística

Entre os post mais ou menos recentes do blogue Arrastão, de Daniel Oliveira, encontro um com o documentário do realizador israelita Avi Mograbi sobre o quotidiano na Palestina.

Ocorre-me a elaboração de uma estatística de algibeira: se contabilizarmos todos os abusos israelitas denunciados por cineastas, jornalistas e organizações de direitos humanos israelitas (vi vários ao longo dos anos), e se compararmos com os abusos palestinianos — muitas vezes sobre o seu próprio povo — denunciados pelos homólogos palestinianos (zero, em igual período de tempo), só podemos concluir uma coisa: que os Israelitas são uns carrascos e os Palestinianos uns santos.

(Ou então que o silêncio é muito eloquente.)

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30 junho 2006

#  Le beurre et l’argent du beurre

Segundo um estudo referido em Free World (Transatlantic Trends, 2003), dos «71% [de europeus] que responderam que queriam que a União Europeia se tornasse uma superpotência, 49% mudavam de opinião se isso implicasse um aumento nas despesas militares». O melhor dos dois mundos. O poder indolor. Ouro sobre azul.

A Europa pode ser o continente mais laico, mas continua-se a acreditar em milagres.

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16 maio 2006

#  Falta de respeito

Dizer, como Hugo Chávez disse ontem em Londres, que George W. Bush é «o maior genocida de todos os tempos» é uma falta de respeito para com todas as vítimas de todos os genocídios de todos os tempos. Dizê-lo com um sorriso nos lábios (curiosamente, um sorrisinho lorpa «à Bush») é duplamente imoral.

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#  «Tal como»

Chávez garante que «o Irão, tal como a Venezuela, quer a paz». Isso deve-nos descansar quanto ao Irão — ou preocupar mais quanto à Venezuela? É que o Irão até pode nem estar a tentar ter um arsenal nuclear, mas dizer que um país que quer «riscar do mapa» um outro «só quer a paz» aproxima-se mais da stand-up comedy* do que do discurso político sério e consequente.

* Talvez, daí, o sorrisinho?...

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04 maio 2006

#  Déjà vu?

Leio no Kontratempos a excelente “HISTÓRIA BREVE DE UM ÍNDIO NA BOLÍVIA”, que termina com esta tirada lapidar:
Contudo, apesar disso, ainda há quem acredite que a culpa é das multinacionais. É a escolha entre a realidade ou o guião.
e penso: Quanto da proposta heráldica da Pedagogia Romântica não seria aproveitável para a anti-globalização, a alter-mundialização e demais romantismos prêt-a-porter dos deserdados da ressaca pós-marxista?...

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20 março 2006

#  As futuras Miss Universo ainda não aprenderam a mentir

Segundo um estudo do Fórum da Criança resumido no suplemento Dia D do Público de hoje, apenas 2% das crianças afirmam que ajudariam os pobres se tivessem muito dinheiro.

Dados empíricos avulsos indicam que, com a idade, a sinceridade passa-lhes.

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