foto: Bruno Espadana

31 outubro 2007

#  Confesso: tenho esqueletos no armário

Gervásio(Em todo o rigor, tenho um: o Gervásio.)

#  Halloween na Espontânea

Cartaz da Festa de Halloween 2007 da Espontânea
Esta noite a Associação Espontânea festeja mais uma noite de Halloween. Uma festa que se promete divertida e que vai contar com a tradicional Queimada, Esconjuro e Gaitadas pel’A Trouxa Mouxa.

A partir das 22h na Espontânea.

Apareçam!!


A frequência das instalações da Espontânea está reservada aos sócios, mas todos podem fazer-se sócios, bastando para isso aparecer, preencher a ficha de inscrição e pagar a quota (1€ mensal; 5,50€ semestral; 10€ anual).

30 outubro 2007

#  Não tem nada a ver com o post anterior...

A citação que se segue não tem nada a ver com o artigo da Helena Matos que reproduzi no post anterior...

Hermitejo

O Pólo do Hermitage na Ajuda é comissariado por Prof. Fernando António Baptista Pereira e pelo Prof. Bernardo Pinto de Almeida.
Foi inaugurado pelo Presidente da República. As fotos mostram, em segundo plano aparente, na direita baixa, o primeiro-ministro, já envolto na adrenalina que o carrasco Tchecheno lhe desperta, e Isabel Pires de Lima, concentrada na alcatifa.
Durante a cerimónia, dois mil convidados faziam fila às portas da Galeria do Rei D. Luís. Eram a élite da nossa intelligentsia, os mesmos do beija-mão a Sampaio, da inauguração do CCB, uma mistura entre descendentes dos solares abandonados das Beiras e os aplicados filhos dos caseiros. É basicamente por eles que eu escrevo este blog.

[Luís, A Natureza do Mal, 29/10/2007]

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#  Coisas que valeu a pena ler hoje

O texto, de Helena Matos, é do Público de ontem, mas eu só o li hoje:

Os pobres são menos inteligentes do que os ricos?

«Em que escola estavas quando foi o 25 de Abril? Em que escola estão os teus filhos?» — À célebre pergunta «Onde é que estavas no 25 de Abril?» é imperioso que se juntem agora estas duas interrogações. Experimente-se por exemplo fazer estas perguntas aos ministros, deputados, autarcas, assessores, artistas, professores... e descobrir-se-á que a maior parte deles frequentou o ensino público mas optou pelo ensino privado na hora de inscrever os seus filhos e netos na escola. Não porque os seus filhos sejam mais ou menos inteligentes mas simplesmente porque têm medo que a falta de exigência os embruteça.
Duvido que algum destes hipotéticos inquiridos o assumisse claramente. Dariam como justificação os horários, os amigos, às vezes até os piolhos mas o que dificilmente diriam é que o fazem porque não acreditam na qualidade do ensino público. Muitos provavelmente serão oficialmente a favor do novo Estatuto do Aluno, tal como foram da afectação de tempos lectivos a ‘coisas’ como a Área de Projecto ou da desautorização dos professores e funcionários. Na prática isso não os afecta porque os seus filhos e os seus netos estão a salvo destes desmandos.
O falhanço do ensino público em Portugal tornou-se uma ratoeira contra os mais pobres: pobreza e o insucesso escolar tornaram-se sinónimos. E assim continuaremos para que ninguém preste contas por aquilo que começou por ser um erro e se está a transformar num crime.
Ao contrário do que se tornou quase banal dizer não foi a massificação do ensino público que comprometeu a sua qualidade. Os responsáveis por aquilo que os rankings cruamente espelham foram aqueles que fizeram da escola pública um espaço experiências sociológicas. Passamos a vida a discutir os programas mas um mau programa ainda é um programa. O pior foi baixar em cada ano lectivo o nível da exigência. Primeiro porque era mais moderno. Depois porque assim não se faziam distinções entre mais e menos inteligentes. Depois porque o objectivo da escola não era ensinar conteúdos mas sim ensinar a relacionar-se. Depois porque já não podia ser doutro modo.
Os filhos dos pobres não são nem mais nem menos inteligentes que os filhos dos ricos. Tiveram sim foi o azar dos seus pais não ganharem o suficiente para os poupar a esse papel de cobaias de teorias que tanto vêem na ignorância o estado supremo da perfeição igualitária como entendem que aprender tem de ser divertido e fácil. Nada disto afecta quem legisla porque os seus filhos não estão nas escolas públicas ou quando estão souberam contornar o crivo das moradas e horários de modo a frequentarem as turmas ditas dos filhos dos professores. Quem não pode fugir das más escolas é quem não tem dinheiro nem conhecimentos.
Alguns como Francisco Louçã querem agora diabolizar os rankings vislumbrando apoios da extrema-direita aos colégios que se encontram nos primeiros lugares. Engana-se redondamente. Quem fez a fortuna recente das escolas de maristas, jesuítas e da Opus Dei, dos colégios franceses, ingleses e modernos sem esquecer as escolas alemãs e americanas foram precisamente aqueles — às vezes de esquerda mas nem sempre — que resolveram que a escola pública não era o local onde todos tinham igual oportunidade de aprender, mas sim o espaço onde a irrelevância medíocre dos resultados provaria que todos podemos ser igualmente ignorantes e irresponsáveis.

Uma amiga minha que é professora do Ensino Secundário já por várias vezes verificou a existência de um cenário similar entre a classe média, mais concretamente entre os mesmíssimos professores seus colegas.
Na escola onde trabalham, defendem com paixão os princípios «modernos» (ou «pós-modernos»?) da «escola inclusiva» virada primordialmente para o desenvolvimento dos «afectos» (e não para a instrução), paraíso da «pedagogia não directiva» (entenda-se: em vez da sistematização do conhecimento, deixem-se os putos à deriva...) — mas na escola onde os filhos andam, defendem com unhas e dentes a aplicação do método tradicional, com muito trabalho, muita exigência e muito rigor: a única via para o sucesso que efectivamente reconhecem (porque a única que disso deu provas). E quando o azar dita que uma e outra escolas sejam a mesma (no interior escasseiam as boas escolas privadas — escasseiam as escolas, ponto final), então não hesitam em contratar um explicador, para que colmate com mais trabalho, mais exigência e mais rigor (mais sistematização do conhecimento) as lacunas que, na sala dos professores, negam existirem... A minha colega sabe-o bem, pois não raro é ela a explicadora que contratam para aplicar à prole os métodos que publicamente, entre os seus pares, proscrevem como antiquados.

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#  Falhar o alvo

Clara França Martins, autora do blogue As Setas, comenta assim o artigo de Nuno Crato a que me referi há dias:
Acho extraordinário o que diz Nuno Crato [NC] sobre o uso da calculadora. Então NC nã sabe que estamos no séc. XXI? Os jovenzinhos começam a utilizar computadores com 3,4 anos! Porque raio deveriam proibi-los de usar calculadoras desde o início do ensino da Matemática? Achará também NC que é necessário aprender a lavar a roupa no tanque (ou talvez no rio...), antes de utilizar a máquina de lavar? Ridículo!

Cara Clara, deve inicialmente proibir-se a máquina de calcular para que haja lugar à prática mental requerida pelos algoritmos de cálculo apropriados. A tónica é em «prática mental». Se as crianças começarem logo pelo uso de máquinas de calcular, nunca desenvolverão muitas capacidades cerebrais que só se desenvolvem quando se “faz o trabalho todo”.
Da mesma maneira, o uso de um processador com corrector ortográfico para escrever logo na fase inicial de aprendizagem de uma língua escrita é pernicioso, pois a “muleta” do corrector não estimula a que aprendamos a ortografia da língua que supostamente estamos a aprender — e que, portanto, aprenderemos pior.

Para sair do âmbito da Educação, uma analogia: se a um bebé que ainda só gatinha o enfiarmos logo num carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado, esse bebé nunca aprenderá a caminhar. Com o tempo, os músculos das suas pernas atrofiarão. O que não importa, claro, visto que tem o tal carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado... até ao dia em que o menino das perninhas atrofiadas se depara com uma escada. Aí não há carrinho que o ajude — mas por essa altura já as pernas estarão incapacitadas para o levarem mais além.

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27 outubro 2007

#  Do baú

Ora aqui está uma boa altura para resgatar do baú uma ideia dos primórdios deste blogue...

“Ciências” da Educação: uma proposta

Urge recuperar em Portugal a heráldica corporativa, mormente a ligada às artes e ofícios. A título de exemplo, desde já proponho a seguinte representação simbólica da Confraria das “Ciências” da Educação:

Proposta de um símbolo para as 'Ciências' da Educação
Descrição:
Cortado, o primeiro de prata, pleno, em chefe; o segundo partido de azul, carregado de um chapéu de mago de prata, e de ouro, carregado de um ouroboros de vermelho. Por timbre, um livro aberto, de prata, com dois ómegas maiúsculos, de negro, inscritos nas suas páginas. Listel branco com o mote “MALGRÉ LA RÉALITÉ”, de negro.

Simbologia:
O chapéu de mago representa a natureza de ciências ocultas das “Ciências” da Educação. O ouroboros, para além de reforçar a anterior simbologia mística, remete para a auto-justificação das teorias, que se alimentam de si mesmas, não se baseando na observação dos factos (vide mote). O chefe, vazio, simboliza os efectivos resultados das práticas pedagógicas defendidas. O duplo ómega do timbre afirma a Pedagogia romântica como um fim em si mesmo.

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#  Coisas que valeu a pena ler hoje

Opinião de Nuno Crato na Actual (Expresso):

O eduquês envergonhado

[...] Esperariam pais e professores que o novo documento resolvesse as incoerências entre o «Programa» [de Matemática do Ensino Básico] de 1991 e o «Currículo [Nacional do Ensino Básico — Competências Essenciais]» de 2001 e que traçasse objectivos claros, ano a ano, com rigor, objectividade e alguma exigência
Engano. O nosso Ministério da Educação tem dito que quer cortar com o passado. Transmite uma imagem de rigor e até de intransigência. Seria bom que cortasse também com o passado nas orientações pedagógicas que a experiência mostrou serem erróneas. A reformulação do programa é pouco clara nos objectivos e conteúdos, mas insiste na má orientação pedagógica da Matemática e em muitos dos erros das últimas décadas.
[...] O reconhecimento público quase generalizado de que as coisas não vão bem no ensino, em particular no da Matemática, não tem abrandado o dogmatismo daqueles teóricos da pedagogia que de há anos a esta parte negam a evidência dos resultados e se esforçam por propagar a «escola inclusiva», as «competências gerais», a «pedagogia não directiva» e o «ensino centrado no aluno». Mas tem obrigado a um maior comedimento nas palavras. Os dislates discursivos que ficaram conhecidos como «eduquês» abrandaram. O sestro não.

Nuno Crato fornece um exemplo bem denunciador deste cuidado no disfarce da retórica eduquesa: face à polémica em volta do conceito das «competências» (que para os apóstolos do eduquês são incompatíveis com coisas tão maléficas como os «conteúdos» programáticos, a «abstracção» e o «conhecimento» em geral...), a palavra está totalmente ausente do novo documento que o Ministério da Educação tem em preparação; o anátema foi ao ponto de, ao referi-lo, se truncar o nome do «Currículo» de 2001! Os retocadores de fotografias de Estaline não fariam melhor...

Infelizmente, é mesmo só de mudança retórica que se trata: na sua essência, o eduquês está lá todo. Por exemplo, ao mesmo tempo que despreza ferramentas matemáticas simples e de eficácia secularmente comprovada (como sejam os algoritmos da divisão e da multiplicação), o novo documento recomenda que os alunos — desprovidos das ferramentas básicas! — realizem «investigação matemática», pois obviamente serão capazes de, dotados apenas das capacidades inatas que a Natureza lhes deu, «fazer Matemática de modo autónomo», nomeadamente «formular e investigar conjecturas matemáticas».

Para quem não sabe (e os pedagogos românticos parecem não saber), em Matemática, «formular e investigar uma conjectura» não é “mandar uns bitaites”: uma conjectura matemática é algo de muito concreto — uma afirmação que parece provável que seja verdadeira (não é conhecido nenhum contra-exemplo, nem parece provável que exista), mas cuja veracidade não foi formalmente demonstrada segundo as regras da lógica matemática; assim que se prova formalmente que uma conjectura é verdadeira, ela é elevada ao estatuto de teorema, podendo ser usada daí em diante com segurança na construção de outras demonstrações matemáticas formais.
Algumas conjecturas demoraram séculos a serem provadas verdadeiras ou falsas; muitas esperam ainda uma prova formal; de algumas provou-se entretanto ser impossível decidir se são verdadeiras ou falsas...

E ainda há quem diga que o eduquês não almeja a excelência do ensino!


P.S. O artigo de Nuno Crato está integralmente reproduzido no Portugal dos Pequeninos.

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#  Não me lembra nada nem ninguém (4)

Ilustração de Jason Holley
Ilustração de Jason Holley

  • inferior predictive structure (estrutura preditiva inferior)
  • frontal stupidity lobe (lobo frontal da estupidez)
  • CNBC gibberish cortex (córtex da léria da CNBC)
  • corpus credulum
  • neo-bovine herd-mentalitum (mentalitum da manada neo-bovina)
  • logic void (vazio lógico)
  • falsehood persistence node (nodo da persistência na falsidade)
  • arithmetical impossibility rationalization complex (complexo da racionalização das impossibilidades aritméticas)
  • price decline overreaction region (região da reacção exagerada à baixa de preços)
  • guru-bloviation acceptance ganglia (gânglios da aceitação do palavreado do guru)
  • beer (cerveja)
  • inappropriate enthusiasm nucleus (núcleo do entusiasmo inapropriado)
  • historical lesson rejection lobe (lobo da rejeição das lições da história)

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18 outubro 2007

#  Stephen Colbert a Presidente dos EUA

Stephen Colbert (com Abraham Lincoln e George Washington em pano de fundo)Stephen Colbert, apresentador do The Colbert Report (programa satírico do canal por cabo Comedy Central), anunciou a sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos.

O anúncio pode ser interpretado como um golpe publicitário destinado a promover o seu programa, que não completou o “desmame” do The Daily Show (programa de notícias fictícias onde Colbert começou como “correspondente”), ou como uma mera brincadeira ao jeito vocalista dos Enapá 2000, mas o impacto desta personagem caricatural (o opinion maker neoconservador e egocêntrico, estilo Bill O’Reilly e o The O’Reilly Factor) não pode ser descurado.

Colbert Report
Stephen Colbert é o criador de diversos neologismos. O primeiro e mais famoso foi «truthiness»: diferente de «truth» (verdade, veracidade), poderíamos traduzi-la como «verdadacidade», correspondendo à «qualidade segundo a qual alguém reclama saber algo emocional ou instintivamente, independentemente das provas ou da reflexão crítica» (nesse sentido, a existência de armas de destruição em massa no Iraque e de ligações do regime de Saddam à Al Qaeda eram duas «verdadacidades»...). Este neologismo foi rapidamente adoptado pela American Dialect Society (que o redefiniu ligeiramente), sendo mais tarde eleita de forma esmagadora como a «Palavra do Ano 2006» (votação online organizada pela editora do prestigiado dicionário Merriam-Webster).

Mas esta não seria a sua única vitória numa votação online: quando em 2006 o governo húngaro optou por tal sistema para a escolha do nome a dar à nova e monumental ponte sobre o Danúbio, Stephen Colbert exortou os seus espectadores a votarem nele. O resultado: em duas semanas Colbert teria 17.231.724 votos, sagrando-se vencedor. (Obviamente, o governo húngaro, ainda que reconhecendo a vitória do apresentador americano, apressou-se a alterar as regras — ou a especificá-las —, e a ponte receberia um nome digno da sua “hungaricidade”.)

Mas chega de conversa. Aqui vai o vídeo em que Colbert, convidado especial no The Daily Show, fez o «anúncio oficial de que decidiu considerar oficialmente se irá ou não anunciar que irá candidatar-se a Presidente dos Estados Unidos»:



Um quarto de hora depois, o anúncio oficial no seu próprio programa:

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16 outubro 2007

#  Educação: leituras para uma reflexão

Capa de 'A Lógica dos Burros: O lado negro das políticas educativas', de Gabriel Mithá RibeiroAcaba de sair com a estampa da Europa-América o livro A Lógica dos Burros: O lado negro das políticas educativas, colectânea de textos que Gabriel Mithá Ribeiro vem publicando nos anos mais recentes na imprensa portuguesa (Público, Jornal de Letras, Pontos nos ii, Atlântico, O Independente) e blogues (Abrupto), e incluindo também alguns inéditos.

Para quem não sabe, Gabriel Mithá Ribeiro é o autor de A Pedagogia da Avestruz (Gradiva, 2003), outro livro sobre o estado da Educação em Portugal e um testemunho pessoal de um professor apanhado nas malhas do “pedagoguês”.


Capa de 'Eduquês: Um Flagelo Sem fronteiras - O caso Lafforgue'Um pouco antes saiu (mas só agora comprei) Eduquês: Um Flagelo Sem fronteiras — O caso Lafforgue. Trata-se de um livrinho organizado e traduzido por Filipe Oliveira e editado pela Gradiva em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Matemática, reunindo o e-mail que Lafforgue enviou ao Presidente do francês Alto Conselho para a Educação (e cuja divulgação desencadeou o escândalo referido no subtítulo — Jorge Buescu dedicou-lhe um capítulo no seu último livro) e um texto mais longo, escrito por Lafforgue em co-autoria com mais seis matemáticos e físicos franceses, sobre «Os conhecimentos fundamentais ao serviço do futuro científico e técnico [e] como os reensinar».

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15 outubro 2007

#  A continuada crise do Millennium BCP (1)

Campanha 'Vira a tua vida de pernas para o ar'
Pela primeira vez, um banco faz uma campanha publicitária com inspiração autobiográfica...

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#  A continuada crise do Millennium BCP (2)

Promoção 'Prestações até 50% mais baixas'
(E se souber a quem pedir, prestações até 100% mais baixas...)

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12 outubro 2007

#  Espalhei a infância pelo peito

Embalagem de Vicks VapoRub

10 outubro 2007

#  O Meta-Presidente

Nestes dias em que uma gripe me prende em casa — uma casa sem televisão nem rádio —, a internet tem sido a minha salvação nas horas de maior tédio em que (felizes horas de tédio!) as noites mal dormidas e a natural prostração não pesam suficientemente sobre os olhos para os manterem fechados. Nessas alturas jogo pelo seguro e visito o site do The Daily Show with Jon Stewart.

Este programa (transmitido com muito atraso e algo erraticamente pela SIC Radical) é a mais completa versão moderna do preceito Ridendo castigat mores. E é também, como o latino preceito prevê, do mais inteligente que se faz na televisão actual.

Do muito que poderia usar como exemplo ilustrativo (isto é, quase tudo), não resisto a mostrar aqui um trecho recente em que o Jon comenta a tendência de George W. Bush para fazer de narrador de si mesmo:



Para quem não pode ver o vídeo anterior, transcrevo aqui o fundamental do que Jon Stewart diz (mas nada substitui ver o excerto inteiro):
[...] Foi uma clássica manobra à Presidente Bush: transmitir confiança às pessoas informando-as de que está ali para lhes transmitir confiança. É o que este homem faz constantemente: pega no subtexto de um discurso e torna-o o texto. [...] É que enquanto alguns líderes são homens de palavras, outros são homens de acção; o Presidente Bush é um homem que usa palavras para descrever acções. [...] Não entendo! Quando ele discursa, é como se estivesse a ler as didascálias! [...] O Presidente não está ali para agir — a razão por que o Presidente está ali é, pelos vistos, dizer-nos a razão por que está ali! [...] Ele é o nosso primeiro Meta-Presidente! Aparece e passa o dia a descrever as coisas que deveria estar a fazer. [...]


Este vídeo trouxe-me à lembrança um outro, mais antigo, em que Jon Stewart analisa um recurso de retórica que o Presidente americano usa recorrentemente: repetir «por outras palavras» (por vezes, não tão outras assim) aquilo que acabou de dizer; ou, como dizem os criadores do The Daily Show, «o esforço de uma mente iluminada para tornar as complexidades dos pensamentos mais elevados acessíveis às massas»:

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#  Paradigmático

O Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação apresenta-nos um quadro sinóptico onde compara dois paradigmas de Escola: o da Era Industrial e o do Século XXI.

Para além de um certo enviesamento e exagero na caracterização da “Escola da Era Industrial” — to make a point —, chegando ao ponto de afirmar que nesse paradigma os «conteúdos do curricula [são] determinados pelo professor» (em que país?...), o quadro inclui muito do bricabraque a que o “eduquês” nos habituou: no paradigma do século XXI, os «conteúdos e resultados a atingir [são] negociados entre professores e alunos» e o «curriculum [é] determinado pelo contexto com o qual se relaciona»... (Nuno Crato mostrou-nos em O “Eduquês” em Discurso Directo até que ponto esta obsessão com o «contexto» pode chegar...)

Mas o mais revelador no referido quadro sinóptico (uma forma muito pouco “à Século XXI” de sistematização “não negociada” do conhecimento...) é o que não está lá: o conceito de ensino, o acto de ensinar, palavras que não surgem uma única vez no novo (e, entende-se, desejável) paradigma. Na Escola do Século XXI ninguém ensina: falta-nos, por isso, também uma definição de professor (mais que não seja, para que saibamos distingui-lo dos «técnicos de educação e outros especialistas» ou, simplesmente, da comunidade circundante).

Este desaparecimento do ensino do nosso paradigma educativo não é de admirar: é, isso sim, não mais do que a terceira etapa da progressão que começou com o ímpio conceito industrial de “ensino” e evoluiu para o (agora ultrapassado) sincretismo educativo corporizado no binómio “ensino/aprendizagem”, chegando ao estado actual do paradigma. A ascensão rumo ao nirvana educativo, está bom de ver, não pára aqui:

ensino  ->  ensino/aprendizagem  ->  /aprendizagem  ->  /

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03 outubro 2007

#  «Se esta rua fosse minha...» (programa)

A pedido de várias famílias:

Programa do Festival 'Se esta rua fosse minha'
Site do Festival «Se esta tua fosse minha...» | Site do Plano B

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01 outubro 2007

#  Tentativa de fraude no Gmail

Acabei de receber um e-mail supostamente enviado pelo Gmail aos seus utilizadores. Não consegui confirmar a suspeita junto do Gmail, mas é certamente uma fraude!

A mensagem é a seguinte:
De: Suporte Gmail
Assunto: Ferramenta de uso obrigatório, regularize-se

Texto da mensagem:
Política de Privacidade do Gmail

admin@gmail.com
  • 02 de Outubro de 2007

  • Atenção: Será Obrigatório a instalação de uma ferramenta antes de entrar no seu e-mail ou Orkut.
  • Porque eu devo instalar? Esta Ferramenta irá ajudar a combater todos os vírus encontrados no seu e-mail, ou até mesmo, os "Spam" indesejados que acabam atrapalhando o andamento da sua caixa de entrada.
    Se você tem dúvidas da eficácia desta ferramenta, o Gmail irá te mostrar porque você devera instalar Clique Aqui, Para preservar a qualidade e credibilidade do Google Gmail, o uso do Gmail está sujeito a tais regulamentos. Se for constatado que você violou nossos regulamentos a qualquer momento, conforme determinação do Google ao nosso exclusivo critério, poderemos adverti-lo, ou suspender ou rescindir sua conta.
  • (OBS: a partir do dia 10/10/2007 quem não adquirir esta ferramenta, o e-mail será cancelado, temporariamente, até que a ferramenta seja instalada)

Segue-se uma pequena tabela onde figura um link para fazer o download (“Baixar”) um suposto «Scan de Vírus mal-intencionado» chamado «Google-Scan».

ESTE PROGRAMA É CERTAMENTE UM PROGRAMA DESTINADO A CAPTURAR A NOSSA INFORMAÇÃO BANCÁRIA E RESPECTIVAS PASSWORDS!!!

Os autores da fraude terminam o e-mail com um excerto dos Regulamentos do Gmail, datado de 28 de Junho de 2007. O texto é autêntico, mas nada tem a ver com a necessidade de instalar o suporto anti-vírus: o texto é citado apenas para dar mais credibilidade à fraude, aumentando assim as hipóteses de que alguém caia neste esquema.


Indícios de que este e-mail é uma fraude:
  1. Na página de entrada do Gmail (e nos documentos sobre os Termos de Uso e a Política de Privacidade) não consta nada sobre este «Google-Scan»;
  2. A palavra «Aqui» não está linkada para a Gmail (como seria natural), mas para um servidor croata (domínio de topo: hr);
    (Neste meu post o URL de destino é omitido, para não ajudar os autores da fraude...)
  3. O ficheiro de instalação do suposto anti-vírus está alojado, não nos servidores do Gmail ou do Google, mas num servidor ucraniano (domínio de topo: ua);
  4. Se virmos os detalhes do e-mail (estão geralmente escondidos, mas podemos vê-los clicando no link situado junto à data/hora do e-mail), poderemos constatar que o servidor que enviou o e-mail não é do Gmail: «mailed-by: vortax3.tempdomainname.com».

Reproduzo aqui a imagem do e-mail (clique para ampliar):

E-mail fraudulento