foto: Bruno Espadana

25 julho 2007

#  Imagem de Portugal em Espanha

Segundo o Público, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) quer mudar a imagem de Portugal em Espanha. Nas palavras de Fernando Faria de Oliveira, responsável pela presença da CGD em terras de nuestros hermanos (isto é, o Banco Caixa Geral),
Há um défice de imagem de Portugal em Espanha, que deve ser colmatado para poder transmitir em Espanha a realidade portuguesa e demonstrar que somos mais do que se pensa em Espanha que somos.

O objectivo final é fazer crescer a quota de mercado do BCG. A estratégia para tal passa por informar os espanhóis que a casa-mãe do BCG, a CGD, é o terceiro maior banco ibérico.

Passa, também (aparentemente), por convencê-los de que o banco português em Espanha é uma vacina contra a tuberculose.

Vacina BCG

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#  Qual Green Card, qual quê! (20)

A New Yorker iniciou em 2005 um concurso de legendagem de cartoons: em cada número um dos cartoonistas da revista cria uma imagem (geralmente absurda) sem qualquer texto, devendo os leitores fornecer a legenda apropriada. As três melhores legendas são postas à votação e o vencedor é premiado com uma gravura do cartoon, devidamente assinada pelo artista, onde consta a sua legenda.
O senão de tudo isto é que se tem de ser residente nos EUA para poder concorrer. Não conformado com isso, apresento aqui a minha sugestão para o cartoon n.º 107:


(c) P. C. Vey / The New Yorker
«In the end, it all adds up to a six-pack.»

Desenho de P. C. Vey /The New Yorker

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19 julho 2007

#  Curiosos e diletantes

Voltando a Histórias da Luz e das Cores, lá encontro alguns exemplos de livros de divulgação científica dos séculos XVIII e XIX. Não resisto a reproduzir os deliciosos frontispícios de dois deles (um da década de 1750, o outro de 1787), ambos de autores portugueses:


RECREASAÕ
FILOZOFICA,
OU
DIÁLOGO
Sobre a Filozofia Natural para instruc-
saõ de pesoa curiozas , que naõ
frequentáraõ as aulas.

PELO
P. TEODORO D’ALMEIDA
da Congregasaõ do Oratorio de S. Fi-
lipe Neri.

Terceira impresaõ acrescentada , e emendada em
muitos lugares por seu Autor.






TRATADO
DAS
CORES

QUE CONSTA DE TRES PARTES
ANALYTICA, SYNTHETICA,
HERMENEUTICA:


OFFERECIDO

Aos Amadores das Sciencias Naturaes, e a os
Dilectantes, e Artistas, que começaõ
a occupar-se em todo o genero
de Trabalho Colorido


POR

DIOGO DE CARVALHO E SAMPAYO,
CAVALEIRO DA ORDEM DE MALTA.

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17 julho 2007

#  A ignorância que mais nos convém

pintura de Hieronymus Bosch (detalhe)Um post da semana passada publicado no De Rerum Natura fez-me desenterrar o livro Histórias da Luz e das Cores, de Luís Miguel Bernardo (Editora da Universidade do Porto, 2005), que há mais de ano e meio luta por atenção na base de uma pilha que entretanto se formou, qual sucessão de estratos geológicos. Ainda não é desta que lhe dedico a atenção merecida (o primeiro volume consta de 700 páginas, e as prioridades são outras), mas não resisti a dar uma vista de olhos mais profunda do que aquela que ditou a sua compra.

A certa altura, deparo-me com a história de um certo N. F. Villette, que nos sécs. XVII-XVIII foi construtor de «espelhos ardentes», com os quais concentrava os raios solares, incendiando madeira e abrindo buracos em chapas metálicas. Conta-nos o autor:
Este espelho esteve em risco de ser destruído e o seu construtor maltratado pelo povo de Liège, instigado pela superstição e ignorância.

Luís Miguel Bernardo transcreve então o relato que em 1837 Julia de Fontenelle fez dos acontecimentos:
Em 1713, em quanto o espelho de M. Villette estava em Liege, o outomno foi muito chuvoso, o que fez levantar o preço do paõ. A malquerença publicou que aquellas chuvas continuas e aquella carestia de paõ eram devidas a este maldito espelho: Formou-se um grande ajuntamento tumultuoso que se dirigio a caza de Villette para o maltratar e quebrar o seu espelho ardente. Felizmente a cidade de Liege era governada por um prelado esclarecido. [...]

O relato de Julia de Fontenelle continua com a transcrição da carta pastoral de Joseph Clement, bispo e príncipe de Liège (etc.), enviada aos curas e padres da sua jurisdição:
[...] Tendo-se-nos muito respeitosamente representado que se tinha espalhado um motim, na nossa cidade de Liege, que o chamado N. F. Villette, residente ha 15 ou 18 annos nesta cidade, attrahia com o seu espelho as chuvas com que o nosso paiz e os lugares circumvisinhos saõ castigados dos seus peccados, achamo-nos obrigados, pelo cuidado que devemos ter no nosso rebanho, a declarar, como fazemos por meio d’esta, que é um erro semeado pelos ignorantes ou mal intencionados, ou mesmo pelo espirito de malicia, que, affastando o nosso povo da ideia e da segurança de que é pelos seus peccados que elle é castigado, lhe faz attribuir a um espelho o castigo de Deos. Eis porque declaramos que este espelho naõ produz nem pode produzir senaõ effeitos naturaes e muito curiosos, e que, julgar que elle attrahe ou produz as chuvas, e attribuir-lhe assim o poder d’abrir ou fechar o Ceo, o que naõ pertence senaõ a Deos, seria uma reprehensivel superstiçaõ.
Ordenamos aos nossos curas e pregadores da nossa doutrina, a quem este erro possa ter enganado, de dispersuadir o povo de tal erro.

E Luís Miguel Bernardo conclui:
A Villette e ao seu espelho ardente valeu o bom senso do bispo Clement.

Não sei se será intencional, mas o autor de Histórias da Luz e das Cores parece mais cauteloso na escolha das palavras do que a autora do século XIX, que brinda o bispo de Liège com o epíteto de «prelado esclarecido». Wishful thinking: conforme se conclui das palavras de Clement, ao prelado não o movia a luta contra a ignorância e a superstição, mas a defesa da ignorância que mais lhe convinha.

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16 julho 2007

#  Qual Green Card, qual quê! (19)

A New Yorker iniciou em 2005 um concurso de legendagem de cartoons: em cada número um dos cartoonistas da revista cria uma imagem (geralmente absurda) sem qualquer texto, devendo os leitores fornecer a legenda apropriada. As três melhores legendas são postas à votação e o vencedor é premiado com uma gravura do cartoon, devidamente assinada pelo artista, onde consta a sua legenda.
O senão de tudo isto é que se tem de ser residente nos EUA para poder concorrer. Não conformado com isso, apresento aqui a minha sugestão para o cartoon n.º 106:


(c) Gahan Wilson / The New Yorker
«Undoubtedly, a great evolution since your last report...»

Desenho de Gahan Wilson /The New Yorker

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13 julho 2007

#  Proximidade (conto)

Whatever happened to pillow fights?
Whatever happened to jeans so tight, Friday nights?
Whatever happened to Lover’s Lane?
Whatever happened to passion games,
Sunday walks in the pouring rain?
(Derek “Fish” Dick, Punch & Judy)


Foi um processo indefinido, de etapas sucessivas com limites difusos, um acumular de datas das quais poderíamos com alguma honestidade dizer ter sido, cada uma individualmente, a «data fundamental», o «evento-charneira» — e mesmo assim estarmos a mentir, ou a simplificar, ou enganados, ou talvez não, ou não sabermos. Foi um processo em dégradé, digamos assim — metáfora pictórica, ou cruel e literal descrição de uma detectável tendência do estado das coisas (qual das duas, também não sabemos).

Fiquemo-nos pelo que é certo. Pela cronologia sem referências cronológicas (porque incertas e discutíveis), mero encadear de acontecimentos.

A imperiosidade da proximidade física. Não há distância geográfica que a vida imponha que não seja ultrapassável, não há tempo tão curto que não justifique a deslocação e a canseira (que, de resto, não existe). Hoje vai ele ao Algarve, no fim-de-semana seguinte sobe ela ao Minho; se um feriado calha a meio da semana, dividem o esforço e encontram-se em Lisboa, em Coimbra ou em Óbidos (para variar, pela mais-valia romântica). Com o desespero dos náufragos, contam os dias, as horas, os minutos até poderem estar de novo juntos, sentirem a pele um do outro, encherem os olhos com a visão um do outro, os pulmões com o cheiro mútuo, a língua com o paladar. Porque a vida, de facto, resume-se a isto: à vastidão desolada de um oceano pontuado por esquivos atóis — breves mas intensas horas de proximidade, espaçadas no vazio de uma espera a que só a linha imaginária que lhes liga os telemóveis traz um esboço de alívio.

A factualidade da proximidade física. Ser, não apenas estar. Juntos, finalmente. Sem distâncias nem canseiras (que, afinal, vendo bem e retrospectivamente, sempre existiam). O tempo rende, dá para tudo, até para uma escapadinha ocasional a um hôtel de charme, a Óbidos, Marvão ou outro sítio romântico de boa memória ou que faltou visitar nesses tempos idos das canseiras indetectadas. A proximidade física constante traz a sintonia: vêem o mesmo, falam do mesmo, comentam as mesmas coisas, completam as frases um do outro, têm tiradas em uníssono; não lêem o mesmo, mas é como se o fizessem (partilham as leituras no quase-continuum espácio-temporal que constitui a sua vida a dois). Pensam o mesmo. Os seus conhecidos dividem-se entre aqueles que se irritam com o «papel químico» que de um gerou o outro (dividindo-se estes, por sua vez, na opinião quanto ao lado que cada um dos dois ocupa face ao papel químico) e aqueles que os admiram e invejam: ele e ela são, dir-se-ia, almas gémeas.

A rotina da proximidade física. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo. Mecanicamente, à hora marcada, gira uma mó sobre a outra. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo. Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma mó sobre a outra. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo. Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma mó sobre a outra, sempre às voltas. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo (nem sempre a mesma, que a tanto não chega a rotina). Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma mó sobre a outra, sempre às voltas, percurso sem destino, trabalho de Sísifo. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo... («Ainda aí estás?») E enquanto moem o grão, moem-se as mós uma à outra.

A fuga à proximidade física. Gira uma mó sobre a outra: a rotina, de diária passa a semanal, depois a mensal, depois nem isso — porque já não tem de ser. Porque convém que não seja: os horários de um e de outro são mutuamente incompatíveis (por inflexível decisão superior, como é óbvio), as imperativas deslocações de cariz profissional sucedem-se (uma canseira, é o que é: esta antecipadamente anunciada, não fosse passar despercebida). E o telemóvel — outrora inestimável, ainda que mísero, substituto da proximidade impossível —, de bússola ou radar que os conduzia um ao outro no tempo das canseiras indetectadas, passou a Estado-tampão, a intermediário cuja única virtude é precisamente essa: ficar no meio, possibilitar que entre um e outro haja a distância. «Cheguei», depois «Vou sair», depois «Não vou jantar», depois «Não me esperes acordado», depois «Não contes comigo esta noite», depois «Só vou conseguir voltar no domingo». Cada vez mais palavras, cada vez dizem menos um ao outro. Há coisas assim. Até que as palavras, também elas, cessam: porque para nada dizer, nada é preciso. Simples, não? De Castor e Pólux, de Aquiles e Pátroclo a Jacob e Esaú numa mão-cheia de anos apenas. (Outros Castores, outros Pátroclos?) Não coabitam: são co-proprietários de um apartamento em regime de time-sharing. Há coisas assim.

A irrelevância da proximidade física. Já não há por que fugir: à força de se evitarem, o Estado-tampão instalou-se-lhes no espírito. Vivem na mesma casa, mas levam existências paralelas, ignorando-se mutuamente sem que para tal seja necessário um esforço, qualquer planeamento ou decisão consciente. É apenas assim. Do time-sharing ao room-sharing, com toda a naturalidade dividindo uma cama sem contudo a partilharem (o que mostra bem a limitação semântica dos estrangeirismos anteriores). O metro e sessenta de lençol entre eles multiplicou-se por mil: mais inóspito e desabitado do que a milha de terra-de-ninguém entre dois Estados vizinhos que assinaram um armistício. A paz podre das costas voltadas, o deserto sem o fascínio do deserto, o cordão sanitário de uma quarentena sine die.

A inexistência da proximidade. Simplifiquemos: a distância. Quem é este? Quem é esta? A pergunta não é feita, sequer pensada, mas é uma maneira de sintetizar um resultado previsível: vivendo como dois estranhos, acabam por efectivamente tornar-se estranhos (e a pergunta, se chegasse a ser feita, não encerraria curiosidade, mas algo entre o espanto e o enfado). Cruzam-se no corredor (ou foi na rua?), encontram-se na sala (ou foi numa praça?), e nada têm a dizer um ao outro; tal como é natural não termos muito a dizer aos milhares de estranhos que connosco se cruzam nas praças, ruas e avenidas, no metro ou no supermercado. Segue cada um a sua vida. E, nos fugazes momentos de contacto entre essas duas vidas independentes — ela que mecanicamente lhe segura a porta ou lhe aponta o telemóvel esquecido a um canto, ele que com igual automatismo a acode numa emergência —, a outra parte responde com a delicadeza (quando não com a surpresa) devida a um transeunte mais solícito que nos ampara após uma queda ou que inesperadamente se oferece para nos ajudar a transportar algo pesado: «Obrigada! Obrigada! Muito obrigada!» «Obrigado! Obrigado! Muito obrigado!» Ou, reverso da medalha — quando o comentário de um deles corta como uma faca afiada o silêncio e invade o espaço sagrado do outro —, com a rispidez reservada aos intrometidos: «Perguntei-te alguma coisa?!...» Depois é como se nada fosse: mais um episódio para o oblívio da (in)civilidade. (As ruas — ou serão as salas e os corredores? — estão cheias de estranhos vagamente simpáticos, ou desprezível mas irrelevantemente metediços, que não temos interesse em conhecer.) Segue cada um a sua vida.


Um dia, um e-mail. Graças a um servidor existente algures na Califórnia, e tendo passado (qual boomerang) por routers em Londres e Lisboa, a mensagem chegou-lhe ao portátil com que trabalhava no quarto — vinda de um outro portátil, pousado sobre umas pernas recostadas na chaise longue da sala situada no outro extremo da casa, ao fundo do corredor.

Dizia apenas: «Há muito tempo que não escreves nada no teu blog. Sinto falta.»

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12 julho 2007

#  Vantagens de ficar calado

Nas duas primeiras semanas de Julho, apesar de não ter escrito nada aqui — ou exactamente por isso —, o número de visitas ao “Não tenho vida para isto” registou um súbito incremento.

Ontem e hoje quebrei o ciclo bonançoso. Podem começar a debandar!

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#  It makes sense

Desvios de dinheiro na PJ também aconteceram na secção de roubo

(Título no Público online de hoje)

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11 julho 2007

#  PayPalhaços

Quando tiver tempo e disposição, explico.

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