foto: Bruno Espadana

06 janeiro 2009

#  Uma forma surreal de acabar o ano

Noite de 31 de Dezembro. Subo a pé a Avenida Carvalho Araújo em direcção a uma festa de passagem de ano. Então, mal crendo no que vejo, deparo-me com um cenário inusitado: aos pés da estátua do herói da Primeira Guerra Mundial que dá nome à avenida, sob a chuva miudinha que cai há já algumas horas, está... um quadro!

Reconheço imediatamente a obra: é uma impressão sobre tela de dimensões apreciáveis, que há pouco mais de um mês integrou uma exposição no Teatro de Vila Real. O autor, Victor K, é um artista digital que conheço há bastantes anos (andámos ao mesmo tempo na universidade) e com quem falo de circunstância, mas sem uma familiaridade especial.

Especado frente à estátua a Carvalho Araújo e à “Língua” de Victor K, tento avaliar a situação: o que faz ali um quadro, abandonado à chuva? quem o pôs lá, e porquê ou para quê? o que devo fazer? Olho em volta, à procura talvez de quem deixou a tela ali: ninguém, a rua está deserta, como é habitual no centro da cidade a esta hora.

A chuva que continua a cair certinha acaba-me com as dúvidas: se continuar ali, a estrutura de madeira poderá inchar, deformando a tela, para não falar na própria impressão, que não sei se foi pensada para resistir a estas condições. O melhor a fazer é guardar o quadro (a minha casa fica perto) e mais tarde contactar o autor. Faço isso (depois de registar fotograficamente o insólito) e retomo o caminho para a festa.

Algumas horas depois, quis o destino que o Victor K decidisse passar pela mesma festa.
— Victor! — exclamo . — Não imaginas a cena surreal que se passou esta noite: encontrei um quadro teu na rua, à chuva! Assim, ali, na rua, à chuva! Achei melhor levá-lo para casa...
O Victor sorriu e deu-me uma palmadinha no ombro:
— É teu. Fui eu que o deixei lá para quem quer que o encontrasse...

O quadro aos pés da estátua a Carvalho Araújo O quadro em detalhe

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26 setembro 2007

#  Duplamente desconcertante

'War', de Paula RegoPaula Rego é dos poucos artistas cujas entrevistas verdadeiramente me interessam: o seu discuso não fica aquém da sua arte (mérito do discurso, não desmérito da arte). Nos outros, com sorte, interessa a arte — em Paula Rego até as palavras são desconcertantes!

O exemplo mais recente (de ontem) é o da reportagem de Alexandra Lucas Coelho na inauguração da retrospectiva de Paula Coelho no “Reina Sofía” de Madrid. Mas ainda recordo com humor a cara do comissário da exposição do CCB em 1997 (Alexandre Melo) a cada resposta da pintora...

De “The Pillowman” (peça que teve recentemente uma fenomenal encenação de Tiago Guedes), disse a pintora que transformou a sua vida (um elogio não despiciendo, vindo de alguém com a idade, o percurso e o universo temático de Paula Rego, referindo-se a um dramaturgo — Martin McDonagh — nascido em 1970). Nas palavras de Paula Rego: «Vi aquela peça e pensei: “Como é que há pessoas que sabem isto?”»

(Interessante: quando vi a peça no TNSJ pensei: «Como é que ele se lembra destas coisas?!» — mas Paula Rego viu melhor: McDonagh não inventa aquilo, ele sabe que aquilo existe!)

A pintora dedicou-lhe um tríptico:

'The Pillowman' (tríptico), de Paula Rego(Há mais informação sobre esta obra — e a peça que a motivou — na reportagem do Público e no site da Tate.)


Agustina Bessa-Luís, Paula Rego e Martin McDonagh: ora aí está uma mesa-redonda para nos deixar de olhos arregalados!

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26 janeiro 2007

#  Eles têm o “Zézinho” — nós temos a Paula Rêgo

Série “Untitled”, porque há quem queira que o aborto permaneça no não-dito:

Paula Rêgo: 'Untitled #1' Paula Rêgo: 'Untitled #2' Paula Rêgo: 'Untitled #3' Paula Rêgo: 'Untitled #4' Paula Rêgo: 'Untitled #5' Paula Rêgo: 'Untitled #6' Paula Rêgo: 'Untitled #7' Paula Rêgo: 'Untitled #8' Paula Rêgo: 'Untitled #9' Paula Rêgo: 'Untitled #10' Paula Rêgo: 'Untitled - Tryptic'

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17 maio 2006

#  Nós já sabíamos!

'Auto-retrato com rosa', de Ricardo LeiteRicardo Leite venceu o Prémio Revelação de Pintura da Caixa Geral de Depósitos. Para nós, que vai para dois anos lhe publicámos um portefólio e o fizemos figurar na capa da Periférica n.º 10, Ricardo Leite não é uma revelação, mas uma confirmação.

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16 fevereiro 2006

#  Sentido de humor

Entre outras coisas, o que falta, manifestamente, ao mundo muçulmano é sentido de humor, em especial quando este é reflexivo, autocrítico. Mas isso, já sabemos, é só mais um sintoma do atraso cultural do Islão. Humor e autocrítica são sinais de sofisticação — algo incompatível com quem chama a tudo o que lhe seja anterior ou alheio «Tempo (e Terra) da Ignorância».

Pintura de Mark Ryden
The Angel of Meat

Pintura de Mark Ryden
Saint Barbie
(ou Barbie-Cova-da-Iria...)


Pintura de Mark Ryden
Dead Characters

Pintura de Mark Ryden

Pintura de Mark Ryden
The Birth of Venus

A quantos séculos de distância está o Islão de um humor como este de Mark Ryden? Pelo calendário deles, estamos em 1426 (Idade Média, portanto) — ainda teremos de esperar.

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