foto: Bruno Espadana

25 janeiro 2008

#  Responder sem pensar

No Público online de hoje:

Professores são profissão em que portugueses mais confiam e a quem dariam mais poder

Os professores são os profissionais em quem os portugueses mais confiam e também aqueles a quem confiariam mais poder no país, segundo uma sondagem mundial efectuada pela Gallup para o Fórum Económico Mundial (WEF).
Os professores merecem a confiança de 42 por cento dos portugueses, muito acima dos 24 por cento que confiam nos líderes militares e da polícia, dos 20 por cento que dão a sua confiança aos jornalistas e dos 18 por cento que acreditam nos líderes religiosos.
Os políticos são os que menos têm a confiança dos portugueses, com apenas sete por cento a dizerem que confiam nesta classe.

Isto só mostra que se deve relativizar a importância destas sondagens e das respostas que são dadas. Pois o que se tem feitos nas últimas décadas (não apenas nos últimos 3 anos) é retirar mais e mais autonomia (não só administrativa, mas até pedagógica e científica) aos professores, reforçando os poderes de agentes exteriores à Escola: pais e encarregados de educação (os mesmos que nem têm tempo ou interesse para acompanhar os próprios filhos e educandos, quando mais zelar pelo bom funcionamento da instituição...), políticos nacionais e locais, burocratas alheados do que é o ensino, e toda a raça de bicho-careto. E isto perante o aplauso da “sociedade civil”, que placidamente vê aqueles em que 42% supostamente confia serem publicamente enxovalhados e profissionalmente diminuídos (meio caminho para se tornarem menos eficazes como agentes do ensino) por aqueles em quem, ao que parece, só 7% deposita alguma confiança.

Como se vê, o povo quando responde a inquéritos e sondagens está longe de pensar nas implicações das suas respostas; reflecte mais tempo antes de escolher 5 números e 2 estrelas...

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16 janeiro 2008

#  O Ministério da Saúde informa...

fumar constipa

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#  Risco e certeza

No Público de hoje:

Taxa de risco de pobreza baixou em Portugal para 18 por cento em 2006

A taxa de risco de pobreza em Portugal diminuiu em 2006, face ao ano anterior [19%], situando-se nos 18 por cento, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), hoje divulgados. [...]
O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizado em 2006 indica que 18 por cento dos indivíduos residentes em Portugal se encontravam em risco de pobreza [...]

... tendo os restantes 1% passado a estar sem dúvida na pobreza.

É disto que o país precisa: de certezas. Chega de indefinições, de talvez!

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#  O tempo corre a nosso favor

Palavras de José Sócrates (citado pelo Público) em reacção à divulgação dos dados do INE sobre a pobreza em Portugal:
«Apesar de o INE não atribuir estes resultados a nenhuma medida específica do Governo, detecta-se que o risco de pobreza desceu fundamentalmente junto dos idosos

(Não terão...vá lá... morrido?...)

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15 janeiro 2008

#  «O erro é uma forma de aprendizagem»

O tema do programa Sociedade Civil (RTP2) de hoje foi «Estudar é uma “seca”?».

Fui vendo-o aos pedaços, mas foi o suficiente para, entre coisas boas e menos boas, deparar com uma professora (que se definia «não como professora, mas como facilitadora de aprendizagens») que a certa altura do seu testemunho disse a frase que reproduzi no título deste post.

Não resisti e enviei o seguinte comentário para o blogue do programa:
Acho inaceitável — criminoso! — alguém dizer, como uma professora que testemunhou no vosso programa, que «o erro é uma forma de aprendizagem»!
Não vamos fazer do erro algo que ele não é, algo melhor do que ele é, desta forma branqueando-o.

O erro é, na melhor das hipóteses, um alerta para a necessidade de mudar algo — por parte do professor e, muito importante, por parte do aluno (porque se este não quer, aquele não pode): mudar atitudes, mudar métodos de trabalho, trabalhar mais, trabalhar melhor.

Mas se não se passar do diagnóstico do problema (o que pressupõe reconhecer que errar encerra um problema) às medidas tendentes a colmatar esse problema (acabar com o erro), o erro é simplesmente estéril (ou, pior ainda, engendra mais erros).

É com lirismos destes, papagueados acriticamente por pedagogos-demagogos, que se vai enterrando mais e mais o nosso sistema de ensino.

Já agora, a nossa «facilitadora de aprendizagens» estava sentada no chão em frente a... quatro-alunos-quatro!
Não me pareceu que os outros vinte (habituais nas nossas salas de aula) estivessem simplesmente fora do enquadramento...

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14 janeiro 2008

#  O Escritor (conto de microcontos)

(Nova versão, «revista e aumentada».)


1

Queria ser escritor.
Não tinha disciplina nem profundidade para o romance. Não tinha objectividade para a novela. Não tinha relevância para o conto. Não tinha poder de síntese para o microconto. Fora isso, não lhe faltava nada.
Nem sequer o Moleskine.


2

Queria ser escritor. Desse por onde desse, seria escritor.
Tentara o romance, tentara o conto — nunca acabara nada.
Tentara, em desespero de causa, o microconto — nenhuma ideia surgira.
Um dia, uma súbita inspiração: abriu o Moleskine e, de rajada, escreveu um ponto final.


3

A publicação de “.” apanhou a cena literária e o mercado livreiro de surpresa.
Em pouco tempo a sua obra inaugural arrebatava os tops de vendas. No final do ano a crítica foi unânime em elegê-lo como escritor-revelação. Era a nova coqueluche literária: não havia epígrafe em que não figurasse, não havia curso de escrita criativa que não o glosasse, nem dissertação de mestrado ou tese de doutoramento que não o citasse.
Era também terrivelmente plagiado. Mas aprendeu, estoicamente, a resignar-se.


4

À surpresa seguiu-se a certeza: contra todos os medos e maus agoiros, as obras seguintes confirmaram o fulgor e a frescura do Escritor. E não só como ficcionista, mas também nas vertentes de investigador e pensador crítico do nosso mundo: da sátira (“þ”) à Economia (“$”, “£”, “€”, “¥”...), passando pela Matemática (destaque para a diversas vezes reimpressa trilogia “>”, “<” e “=”), o seu contributo foi tudo menos irrelevante.
De facto, a sua primeira incursão pelo ensaio — “?” — tornou-se rapidamente leitura obrigatória nos mais prestigiados cursos de Filosofia (sucesso que se estenderia ao mundo hispano-falante depois da publicação de “¿?”, edição «revista e aumentada» cuja responsabilidade de tradução para o castelhano o Escritor chamou inteiramente a si). Anos depois, por pressão de alunos que se queixavam da exigência de tal obra de leitura integral, alguns cursos — à semelhança, de resto, do que já se passava em todas as faculdades de Teologia — adoptariam o menos inquisitivo e mais assertivo “.” (não confundir com a obra de ficção homónima, do mesmo autor). E, num exercício próximo da heteronímia, ou sinal de obsessão pelo contraditório, publicaria quase em simultâneo, sob nome suposto, “;”, uma refutação implacavelmente sardónica de “.” (referimo-nos ao ensaio, naturalmente).


5

Já num campo mais marginal, foi internacionalmente aclamado como «ground-breaking» o psicadélico “Ctrl+Alt”, também descrito como «o único digno sucessor de “The Doors of Perception”».
E, claro, como esquecer “æ” e “œ” («duas obras-primas da literatura erótica», chamaram-lhes), ou os muito mais polémicos “§” e “¶” (cuja temática homo-erótica ditou a sua remoção de muitos escaparates)?
Só não vingou na poesia. O manuscrito de “!” foi considerado «de um débil e inflacionado “sentimentalismo” poético» pelo único editor que contactou; o balde de água fria retirou-lhe o ânimo para novas tentativas.


6

Radicalmente anti-elitista, não desprezou os ditos “géneros menores”.
Foi com total desassombro que trouxe à luz do dia “—”, livro de auto-ajuda (subcategoria, autoconhecimento) que, à venda em todas as estações dos Correios, pôs meio país a falar com o seu Eu interior. (Pela mesma editora, o manual de yoga “&” foi apenas um sucesso relativo.)
Organizou também “«»”, uma bem sucedida recolha de citações famosas. A segunda edição revista (“«”) seria agraciada com o Prémio Escola Democrática da Associação para a Promoção de Novas Práticas Pedagógicas (APNPP) por «abrir a obra à participação activa e criativa do leitor-em-formação, contribuindo desta forma para uma Escola centrada no aluno»; no ano seguinte, a mesma APNPP atribuiria ainda uma Menção Honrosa, pelo mesmo «apelo à participação», à sua iniciativa — inédita e coroadíssima de sucesso — de organizar sessões de auto-autógrafos para/com a criançada.


7

Um dia atribuíram-lhe o Prémio Nobel. Polida mas irredutivelmente, recusou: as solicitações sociais de um laureado eram «too time-demanding».
E o que ele queria mesmo era escrever.

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#  Isso explica muita coisa...

Richard Land, da Convenção Baptista Sulista [cristã evangélica], citado pelo Público:
Não há dúvida de que esta é a Casa Branca mais receptiva às nossas preocupações [...]. Na Administração Reagan costumavam devolver os nossos telefonemas. Na de Bush [pai], muitas vezes devolviam os nossos telefonemas mas não tão rapidamente, e por vezes não de forma tão receptiva. Na Administração Clinton deixaram de responder aos nossos telefonemas ao fim de um certo tempo. Nesta Administração [de G. W. Bush] são eles que nos telefonam e perguntam «qual é a vossa opinião sobre isto?»

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13 janeiro 2008

#  Biografia (nanoconto)

Dizia: «A minha vida dava um livro do caralho!»
Em muitos capítulos, literalmente.

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12 janeiro 2008

#  Não me lembra nada nem ninguém (6)

Excerto da secção sobre as principais tendências do jornalismo americano no relatório “The State of the News Media” de 2007 do Project for Excellence in Journalism:

The Argument Culture is giving way to something new, the Answer Culture

Critics used to bemoan what author Michael Crichton once called the “Crossfire Syndrome,” the tendency of journalists to stage mock debates about issues on TV and in print. Such debates, critics lamented, tended to polarize, oversimplify and flatten issues to the point that Americans in the middle of the spectrum felt left out. That era of argument —R.W. Apple Jr. the gifted New York Times Reporter who died in 2006, called it “pie throwing” — appears to be evolving. The program “Crossfire” has been canceled. A growing pattern has news outlets, programs and journalists offering up solutions, crusades, certainty and the impression of putting all the blur of information in clear order for people. The tone may be just as extreme as before, but now the other side is not given equal play. In a sense, the debate in many venues is settled — at least for the host. This is something that was once more confined to talk radio, but it is spreading as it draws an audience elsewhere and in more nuanced ways. The most popular show in cable has shifted from the questions of Larry King to the answers of Bill O’Reilly. On CNN his rival Anderson Cooper becomes personally involved in stories. Lou Dobbs, also on CNN, rails against job exportation. Dateline goes after child predators. Even less controversial figures have causes: ABC weatherman Sam Campion champions green consumerism. The Answer Culture in journalism, which is part of the new branding, represents an appeal more idiosyncratic and less ideological than pure partisan journalism.

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