foto: Bruno Espadana

28 abril 2009

#  Diálogos assim (2)

Na sala de espera de um consultório médico, duas mulheres (uma das quais claramente mais velha) mantêm conversa de circunstância. A certa altura, pergunta a mais nova:
— A senhora que idade tem?
— Que idade me dá?
— 82, 83...
— Tenho 79.
[pausa]
— Está bem conservada...

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#  Diálogos assim (1)

Numa paragem de autocarro, um homem e uma mulher (que não me parece que se conheçam) comentam casualmente o tempo; diz a mulher:
— Este ano vai ser mau para o vinho: as videiras estão muito esquisitas.
— Há muito do ano anterior...
— Não sei; vim ainda agora do funeral de uma senhora, ainda era nova, coitada...

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15 abril 2009

#  Marketing ad misericordiam

outdoor: 'Comércio Tradicional: QUE FUTURO? Está nas suas mãos... Venha ao centro histórico!'
É com esta campanha miserabilista, com esta imagem deprimente e este discurso do coitadinho, com esta postura de ai-que-desgraça-a-nossa que o comércio tradicional quer atrair clientes, lutar na batalha do consumo e sobreviver?

Entre este outdoor e os obituários do Euclides-dos-caixões pouca diferença há: o comércio tradicional está morto e insepulto; o cadáver já fede.

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11 abril 2009

#  «Passei metade da vida a lutar contra os “Maus”. Agora sou um dos “Maus”, e sabem que mais? Até que não é mau...»

No Público de hoje:

Pela primeira vez na história, Brasil passa a credor do FMI

“Chique”, “histórico”, “soberano”. Não faltaram adjectivos ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, para classificar o empréstimo que o país vai conceder ao Fundo Monetário Internacional (FMI). [...] “Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?”, perguntou a um dos jornalistas presentes na conferência de imprensa. “Eu passei parte da minha juventude a carregar faixas contra o FMI no centro de São Paulo e, agora, serei o primeiro Presidente deste país a emprestar dinheiro à mesma estrutura a quem já devemos muito dinheiro”, enfatizou.
No final desta semana, o Governo brasileiro anunciou que vai disponibilizar 3,4 mil milhões de euros ao FMI, com o objectivo de ajudar países emergentes que enfrentam dificuldades de crédito devido à crise internacional. “Agora estamos a entrar no clube de credores do FMI”, frisou o ministro das Fazenda (Finanças), Guido Mantega.
[...]

Brasil viveu “humilhação”

Depois de décadas a receber visitas de representantes do FMI, o Brasil saldou as dívidas com a estrutura em finais de 2005 [...].Até essa altura, sublinhou Lula da Silva antes de seguir para a cimeira do G20 em Londres, o país viveu um “inferno”, uma “humilhação”.
“A gente via descendo do avião, no aeroporto, mulheres e homens do FMI dando palpites sobre o que tínhamos de fazer. Aquilo era uma humilhação. Diziam que tínhamos de fazer ajuste fiscal, contenção de gastos... era um inferno”, afirmou.
[...] “Antes da actual crise financeira global, disse o Presidente, o FMI vivia dando palpites sobre as economias do Brasil e de outros países da América do Sul”, assegurou.

Curioso: agora que está no “Clube dos Ricos”, Lula da Silva não explicou se:
  • Estava errado quando lutava contra o FMI;
  • O FMI tinha razão quando pedia o saneamento das contas brasileiras, e isso ajudou a chegar onde estão hoje;
  • A postura do FMI era mesmo errada e ele, agora que tem voto na matéria, vai lutar por um “FMI de rosto humano”;
  • Qual quê! Agora que é credor, vai levar aos outros a «humilhação» que o Brasil sofreu antes, dando-lhes palpites a toda a hora...

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09 abril 2009

#  «Pessoa para todas as ocasiões»

Fernando Pessoa por José de Almada-NegreirosAbriu hoje oficialmente as portas um novo blogue, de seu nome Pessoa para todas as ocasiões, editado por mim e por uma amiga.

Conforme se pode ler do “editorial”, datado de 27 de Janeiro deste ano, a ideia é «fazer um blogue exclusivamente com citações da obra de Fernando Pessoa, escolhidas a propósito de acontecimentos, efemérides, evocações, associações de ideias, estados de espírito...»

O blogue já tem uma vintena de posts — por isso é ler antes que esgotem!

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07 abril 2009

#  O anti-Padre Américo

O meu sobrinho, de 4 anos e meio, está a caminho de desenvolver um heterónimo: chama-lhe “um menino mau” e tem todos os desejos proibidos que o meu sobrinho tem, faz todas as coisas erradas que o meu sobrinho de facto fez, mas não quer assumir. O tal “Menino Mau” manifesta-se frequentemente, o que chega a ser um pouco assustador: como reagir quando um miúdo de 4 anos nos diz que tem «muitas coisas más dentro da cabeça»?

A minha irmã é professora e, como tal, tem ultimamente perdido muito tempo com papelada da treta que o Ministério encomenda como sucedâneo do rigor e da seriedade. Como as escolas não têm condições de trabalho (não há gabinetes onde os professores tenham o sossego necessário; não há bibliografia adequada aos docentes, e não apenas aos alunos; não há computadores decentes em quantidade suficiente), por isto tudo, quando, depois de um dia de aulas e de bur(r)ocracia, a minha irmã chega a casa, tem ainda que preparar as aulas dos dias seguintes. A minha irmã passa, por isso, grande parte da sua vida doméstica em frente ao computador, a trabalhar para a escola. O meu sobrinho ressente-se desta falta da mãe, presente-ausente, e ontem fê-la saber disso.

Disse-lhe ele: «Sabes, mãe, um menino mau tinha uma mãe que nunca brincava com ele e só trabalhava no computador. Um dia o menino mau foi e estragou-lhe o trabalho todo
A minha irmã pôs cara de zangada: «Pois olha que eu não gosto nada desse menino mau. Só gosto de meninos bons...»
E ele, muito sério: «Mãe, não há meninos bons: fingem que são bons...»

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