foto: Bruno Espadana

07 abril 2009

#  O anti-Padre Américo

O meu sobrinho, de 4 anos e meio, está a caminho de desenvolver um heterónimo: chama-lhe “um menino mau” e tem todos os desejos proibidos que o meu sobrinho tem, faz todas as coisas erradas que o meu sobrinho de facto fez, mas não quer assumir. O tal “Menino Mau” manifesta-se frequentemente, o que chega a ser um pouco assustador: como reagir quando um miúdo de 4 anos nos diz que tem «muitas coisas más dentro da cabeça»?

A minha irmã é professora e, como tal, tem ultimamente perdido muito tempo com papelada da treta que o Ministério encomenda como sucedâneo do rigor e da seriedade. Como as escolas não têm condições de trabalho (não há gabinetes onde os professores tenham o sossego necessário; não há bibliografia adequada aos docentes, e não apenas aos alunos; não há computadores decentes em quantidade suficiente), por isto tudo, quando, depois de um dia de aulas e de bur(r)ocracia, a minha irmã chega a casa, tem ainda que preparar as aulas dos dias seguintes. A minha irmã passa, por isso, grande parte da sua vida doméstica em frente ao computador, a trabalhar para a escola. O meu sobrinho ressente-se desta falta da mãe, presente-ausente, e ontem fê-la saber disso.

Disse-lhe ele: «Sabes, mãe, um menino mau tinha uma mãe que nunca brincava com ele e só trabalhava no computador. Um dia o menino mau foi e estragou-lhe o trabalho todo
A minha irmã pôs cara de zangada: «Pois olha que eu não gosto nada desse menino mau. Só gosto de meninos bons...»
E ele, muito sério: «Mãe, não há meninos bons: fingem que são bons...»

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