foto: Bruno Espadana

15 fevereiro 2009

#  Dona-de-casa verdadeiramente desesperada

cartazHá experiências impagáveis e irrepetíveis, ou, pelo menos, que apenas uma feliz e rara convergência de circunstâncias permite que ocorram. Por exemplo, ver Revolutionary Road na noite do Dia dos Namorados.

Revolutionary Road promete ser verdadeiro «Valentine material»: protagonizado (certamente não por acaso) por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, o par romântico de Titanic, o filme de de Sam Mendes arrebanhou certamente mais casais às salas de cinema do que os que conseguiu Noé conduzir à sua Arca... Abraçadinhos no escuro, cada par «segundo a sua espécie», novos e velhos aguardavam os suspiros que afinassem o tom para o perfeito fim de noite de S. Valentim.

Mas, como diriam os nossos amigos anglo-saxónicos, «You got another thing coming...»

Não demorou muito para que as atitudes mudassem. Entre a paixão, o romantismo inconsequente e a realidade da vida a dois; entre a violência verbal, psicológica e (quase) física; entre a loucura e o conformismo social; entre o desencanto, a infidelidade e o desinteresse de um casal mais naufragado do que o outro; entre o verniz da pacata moralidade suburbana (no sentido americano do termo) da década de 1950 e a corrosão que avança sob a superfície — entre tudo isto, havia muito por onde escolher para que as atitudes mudassem.
Na sala, o desconforto era quase geral: a respiração fazia-se a custo, ora sustendo-a, ora expirando sonoramente; os corpos amiúde se remexiam nas cadeiras, incapazes de encontrar uma posição cómoda; e, cereja em cima do bolo, a dez minutos do fim, o desabafo de uma miúda de pouco mais de vinte anos (se tanto) ao ouvido do namorado: «Este filme é um bocado esquisito...»

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