foto: Bruno Espadana

10 novembro 2008

#  Sarah Palin: Singin’ in the Rain

Se a maioria dos comentadores e opinion makers não tem dúvidas de que Sarah Palin prejudicou a campanha de John McCain, a extrema direita americana, profunda e abjectamente religiosa, alimenta a esperança de que a «Caribou Barbie» regresse em força em 2012.

Um exemplo é a apaixonada defesa dessa possibilidade por parte do ultraconservador Pat Buchanan:



Pat Buchanan apresenta como “prova” de que Sarah Palin beneficiou John McCain o facto de ele ter subido 10-12 pontos nas intenções de voto na semana a seguir à intervenção da sua parceira na Convenção Nacional do Partido Republicano. O seu interlocutor, Lawrence O’Donnell, nega (erradamente) este facto, quando faria melhor explicar a Pat Buchanan por que é que Palin teve inicialmente tal efeito positivo e mobilizador na campanha de McCain: podia tê-lo feito recorrendo a um filme musical clássico, Singin’ in the Rain.

Nesse filme há uma personagem, Lina Lamont, que é a grande estrela do cinema mudo. Mas Ms. Lamont tem um problema: não só tem uma voz esganiçada, como quando abre a boca só diz asneiras. Por isso a diva está proibida pelos patrões de falar em público. Em todas as suas aparições públicas, limita-se a acenar e sorrir, havendo sempre alguém que fale por ela e garante que ela mantém a boquinha bem fechada. (Lina Lamont não tem noção do desastre que é, tentando por vezes falar, apesar de proibida.)

E um dia, a catástrofe: surge o cinema sonoro...

Sarah Palin foi a Lina Lamont desta campanha eleitoral. O seu visual e estilo folksy trouxe uma lufada de ar fresco ao cinzentismo da política. Nas suas intervenções em público, safou-se enquanto se limitou a ler os discursos escritos com três ou quatro soundbytes (o correspondente do playback de Lina Lamont) — mas quando foi deixada à solta (como nas entrevistas com Katie Couric — p. ex., aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), e mesmo quando teve alguma preparação prévia (entrevista com Charles Gibson e debate com Joe Biden), Sarah Palin deixou claro que não ia além desses lugares-comuns, pelo que, fosse qual fosse a pergunta, a resposta acabava lá...

Sarah Palin ajudou a campanha de McCain enquanto o embrulho não revelou o vazio interior. Infelizmente para ela, o vazio acabou sendo exposto...

Etiquetas: , , ,