foto: Bruno Espadana

11 novembro 2008

#  Sarah Palin: «Se a conversa da treta fosse dinheiro...»

Muitos poderão pensar que foi só depois da derrota que muitos comentadores republicanos se levantaram contra Palin, movidos pelo ressentimento. Em abono da verdade, faça-se justiça aos republicanos e reconheça-se que isso não foi bem assim.

Num artigo («Palin Problem») publicado a 26 de Setembro na National Review (revista, ligada ao Partido Republicano, que recentemente forçou o filho do seu fundador a demitir-se, depois de este ter publicado um artigo de apoio a Barack Obama), Kathleen Parker, referindo a notória falta de conhecimentos da Sarah Palin, diz que a governadora do Alasca está claramente a jogar fora do seu campeonato, não trazendo ao debate mais do que meia dúzia de lugares-comuns:
«Palin empaleia. Ela repete palavras, enchendo espaço com palha. Cortem a verborreia e não sobra muito conteúdo.»
Palin filibusters. She repeats words, filling space with deadwood. Cut the verbiage and there’s not much content there.»]
Uma frase é particularmente retumbante:
«Se a conversa da treta fosse dinheiro, Palin conseguiria resolver sozinha o problema de falta de liquidez de Wall Street.»
If BS [bullshit] were currency, Palin could bail out Wall Street herself.»]

Parker termina pedindo à governadora que, para bem do seu país, saia da campanha enquanto é tempo (estávamos em Setembro), podendo salvar a face invocando motivos pessoais (o filho recém-nascido).

Etiquetas: , , ,

10 novembro 2008

#  Sarah Palin: Singin’ in the Rain

Se a maioria dos comentadores e opinion makers não tem dúvidas de que Sarah Palin prejudicou a campanha de John McCain, a extrema direita americana, profunda e abjectamente religiosa, alimenta a esperança de que a «Caribou Barbie» regresse em força em 2012.

Um exemplo é a apaixonada defesa dessa possibilidade por parte do ultraconservador Pat Buchanan:



Pat Buchanan apresenta como “prova” de que Sarah Palin beneficiou John McCain o facto de ele ter subido 10-12 pontos nas intenções de voto na semana a seguir à intervenção da sua parceira na Convenção Nacional do Partido Republicano. O seu interlocutor, Lawrence O’Donnell, nega (erradamente) este facto, quando faria melhor explicar a Pat Buchanan por que é que Palin teve inicialmente tal efeito positivo e mobilizador na campanha de McCain: podia tê-lo feito recorrendo a um filme musical clássico, Singin’ in the Rain.

Nesse filme há uma personagem, Lina Lamont, que é a grande estrela do cinema mudo. Mas Ms. Lamont tem um problema: não só tem uma voz esganiçada, como quando abre a boca só diz asneiras. Por isso a diva está proibida pelos patrões de falar em público. Em todas as suas aparições públicas, limita-se a acenar e sorrir, havendo sempre alguém que fale por ela e garante que ela mantém a boquinha bem fechada. (Lina Lamont não tem noção do desastre que é, tentando por vezes falar, apesar de proibida.)

E um dia, a catástrofe: surge o cinema sonoro...

Sarah Palin foi a Lina Lamont desta campanha eleitoral. O seu visual e estilo folksy trouxe uma lufada de ar fresco ao cinzentismo da política. Nas suas intervenções em público, safou-se enquanto se limitou a ler os discursos escritos com três ou quatro soundbytes (o correspondente do playback de Lina Lamont) — mas quando foi deixada à solta (como nas entrevistas com Katie Couric — p. ex., aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), e mesmo quando teve alguma preparação prévia (entrevista com Charles Gibson e debate com Joe Biden), Sarah Palin deixou claro que não ia além desses lugares-comuns, pelo que, fosse qual fosse a pergunta, a resposta acabava lá...

Sarah Palin ajudou a campanha de McCain enquanto o embrulho não revelou o vazio interior. Infelizmente para ela, o vazio acabou sendo exposto...

Etiquetas: , , ,

08 novembro 2008

#  As saudades que Bush deixará (3)

O melhor do Bushismo



Talvez o meu preferido seja aquele discurso escrito em que ele diz:
«Os nossos inimigos são inovadores e têm muitos recursos — e nós também. [sorrisinho]
Eles nunca deixam de pensar em novas maneiras de prejudicar o nosso país e o nosso povo — e nós também não. [sorrisinho]»

Etiquetas: , ,

07 novembro 2008

#  Off-the-record

A tensão entre a facção de McCain e a facção de Palin tornou-se conhecida nos últimos dias da campanha, à medida que o cenário se apresentava cada vez menos favorável, muito por culpa de Sarah Palin (diziam os apoiantes de McCain — e a esmagadora maioria dos analistas).

Agora que a dupla está definitivamente derrotada, começou em força o “finger-pointing”, e até a Fox News (ou especialmente a Fox News?...) vem revelar a dimensão titânica da ignorância de Sarah Palin. Alguns exemplos:
  • Palin pensava que a África era um país e não um continente;
  • Palin pensava que a África do Sul era uma região desse suposto país e não um país desse continente;
  • Palin era incapaz de nomear todos os países da América do Norte (que são só três...).


E, como boa ignorante que se preza, Sarah Palin recusou-se a ser preparada pelos assessores de McCain para a longa entrevista com Katie Couric (CBS News), onde muita da sua ignorância ficou patente (mas não na escala que a Fox News vem agora revelar).

O mais interessante é a justificação do repórter da Fox News para só agora isto se saber: foi-lhe pedido que a ignorância de Sarah Palin fosse mantida “off-the-record” até depois das eleições...

Etiquetas: , , ,

06 novembro 2008

#  As saudades que Bush deixará (2)

O cartoonista editorial Mike Luckovich (The New Yorker) elenca aquilo de que mais sentirá falta com o fim da presidência de George W. Bush:

(c) Mike Luckovich
A sua evolução permitiu-me poupar cada vez mais tempo a desenhar e tinta.
Depois do 11/9 > Depois da invasão do Iraque > Depois do Katrina > Depois da tortura e das escutas > Depois do colapso económico

(c) Mike Luckovich
Os seus cúmplices.
Os mais procurados da América: Alberto Gonzales, Lewis “Scooter” Libby, Condoleezza Rice, Karl Rove, Donald Rumsfeld

(c) Mike Luckovich
O seu assustador Vice-Presidente.
«Estão a pôr no lixo as decorações do Halloween...»

(c) Mike Luckovich
As suas qualidades unificadoras.
«É oficial: o país inteiro odeia-o...»

(c) Mike Luckovich
Poder desenhar semanalmente o Titanic com o nome do seu mais recente falhanço.
Bush: «’Tamos a fazer bons progressos.»
Titanic: «Ambiente, Iraque, Economia, Mercado Imobiliário, Partido Republicano»

(c) Mike Luckovich
A sua Guerra contra a Gramática.
Bush: «Mim o decisor.»
Assessor: O senhor quer dizer “Eu sou o decisor.”»
Bush: «Tu não! Mim!»

Etiquetas: , , , ,

#  As saudades que Bush deixará (1)

Jack Cafferty (CNN) e os seus telespectadores dizem do que mais sentirão falta quando George W. Bush se for finalmente embora...

Etiquetas: , , ,

15 outubro 2008

#  McCain, o reciclador

Num partido pouco amigo dos ambientalistas, o irreverente John McCain recicla o seu discurso velho e apresenta-o como novinho em folha:

Etiquetas: , , , ,

23 setembro 2008

#  Para que conste, eu tive essa ideia primeiro

Michael Palin for President: Vote Silly 2008
Alguém pegou na minha ideia e lançou uma campanha para eleger Michael Palin (ex-Monty Python) como Presidente dos Estados Unidos. Apoio plenamente, mas, como dizem os camónes, «credit where credit is due»...

Michael Palin for President
O vídeo da campanha, legendado em português, está disponível no site do Público.

Etiquetas: , , ,

19 setembro 2008

#  Prisioneiro de Consciência

John Stewart, comentando a mudança de discurso de John McCain:
«Ao que parece, John McCain é o único prisioneiro de guerra sujeito a lavagem cerebral depois de ser libertado.»

Etiquetas: , , ,

15 setembro 2008

#  Escolha o/a Palin que mais lhe convém

Sarah Palin Michael Palin (Monty Python)

E se Sarah é do selvagem e distante Alaska, Michael é do igualmente selvagem e para todos os efeitos igualmente distante Yukon, o que vai dar quase ao mesmo...
Michael Palin: Lumberjack Song

Etiquetas: , , ,

#  Sarah Palin & John McCain

Sarah PalinTemo que, com Sarah Palin ao seu lado, John McCain venha a ganhar as eleições de Novembro.

O que estava a dar "pica" às primárias Democratas era o facto inédito de a corrida estar a ser disputada entre uma mulher e um negro. Com a escolha de uma mulher para Vice-Presidente, John McCain conseguiu trazer para a sua campanha a aura de inovação que lhe faltava (ainda que em tudo o mais a escolha de Palin seja retrógrada).

Pessoalmente, não acho que McCain fosse um mau presidente — se se mantivesse o John McCain a que nos habituou: seguindo frequentemente uma linha muito sua, contra a vontade da maioria do seu partido. Mas um tal McCain não é "presidenciável", pelo que o senador do Arizona tem vindo a afinal o seu discurso pelo diapasão das bases mais retrógradas e radicais do Partido Republicano, dizendo frequentemente o contrário do que antes dizia. A escolha de Sarah Palin é apenas o toque final nessa conformação com o sentir do núcleo mais militante do Partido.

Há ainda a esperança que, uma vez no poder, McCain volte a ser o mesmo de sempre, mas não me parece: em especial se se quiser recandidatar em 2012 (talvez não, devido à idade), John McCain, tal como todos os presidentes antes de si, terá de passar o seu mandato a agradar, isto é, a pagar a "dívida", àqueles que o puseram na Sala Oval.

Esperemos, apenas, que a sua idade (ou a desculpa dela) não nos dê em poucos anos o presente envenenado de uma Presidente Palin...

Etiquetas: , ,

21 abril 2008

#  Não me lembra nada nem ninguém (8)

A great power sets its sights on a smaller, strange, and faraway land—an easy target, or so it would seem. Led first by a father and then, a decade later, by his son, this great power invades the lesser country twice. The father, so people say, is a bland and bureaucratic man, far more temperate than the son; and, indeed, it is the second invasion that will seize the imagination of history for many years to come. For although it is far larger and more aggressive than the first, it leads to unexpected disaster. Many commentators ascribe this disaster to the flawed decisions of the son: a man whose bluster competes with, or perhaps covers for, a certain hollowness at the center; a leader who is at once hobbled by personal demons (among which, it seems, is an Oedipal conflict) and given to grandiose gestures, who at best seems incapable of comprehending, and at worst is simply incurious about, how different or foreign his enemy really is. Although he himself is unscathed by the disaster he has wreaked, the fortunes and the reputation of the country he rules are seriously damaged. A great power has stumbled badly, against all expectations.
(Daniel Mendelsohn, no último número da New Yorker, sobre as Histórias de Heródoto, que narram a guerra dos Gregos contra os Persas em 490 e 480–479 a.C.)

Etiquetas: , , , ,

29 março 2008

#  Eppur è tutto vero...

07 fevereiro 2008

#  Ética terrorista

Público online:

EUA acusam Al-Qaeda de usar crianças em vídeos de propaganda

A Comissão de Ética da Al-Qaeda já mandou abrir um inquérito.

Etiquetas: , ,

14 janeiro 2008

#  Isso explica muita coisa...

Richard Land, da Convenção Baptista Sulista [cristã evangélica], citado pelo Público:
Não há dúvida de que esta é a Casa Branca mais receptiva às nossas preocupações [...]. Na Administração Reagan costumavam devolver os nossos telefonemas. Na de Bush [pai], muitas vezes devolviam os nossos telefonemas mas não tão rapidamente, e por vezes não de forma tão receptiva. Na Administração Clinton deixaram de responder aos nossos telefonemas ao fim de um certo tempo. Nesta Administração [de G. W. Bush] são eles que nos telefonam e perguntam «qual é a vossa opinião sobre isto?»

Etiquetas: , ,

12 janeiro 2008

#  Não me lembra nada nem ninguém (6)

Excerto da secção sobre as principais tendências do jornalismo americano no relatório “The State of the News Media” de 2007 do Project for Excellence in Journalism:

The Argument Culture is giving way to something new, the Answer Culture

Critics used to bemoan what author Michael Crichton once called the “Crossfire Syndrome,” the tendency of journalists to stage mock debates about issues on TV and in print. Such debates, critics lamented, tended to polarize, oversimplify and flatten issues to the point that Americans in the middle of the spectrum felt left out. That era of argument —R.W. Apple Jr. the gifted New York Times Reporter who died in 2006, called it “pie throwing” — appears to be evolving. The program “Crossfire” has been canceled. A growing pattern has news outlets, programs and journalists offering up solutions, crusades, certainty and the impression of putting all the blur of information in clear order for people. The tone may be just as extreme as before, but now the other side is not given equal play. In a sense, the debate in many venues is settled — at least for the host. This is something that was once more confined to talk radio, but it is spreading as it draws an audience elsewhere and in more nuanced ways. The most popular show in cable has shifted from the questions of Larry King to the answers of Bill O’Reilly. On CNN his rival Anderson Cooper becomes personally involved in stories. Lou Dobbs, also on CNN, rails against job exportation. Dateline goes after child predators. Even less controversial figures have causes: ABC weatherman Sam Campion champions green consumerism. The Answer Culture in journalism, which is part of the new branding, represents an appeal more idiosyncratic and less ideological than pure partisan journalism.

Etiquetas: , ,

22 novembro 2007

#  ¡No pasarán!

Segundo o Público, estima-se que 1,2 milhões de pessoas foram detidas a tentar entrar nos Estados Unidos num qualquer ponto da fronteira de 3141 km que os separam do México.

Obviamente, muitos mais conseguiram efectivamente passar. De resto, há coisa de um, dois anos uma sondagem indicava que 60% dos mexicanos desejavam emigrar para os Estados Unidos. (Comentando estes valores no seu talk show, Jay Leno diria que «os outros 40% já cá estão...»)

Para contrariar este êxodo, os EUA estão a construir um muro (instantaneamente polémico) ao longo da sua fronteira sul.

Infografia: Muro EUA/México (adaptado do site do Público)
A luta contra a imigração ilegal terá também outras medidas, digamos, mais simbólicas, visando inculcar nos candidatos a wet backs a ideia de que é escusado tentar entrar a salto na Terra Prometida a norte da fronteira. Uma dessas medidas prevê alterações toponímicas. Assim, por exemplo, a cidade texana de El Paso será rebaptizada como El No Paso.

Etiquetas:

27 outubro 2007

#  Não me lembra nada nem ninguém (4)

Ilustração de Jason Holley
Ilustração de Jason Holley

  • inferior predictive structure (estrutura preditiva inferior)
  • frontal stupidity lobe (lobo frontal da estupidez)
  • CNBC gibberish cortex (córtex da léria da CNBC)
  • corpus credulum
  • neo-bovine herd-mentalitum (mentalitum da manada neo-bovina)
  • logic void (vazio lógico)
  • falsehood persistence node (nodo da persistência na falsidade)
  • arithmetical impossibility rationalization complex (complexo da racionalização das impossibilidades aritméticas)
  • price decline overreaction region (região da reacção exagerada à baixa de preços)
  • guru-bloviation acceptance ganglia (gânglios da aceitação do palavreado do guru)
  • beer (cerveja)
  • inappropriate enthusiasm nucleus (núcleo do entusiasmo inapropriado)
  • historical lesson rejection lobe (lobo da rejeição das lições da história)

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , ,

18 outubro 2007

#  Stephen Colbert a Presidente dos EUA

Stephen Colbert (com Abraham Lincoln e George Washington em pano de fundo)Stephen Colbert, apresentador do The Colbert Report (programa satírico do canal por cabo Comedy Central), anunciou a sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos.

O anúncio pode ser interpretado como um golpe publicitário destinado a promover o seu programa, que não completou o “desmame” do The Daily Show (programa de notícias fictícias onde Colbert começou como “correspondente”), ou como uma mera brincadeira ao jeito vocalista dos Enapá 2000, mas o impacto desta personagem caricatural (o opinion maker neoconservador e egocêntrico, estilo Bill O’Reilly e o The O’Reilly Factor) não pode ser descurado.

Colbert Report
Stephen Colbert é o criador de diversos neologismos. O primeiro e mais famoso foi «truthiness»: diferente de «truth» (verdade, veracidade), poderíamos traduzi-la como «verdadacidade», correspondendo à «qualidade segundo a qual alguém reclama saber algo emocional ou instintivamente, independentemente das provas ou da reflexão crítica» (nesse sentido, a existência de armas de destruição em massa no Iraque e de ligações do regime de Saddam à Al Qaeda eram duas «verdadacidades»...). Este neologismo foi rapidamente adoptado pela American Dialect Society (que o redefiniu ligeiramente), sendo mais tarde eleita de forma esmagadora como a «Palavra do Ano 2006» (votação online organizada pela editora do prestigiado dicionário Merriam-Webster).

Mas esta não seria a sua única vitória numa votação online: quando em 2006 o governo húngaro optou por tal sistema para a escolha do nome a dar à nova e monumental ponte sobre o Danúbio, Stephen Colbert exortou os seus espectadores a votarem nele. O resultado: em duas semanas Colbert teria 17.231.724 votos, sagrando-se vencedor. (Obviamente, o governo húngaro, ainda que reconhecendo a vitória do apresentador americano, apressou-se a alterar as regras — ou a especificá-las —, e a ponte receberia um nome digno da sua “hungaricidade”.)

Mas chega de conversa. Aqui vai o vídeo em que Colbert, convidado especial no The Daily Show, fez o «anúncio oficial de que decidiu considerar oficialmente se irá ou não anunciar que irá candidatar-se a Presidente dos Estados Unidos»:



Um quarto de hora depois, o anúncio oficial no seu próprio programa:

Etiquetas: , , , ,

10 outubro 2007

#  O Meta-Presidente

Nestes dias em que uma gripe me prende em casa — uma casa sem televisão nem rádio —, a internet tem sido a minha salvação nas horas de maior tédio em que (felizes horas de tédio!) as noites mal dormidas e a natural prostração não pesam suficientemente sobre os olhos para os manterem fechados. Nessas alturas jogo pelo seguro e visito o site do The Daily Show with Jon Stewart.

Este programa (transmitido com muito atraso e algo erraticamente pela SIC Radical) é a mais completa versão moderna do preceito Ridendo castigat mores. E é também, como o latino preceito prevê, do mais inteligente que se faz na televisão actual.

Do muito que poderia usar como exemplo ilustrativo (isto é, quase tudo), não resisto a mostrar aqui um trecho recente em que o Jon comenta a tendência de George W. Bush para fazer de narrador de si mesmo:



Para quem não pode ver o vídeo anterior, transcrevo aqui o fundamental do que Jon Stewart diz (mas nada substitui ver o excerto inteiro):
[...] Foi uma clássica manobra à Presidente Bush: transmitir confiança às pessoas informando-as de que está ali para lhes transmitir confiança. É o que este homem faz constantemente: pega no subtexto de um discurso e torna-o o texto. [...] É que enquanto alguns líderes são homens de palavras, outros são homens de acção; o Presidente Bush é um homem que usa palavras para descrever acções. [...] Não entendo! Quando ele discursa, é como se estivesse a ler as didascálias! [...] O Presidente não está ali para agir — a razão por que o Presidente está ali é, pelos vistos, dizer-nos a razão por que está ali! [...] Ele é o nosso primeiro Meta-Presidente! Aparece e passa o dia a descrever as coisas que deveria estar a fazer. [...]


Este vídeo trouxe-me à lembrança um outro, mais antigo, em que Jon Stewart analisa um recurso de retórica que o Presidente americano usa recorrentemente: repetir «por outras palavras» (por vezes, não tão outras assim) aquilo que acabou de dizer; ou, como dizem os criadores do The Daily Show, «o esforço de uma mente iluminada para tornar as complexidades dos pensamentos mais elevados acessíveis às massas»:

Etiquetas: , , ,