foto: Bruno Espadana

10 outubro 2007

#  Paradigmático

O Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação apresenta-nos um quadro sinóptico onde compara dois paradigmas de Escola: o da Era Industrial e o do Século XXI.

Para além de um certo enviesamento e exagero na caracterização da “Escola da Era Industrial” — to make a point —, chegando ao ponto de afirmar que nesse paradigma os «conteúdos do curricula [são] determinados pelo professor» (em que país?...), o quadro inclui muito do bricabraque a que o “eduquês” nos habituou: no paradigma do século XXI, os «conteúdos e resultados a atingir [são] negociados entre professores e alunos» e o «curriculum [é] determinado pelo contexto com o qual se relaciona»... (Nuno Crato mostrou-nos em O “Eduquês” em Discurso Directo até que ponto esta obsessão com o «contexto» pode chegar...)

Mas o mais revelador no referido quadro sinóptico (uma forma muito pouco “à Século XXI” de sistematização “não negociada” do conhecimento...) é o que não está lá: o conceito de ensino, o acto de ensinar, palavras que não surgem uma única vez no novo (e, entende-se, desejável) paradigma. Na Escola do Século XXI ninguém ensina: falta-nos, por isso, também uma definição de professor (mais que não seja, para que saibamos distingui-lo dos «técnicos de educação e outros especialistas» ou, simplesmente, da comunidade circundante).

Este desaparecimento do ensino do nosso paradigma educativo não é de admirar: é, isso sim, não mais do que a terceira etapa da progressão que começou com o ímpio conceito industrial de “ensino” e evoluiu para o (agora ultrapassado) sincretismo educativo corporizado no binómio “ensino/aprendizagem”, chegando ao estado actual do paradigma. A ascensão rumo ao nirvana educativo, está bom de ver, não pára aqui:

ensino  ->  ensino/aprendizagem  ->  /aprendizagem  ->  /

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