foto: Bruno Espadana

30 outubro 2007

#  Falhar o alvo

Clara França Martins, autora do blogue As Setas, comenta assim o artigo de Nuno Crato a que me referi há dias:
Acho extraordinário o que diz Nuno Crato [NC] sobre o uso da calculadora. Então NC nã sabe que estamos no séc. XXI? Os jovenzinhos começam a utilizar computadores com 3,4 anos! Porque raio deveriam proibi-los de usar calculadoras desde o início do ensino da Matemática? Achará também NC que é necessário aprender a lavar a roupa no tanque (ou talvez no rio...), antes de utilizar a máquina de lavar? Ridículo!

Cara Clara, deve inicialmente proibir-se a máquina de calcular para que haja lugar à prática mental requerida pelos algoritmos de cálculo apropriados. A tónica é em «prática mental». Se as crianças começarem logo pelo uso de máquinas de calcular, nunca desenvolverão muitas capacidades cerebrais que só se desenvolvem quando se “faz o trabalho todo”.
Da mesma maneira, o uso de um processador com corrector ortográfico para escrever logo na fase inicial de aprendizagem de uma língua escrita é pernicioso, pois a “muleta” do corrector não estimula a que aprendamos a ortografia da língua que supostamente estamos a aprender — e que, portanto, aprenderemos pior.

Para sair do âmbito da Educação, uma analogia: se a um bebé que ainda só gatinha o enfiarmos logo num carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado, esse bebé nunca aprenderá a caminhar. Com o tempo, os músculos das suas pernas atrofiarão. O que não importa, claro, visto que tem o tal carrinho motorizado que o transporta sem esforço para todo o lado... até ao dia em que o menino das perninhas atrofiadas se depara com uma escada. Aí não há carrinho que o ajude — mas por essa altura já as pernas estarão incapacitadas para o levarem mais além.

Etiquetas: ,