# Saber fazer contas — e saber o que fazer com elas
O Presidente Executivo (CEO) da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira, «passou ao contra-ataque e devolve pressões ao Governo», afirmando que «Petróleo pesa um terço no custo total dos combustíveis».
Em reacção a esta notícia, Rui Cabral, do blogue Palermice de Bacalhau, devolve as pressões à Galp:
Nem o CEO da Galp nem o CEO do Palermice de Bacalhau sabem fazer contas (ou querem fazê-las).
Sendo verdade que o petróleo só representa 33% do preço final dos combustíveis, não é verdade que o aumento de 50% no preço do petróleo só seja reflectido em 0,33 x 50% no aumento do preço final dos combustíveis.
Os impostos são indexados ao preço-base, pelo que se o preço-base aumenta (em função do aumento da matéria prima), o valor correspondente ao imposto aumenta proporcionalmente, mantendo-se constante o seu peso percentual no preço final.
Vejamos o que se passa com o IVA: se o preço-base é 100 e o IVA é 21%, o preço final é 121 (i.e., 100 x 1,21). Mas se o preço base aumentar para 200, o preço final não é 221, mas 242 (i.e., 200 x 1,21).
Ou seja, um aumento para o dobro do preço base (2 x 100) resulta num aumento para o dobro do preço final (242 = 2 x 121).
Genericamente, um aumento de X% no preço base (antes dos impostos) significará um aumento de X% no preço final (já com impostos). Isto só não será assim se o valor do imposto não for perfeitamente percentual: por exemplo, se for um valor monetário fixo (seria mais uma taxa do que um imposto) ou se for percentual, mas com diferentes escalões.
Obviamente, isto não invalida duas coisas:
1. Que o CEO da Galp tem razão ao pôr a culpa da falta de competitividade dos combustíveis nacionais na carga de impostos (que o digam os gasolineiros da fronteira).
2. Que o CEO do Palermice de Bacalhau tem razão ao prever que uma diminuição do ISP prejudicaria o Estado sem beneficiar (significativamente) os consumidores, pois a diferença iria (quase) integralmente para os bolsos das petrolíferas. (Veja-se o que aconteceu com a baixa do IVA nos ginásios; e falta pouco para vermos o que vai acontecer com a baixa geral da taxa máxima de IVA...)
Em reacção a esta notícia, Rui Cabral, do blogue Palermice de Bacalhau, devolve as pressões à Galp:
Então se o Petróleo pesa apenas um terço no custo total dos combustiveis a que se deve o aumento brutal de preços que se tem vindo a verificar?!?
Mesmo que os preços tivessem aumentado 50% (de 60 euros para 90 euros, sendo que o barril ainda nao chegou aos 90 euros) os portugueses sabem multiplicar… sabem 33% (custo do petroleo no total dos cumbustiveis) x 50% (aumento nos combustiveis) = 16,5%.33% x 50% = 16,5% de aumento!!![...]
e não 50%!!!
A ideia de Manuel Ferreira Oliveira é simples, baixe-se os impostos em 30%, a Galp baixa os preços em 10% e todos ficamos felizes. O lucro da Galp aumenta e o “tuga” paga menos e gasolina, e como a vista é curta o “tuga” não se importa que o Estado deixe de ganhar para uma empresa ganhar, desde que ganhe (em termo privados) um pouco. Esses preferem pressionar ainda mais o Estado.
Nem o CEO da Galp nem o CEO do Palermice de Bacalhau sabem fazer contas (ou querem fazê-las).
Sendo verdade que o petróleo só representa 33% do preço final dos combustíveis, não é verdade que o aumento de 50% no preço do petróleo só seja reflectido em 0,33 x 50% no aumento do preço final dos combustíveis.
Os impostos são indexados ao preço-base, pelo que se o preço-base aumenta (em função do aumento da matéria prima), o valor correspondente ao imposto aumenta proporcionalmente, mantendo-se constante o seu peso percentual no preço final.
Vejamos o que se passa com o IVA: se o preço-base é 100 e o IVA é 21%, o preço final é 121 (i.e., 100 x 1,21). Mas se o preço base aumentar para 200, o preço final não é 221, mas 242 (i.e., 200 x 1,21).
Ou seja, um aumento para o dobro do preço base (2 x 100) resulta num aumento para o dobro do preço final (242 = 2 x 121).
Genericamente, um aumento de X% no preço base (antes dos impostos) significará um aumento de X% no preço final (já com impostos). Isto só não será assim se o valor do imposto não for perfeitamente percentual: por exemplo, se for um valor monetário fixo (seria mais uma taxa do que um imposto) ou se for percentual, mas com diferentes escalões.
Obviamente, isto não invalida duas coisas:
1. Que o CEO da Galp tem razão ao pôr a culpa da falta de competitividade dos combustíveis nacionais na carga de impostos (que o digam os gasolineiros da fronteira).
2. Que o CEO do Palermice de Bacalhau tem razão ao prever que uma diminuição do ISP prejudicaria o Estado sem beneficiar (significativamente) os consumidores, pois a diferença iria (quase) integralmente para os bolsos das petrolíferas. (Veja-se o que aconteceu com a baixa do IVA nos ginásios; e falta pouco para vermos o que vai acontecer com a baixa geral da taxa máxima de IVA...)
Etiquetas: Blogosfera, País
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