# Reformas
Numa altura em que se fala da reforma ortográfica (vulgo, Acordo Ortográfico) que visa aproximar a grafia do português europeu à do português brasileiro (é assim mesmo, não vale a pena fantasiar um suposto “middle ground”), deparo-me com este excerto na página 155 de Empires of the Word: A Language History of the World (Nicholas Ostler, HarperCollins, 2005) sobre a milenar duração, virtualmente sem alterações, dos sistemas de escrita da China e do Antigo Egipto:
Mas isso qualquer pessoa minimamente informada sabe: o inglês escrito é ortograficamente conservador, a sua grafia está significativamente desligada da fonética e as “normas” variam não só de país para país, mas mesmo entre grupos mais restritos (um exemplo paradigmático é a revista The New Yorker) — mas tais “barreiras” não impediram a afirmação da língua inglesa como língua franca a nível mundial e como língua de ciência e cultura, nem limitou a circulação global de livros e revistas escritos nas diferentes grafias.
(A ideia de que tais idiossincrasias são barreiras ao sucesso da língua, ou que derrubar tais moinhos de vento abrirá caminho a um futuro radioso — «amanhãs que cantam» português?... — é uma ilusão cara a alguns políticos respaldados por linguistas que buscam naqueles a autoridade política que compense a sua falta de influência na sociedade, e vice-versa.)
Mais interessante é a frase com que Nicholas Ostler continua:
This resistance to script reform [in Ancient Egypt and China] really shows no more than that these cultures had already [...] achieved a stable incorporation of writing into their way of life. Asking for a replacement of the writing system in such a literate administration was no more practicable than the various attempts to introduce spelling reform into modern English.
Mas isso qualquer pessoa minimamente informada sabe: o inglês escrito é ortograficamente conservador, a sua grafia está significativamente desligada da fonética e as “normas” variam não só de país para país, mas mesmo entre grupos mais restritos (um exemplo paradigmático é a revista The New Yorker) — mas tais “barreiras” não impediram a afirmação da língua inglesa como língua franca a nível mundial e como língua de ciência e cultura, nem limitou a circulação global de livros e revistas escritos nas diferentes grafias.
(A ideia de que tais idiossincrasias são barreiras ao sucesso da língua, ou que derrubar tais moinhos de vento abrirá caminho a um futuro radioso — «amanhãs que cantam» português?... — é uma ilusão cara a alguns políticos respaldados por linguistas que buscam naqueles a autoridade política que compense a sua falta de influência na sociedade, e vice-versa.)
Mais interessante é a frase com que Nicholas Ostler continua:
It could only be feasible if the systems of education and administration were so severely disrupted that the succession was broken, and a new start could be made.
o que me faz pensar se a paulatina destruição (vulgo, as sucessivas «Reformas») do currículo do Ensino Básico e Secundário a que vimos assistindo nas últimas décadas não visa, afinal, garantir por antecipação o sucesso da entrada em vigor do dito Acordo Ortográfico...Etiquetas: Educação, Língua Portuguesa, Livros
<< Página principal