foto: Bruno Espadana

04 março 2008

#  A avaliação dos professores (2)

O segundo grande problema da avaliação dos professores (e de que ninguém fala) é a sua falta de transparência.

Segundo o Art.º 49.º do novo Estatuto da Carreira Docente, «o processo de avaliação tem carácter confidencial»: a cada ano, por escola, apenas são publicados «resultados globais da avaliação de desempenho de informação não nominativa». Ou seja, para além de saber a sua própria classificação, cada professor apenas sabe quantos Excelentes, Muito Bons, Bons, Regulares e Insuficientes foram atribuídos na sua escola, mas não quem obteve o quê.

Esta falta de transparência é muito perigosa. A divulgação pública dos resultados completos é o maior garante da justiça na avaliação. O sigilo promove as injustiças e os abusos: a fraude, o amiguismo e o compadrio.

Um exemplo. Ao Prof. Fulano foi atribuída uma classificação de Muito Bom, e, pela lista global, Fulano sabe que houve apenas um Excelente na sua escola. Pensando que essa classificação foi obviamente atribuída ao Prof. Sicrano (quase unanimemente considerado o mais competente da escola — eventualmente ex æquo com o próprio Fulano), o Prof. Fulano não acha que houve qualquer injustiça: as quotas só permitem um Excelente naquela escola, pelo que entre ele e Sicrano alguém tinha de se contentar com um Muito Bom. Azar: calhou-lhe a ele.
O problema é que o Prof. Fulano não tem à-vontade para perguntar ao colega Sicrano que classificação obteve ele (há um certo pudor nestas coisas). Se perguntasse, descobriria que o Prof. Sicrano também obteve um Muito Bom, e que está convencido que o Excelente foi para o Fulano... Se as classificações fossem publicadas detalhadamente, Fulano e Sicrano descobririam que o Excelente foi para o Prof. Magano, a léguas de distância em competência e entrega à escola, mas com a determinante vantagem de ser grande amigalhaço das pessoas certas no júri... Ou, com alguma probabilidade, se as classificações finais fossem totalmente públicas, o júri já não correria o risco de favorecer às claras os comparsas menos competentes.

Mas, claro, a transparência da avaliação só se justificaria se o Ministério da Educação quisesse mesmo retribuir o mérito e o empenho...

Etiquetas: