# A falácia dos remorsos
Volto ao debate do Prós & Contras.
Entre várias coisas que não vi ditas (talvez tenham sido antes de eu começar a ver), faltou rebater o argumento dos “remorsos” e dos “problemas psicológicos” pós-aborto, por exemplo, com isto: os problemas que existam (e o estudo da APF aponta para uma percentagem relativamente baixa), os problemas que existam, dizia, são exactamente potenciados por: (1) consciência da ilicitude; (2) aborto em condições menos dignas; (3) doutrinação (dizem-lhes que é «pecado», que são «assassinas de crianças» e outras barbaridades).
Sobre isto, deparei-me com este post (ou comentário a um post) num blogue que infelizmente não fixei qual era, pelo que não posso dar o devido crédito:
Há alguma razão nessa observação, mas como sabemos há muitos sins e muitos nãos, mesmo dentro da mesma cabeça (e como já disse noutro sítio, não obrigatoriamente por hipocrisia, mas muitas vezes por pura falta de parar e pensar um pouco).
Quanto à afirmação de que «o aborto é sempre difícil e nenhuma mulher o faz por gosto», primeiro é preciso definir claramente o que se quer dizer com a palavra «difícil»: difícil decidir moralmente/eticamente se se faz ou não? difícil pelos perigos (legais e de saúde) existentes? difícil (doloroso) suportar a intervenção? difícil ficar bem com a sua consciência após o aborto? Que tipo de dificuldade é essa que se anuncia?
Depois, mesmo para quem aceite a existência dessas dificuldades (todas ou algumas) não é líquido que haja remorsos: isso em princípio só ocorrerá para quem teve “dificuldades” do primeiro tipo que apresentei ou do último, pois são esses que indiciam problemas de consciência, e só esse tipo de problemas poderá resultar (digo eu) em “remorsos”. (Mais um, é claro: se houver complicações graves resultantes do aborto — septicemia, p. ex. —, isso pode criar remorsos quanto à opção, mas aí não se trata de dilemas quanto ao destino do feto, mas quanto à má sorte da mulher.)
Quanto ao stress pós-aborto, ele pode ser causado por muitas coisas, nomeadamente as más condições do mesmo. A falácia dos do Não é quererem convencer-nos de que se há “stress pós-facto” (chamemos-lhe assim), então isso é sinal ou mesmo prova que o facto em causa (o aborto) é ética e moralmente errado; ora, há muitas mulheres que sofrem de stress pós-parto, e eu não os ouço concluir daí que parir seja ética ou moralmente condenável...
O que eu queria dizer com a refutação do argumento dos “remorsos” e dos “problemas psicológicos” não era que se afirmasse que eles não existem. Todos sabemos que eles existem (para algumas mulheres apenas, os números variam muito de estudo para estudo, et pour cause). O que acho que faltou ser dito é que, havendo quem sinta remorsos, os apoiantes da criminalização do aborto e da culpabilização da mulher têm muitíssimas culpas nisso, pois acrescentam o “pecado” e a ilegalidade às dificuldades meramente médico-sanitárias.
Não sei se se pode chamar isso uma refutação do argumento, mas pelo menos é uma réplica, e faltou ser dita (eu pelo menos não a ouvi na metade a que assisti — e ouvi o argumento dos “remorsos” por parte do Não).
Entre várias coisas que não vi ditas (talvez tenham sido antes de eu começar a ver), faltou rebater o argumento dos “remorsos” e dos “problemas psicológicos” pós-aborto, por exemplo, com isto: os problemas que existam (e o estudo da APF aponta para uma percentagem relativamente baixa), os problemas que existam, dizia, são exactamente potenciados por: (1) consciência da ilicitude; (2) aborto em condições menos dignas; (3) doutrinação (dizem-lhes que é «pecado», que são «assassinas de crianças» e outras barbaridades).
Sobre isto, deparei-me com este post (ou comentário a um post) num blogue que infelizmente não fixei qual era, pelo que não posso dar o devido crédito:
«O natural seria que os pró-escolha (que normalmente dizem que “o aborto é sempre difícil e nenhuma mulher o faz por gosto”) enfatizassem os “remorsos” ou o “sindrome pós-aborto”, e que fossem os pró-vida (pelo menos, os que dizem que o aborto vai ser tão banal como o telemóvel) a os desvalorizarem.»
Há alguma razão nessa observação, mas como sabemos há muitos sins e muitos nãos, mesmo dentro da mesma cabeça (e como já disse noutro sítio, não obrigatoriamente por hipocrisia, mas muitas vezes por pura falta de parar e pensar um pouco).
Quanto à afirmação de que «o aborto é sempre difícil e nenhuma mulher o faz por gosto», primeiro é preciso definir claramente o que se quer dizer com a palavra «difícil»: difícil decidir moralmente/eticamente se se faz ou não? difícil pelos perigos (legais e de saúde) existentes? difícil (doloroso) suportar a intervenção? difícil ficar bem com a sua consciência após o aborto? Que tipo de dificuldade é essa que se anuncia?
Depois, mesmo para quem aceite a existência dessas dificuldades (todas ou algumas) não é líquido que haja remorsos: isso em princípio só ocorrerá para quem teve “dificuldades” do primeiro tipo que apresentei ou do último, pois são esses que indiciam problemas de consciência, e só esse tipo de problemas poderá resultar (digo eu) em “remorsos”. (Mais um, é claro: se houver complicações graves resultantes do aborto — septicemia, p. ex. —, isso pode criar remorsos quanto à opção, mas aí não se trata de dilemas quanto ao destino do feto, mas quanto à má sorte da mulher.)
Quanto ao stress pós-aborto, ele pode ser causado por muitas coisas, nomeadamente as más condições do mesmo. A falácia dos do Não é quererem convencer-nos de que se há “stress pós-facto” (chamemos-lhe assim), então isso é sinal ou mesmo prova que o facto em causa (o aborto) é ética e moralmente errado; ora, há muitas mulheres que sofrem de stress pós-parto, e eu não os ouço concluir daí que parir seja ética ou moralmente condenável...
O que eu queria dizer com a refutação do argumento dos “remorsos” e dos “problemas psicológicos” não era que se afirmasse que eles não existem. Todos sabemos que eles existem (para algumas mulheres apenas, os números variam muito de estudo para estudo, et pour cause). O que acho que faltou ser dito é que, havendo quem sinta remorsos, os apoiantes da criminalização do aborto e da culpabilização da mulher têm muitíssimas culpas nisso, pois acrescentam o “pecado” e a ilegalidade às dificuldades meramente médico-sanitárias.
Não sei se se pode chamar isso uma refutação do argumento, mas pelo menos é uma réplica, e faltou ser dita (eu pelo menos não a ouvi na metade a que assisti — e ouvi o argumento dos “remorsos” por parte do Não).
Etiquetas: Aborto, Eleições e Referendos
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