foto: Bruno Espadana

29 janeiro 2007

#  Esclarecer, para combater a ignorância

O principal inimigo do Sim, para além da abstenção, é mesmo a ignorância. Não digo isso porque ache que exista uma regra geral do tipo “Ignorante => Pelo Não” (muito menos do tipo “Ignorante <=> Pelo Não”). Digo-o porque vejo que muitas pessoas, sinceramente, não sabem do que se fala quando falamos de aborto.

Constatei-o há coisa de um mês na televisão (não me lembro em que canal): uma jornalista abordava na rua uma senhora de meia-idade e perguntava-lhe o que achava da despenalização do aborto. A senhora, muito indignada, dizia que isso era uma atrocidade, que não podia admitir-se tal coisa; e terminava com um desabafo do tipo:
— Ao que isto chegou! No meu tempo não havia nada disto!
— No seu tempo não havia abortos?! — perguntou espantada a jornalista.
— Não, não havia tal coisa!
E a jornalista, num rasgo raro de clarividência:
— E... “desmanchos”?...
Ah! Desmanchos sim... [A voz assumindo um tom de «Isso agora é outra conversa!»]

É contra este tipo de ignorância que temos de lutar.

A luta vai ser dura, e só será vencida se empreendermos uma campanha de esclarecimento que explique aos eleitores que o aborto não é “matar criancinhas” — “aborto” e “interrupção voluntária da gravidez” (expressão que me desagrada) são apenas outras designações para os “desmanchos” de que falavam as nossas mães e avós.

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