# A questão da exigência
Relacionada com a questão da responsabilização está a da exigência, pecado nefando que, supostamente, potencia a exclusão social.
Gabriel Mithá Ribeiro:
Esta é, como diriam os anglo-saxónicos, uma self-fulfilling prophecy: não se lhes exige, porque não estarão “socialmente” preparados para tal — e não ficam preparados para ascenderem socialmente, porque não se lhes exigiu. Sobre esta questão fala Nuno Crato no livro, nunca demasiado celebrado, O ‘Eduquês’ em Discurso Directo: para alguns pedagogos «democráticos», aos filhos dos agricultores não se deveria exigir mais do que saber contar pelos dedos, para os não votar ao insucesso... Keep your expectations low — Salazar não diria melhor (patrioticamente em português, claro).
Esta questão traz-me à lembrança algo que se passou com uma amiga minha: um «inspector» de visita à escola, lendo as actas dos Conselhos de Turma (os inspectores nacionais não se interessam pela qualidade científica das aulas, só pelas actas e demais papelada — e lá voltamos à questão da burocracia), deixou como reparo negativo o facto de a avaliação «não reflectir o contexto socioeconómico dos alunos». Ou seja, deveriam aplicar-se critérios avaliativos diferenciados conforme o aluno em causa fosse filho de um «senhor doutor» ou de um cavador — posição que logo colheu inúmeros apoios na Sala dos Professores. (Há poucos locus mais horrendus do que uma Sala dos Professores...) A minha amiga contestou tal ideia: Se, perante dois trabalhos com igual correcção e qualidade, se deveria olhar ao «contexto socioeconómico», dando melhor nota ao filho do cavador do que ao do «senhor doutor» — e muitas cabeças acenavam concordantemente à sua volta —, que segurança sentiríamos nós, como doentes, se soubéssemos estar perante um médico que, ao longo do seu percurso escolar, foi sucessivamente beneficiado devido ao «contexto socioeconómico» de que provinha? De facto, que só entrara em Medicina devido aos benefícios desse «contexto»? Quereríamos nós ser pacientes de um tal «médico do contexto»?
Ainda na Pontos nos ii, conclui Luís Filipe Torgal:
Parafraseando David Justino, na mediocridade somos todos iguais.
Gabriel Mithá Ribeiro:
Não ser mais exigente na avaliação (por inerência nos comportamentos e no resto) a pretexto do aumento da exclusão social nem sequer é argumento. Há mais de duas décadas que os decisores políticos impuseram (e continuam a impor) o facilitismo com resultados sociais inversos às intenções. Tal só revela preconceitos de classe (dominantes nas elites políticas da esquerda à direita) que pressupõem que os estudantes, particularmente os oriundos de meios sociais desfavorecidos, são dotados de uma inteligência menor a quem nem sequer o elementar se pode exigir, restando esperar que a selecção social comprove a sua inferioridade.
Esta é, como diriam os anglo-saxónicos, uma self-fulfilling prophecy: não se lhes exige, porque não estarão “socialmente” preparados para tal — e não ficam preparados para ascenderem socialmente, porque não se lhes exigiu. Sobre esta questão fala Nuno Crato no livro, nunca demasiado celebrado, O ‘Eduquês’ em Discurso Directo: para alguns pedagogos «democráticos», aos filhos dos agricultores não se deveria exigir mais do que saber contar pelos dedos, para os não votar ao insucesso... Keep your expectations low — Salazar não diria melhor (patrioticamente em português, claro).
Esta questão traz-me à lembrança algo que se passou com uma amiga minha: um «inspector» de visita à escola, lendo as actas dos Conselhos de Turma (os inspectores nacionais não se interessam pela qualidade científica das aulas, só pelas actas e demais papelada — e lá voltamos à questão da burocracia), deixou como reparo negativo o facto de a avaliação «não reflectir o contexto socioeconómico dos alunos». Ou seja, deveriam aplicar-se critérios avaliativos diferenciados conforme o aluno em causa fosse filho de um «senhor doutor» ou de um cavador — posição que logo colheu inúmeros apoios na Sala dos Professores. (Há poucos locus mais horrendus do que uma Sala dos Professores...) A minha amiga contestou tal ideia: Se, perante dois trabalhos com igual correcção e qualidade, se deveria olhar ao «contexto socioeconómico», dando melhor nota ao filho do cavador do que ao do «senhor doutor» — e muitas cabeças acenavam concordantemente à sua volta —, que segurança sentiríamos nós, como doentes, se soubéssemos estar perante um médico que, ao longo do seu percurso escolar, foi sucessivamente beneficiado devido ao «contexto socioeconómico» de que provinha? De facto, que só entrara em Medicina devido aos benefícios desse «contexto»? Quereríamos nós ser pacientes de um tal «médico do contexto»?
Ainda na Pontos nos ii, conclui Luís Filipe Torgal:
[...] não é com alquimias como esta [Despacho Normativo n.º 50/2005], não é com cosméticas políticas fartas de demagogia e irresponsabilidade que o ME irá conseguir promover o sucesso escolar. Em boa verdade, Despachos prestidigitadores como este falsificam as estatísticas do sucesso educativo e prejudicam o país ao fomentarem a legalização de processos de progressão administrativa que irão contribuir para atolar ainda mais Portugal num pântano de incivismo, iliteracia e incompetência.
Parafraseando David Justino, na mediocridade somos todos iguais.
Etiquetas: Educação
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