foto: Bruno Espadana

31 março 2006

#  O benefício da dúvida... mais ou menos

Neste diferendo entre Margarida Rebelo Pinto©®™ (MRP) e João Pedro George (JPG) já escrevi anteriormente: analisando as amostras fornecidas no artigo original (e JPG fornece muitas!), tendo a concordar genericamente com ele; se não assino claramente por baixo é por três razões.

A primeira é que não li os livros de MRP, não podendo por isso ajuizar se existe deturpação por JPG eventualmente citar fora do contexto, ou até que ponto (dimensão e importância para o cerne do livro em causa) chegam as citações ou paráfrases de outros autores — o que, para mim, é crucial para decidir entre um veredicto de plágio ou de intertextualidade.
Este “benefício da dúvida”, no entanto, é mais a manifestação de uma dúvida sistemática do que verdadeira dúvida: se não conheço a obra da autora em primeira-mão, pelo que tenho lido sobre as temáticas e o estilo, existe um profundo divórcio entre o que MRP escreve e o que eu quero ler. (Apesar de muitas das críticas virem de pessoas em cujos gostos literários confio, admito, ainda assim — no capítulo das hipóteses —, serem algumas das críticas tendenciosas.) E a “dúvida” nunca será totalmente desfeita: se o JPG está disponível para perder dias a fio a ler livros só para os demolir, eu não. Posso por vezes ser “enganado” e apanhar pela frente com uma xaropada, mas a vida é demasiado curta e a minha biblioteca já suficientemente farta para desperdiçar conscientemente tempo naquilo que à partida se me afigura ser isso mesmo: um desperdício.

A segunda razão para me controlar nas loas ao trabalho de desmontagem de JPG é que desconfio (mas é mais uma sensação de pele do que uma conjectura substanciada) de que poucos escritores — se é que algum, mesmo os “considerados” pela crítica —, resistiriam incólumes a uma “autópsia” minuciosa como as que JPG costuma fazer (todos temos os nossos maneirismos, os nossos lugares-comuns).

Finalmente, porque mesmo quando concordo totalmente com as ideias do JPG tenho a lamentar-lhe um excesso de indignação e uma certa falta de ironia: é sarcástico, mas falta-lhe alguma sofisticação; acho exagerado levar tão a peito, como se uma ofensa pessoal fosse, a produção escrita alheia.

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