foto: Bruno Espadana

28 março 2006

#  «L’Affaire Lafforgue»

Jorge Buescu escreveu na revista da Ordem dos Engenheiros um interessante artigo (disponível na publicação electrónica Crítica, dirigida por Desidério Murcho) sobre o «affaire Lafforgue», um caso (relacionado com políticas educativas) que, infelizmente, passou ao lado da Imprensa nacional. Conforme diz Buescu:

É extraordinariamente instrutivo ler o documento de Lafforgue. A sua análise, embora sobre a catástrofe que reina no sistema educativo francês, transpõe-se praticamente ipsis verbis para o caso português. Chega a ser arrepiante a forma tão literal como a sua análise se adapta, o que evidencia estar-se perante um fenómeno global e não local.
O melhor mesmo é ler o artigo de Jorge Buescu — ou, para quem dominar o francês, passar pelo site de Laurent Lafforgue —, mas ainda assim não resisto a citar três breves passagens:

De facto, “apelar aos especialistas da Educação nacional: Inspecções gerais e direcções da administração central, em particular direcção da avaliação e de prospectiva e direcção do ensino escolar” é exactamente como se formassem um “Conselho Superior para os Direitos do Homem” e se propusessem apelar aos Khmers vermelhos para constituir um grupo de especialistas para a promoção dos direitos humanos.
(Não consigo deixar de pensar nalguns documentos da responsabilidade do CNE, os nossos próprios Khmers vermelhos da educação — e tremer.)

Estas políticas foram inspiradas por uma ideologia que consiste em passar a não valorizar o conhecimento, associada ao desejo de fazer a escola desempenhar outros papéis que não a instrução e transmissão do saber, à crença em teorias pedagógicas delirantes, ao desprezo das aprendizagens fundamentais, à recusa do ensino construído, explícito e progressivo, à doutrina do aluno “no centro do sistema” que “deve construir ele próprio os seus saberes”.
(Eis uma boa altura para re-recomendar a leitura do último livro de Nuno Crato, O ‘Eduquês’ em Discurso Directo, que vejo com alguma esperança estar no top 10 de vendas das Livrarias Bertrand.)

Finalmente:

[...] este movimento de degradação educativa é muito generalizado, fazendo-se sempre em nome do “progresso” e da “modernização”.
De boas intenções...

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