foto: Bruno Espadana

05 julho 2008

#  Osmose educativa

Instado a comentar o resultado nunca visto do exame nacional de Matemática, o Ministério da Educação afirma que «é seguramente o efeito combinado de três factores», sendo o primeiro deles «mais tempo de trabalho e estudo por parte dos alunos acompanhado pelos professores [...] no âmbito do Plano de Acção para a Matemática».

A ser verdade que este é um dos factores do sucesso agora alcançado, há um corolário a que se pode chegar: que, ao contrário do que alguns autores e professores dizem, a concentração num mesmo espaço de alunos de ciclos de ensino diferentes é benéfica.
(Àqueles que acham que estou a misturar alhos com bugalhos — ou, como diriam no Beco das Sardinheiras, a confundir género humano com Manuel Germano — peço que condescendam um pouco e acompanhem o meu raciocínio.)

Vejamos. O Plano de Acção para a Matemática (P.A.M.) só foi lançado há dois anos e é aplicável apenas ao 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico. Quer isto dizer que, na melhor das hipóteses, os primeiros beneficiários directos do P.A.M. (que só fruíram de um anito do dito Plano) concluíram agora o 11.º ano. Apesar disso, segundo o Ministério, os seus colegas do 12.º ano — que já estavam pelo menos no 10.º ano quando o P.A.M. foi introduzido — tiraram benefícios desse Plano com que nunca contactaram. Milagre? Telepatia? Mentira pura e simples? Nada disso. Pensando um pouco, a resposta surge óbvia: Osmose.

Isso mesmo. A mera convivência, nos pátios e corredores das escolas, com os colegas mais novos sujeitos ao P.A.M. granjeou aos alunos que agora concluíram o 12.º ano aquele extra something que lhes permitiu bater o recorde a Matemática!

(Um artigo de fundo — Osmosis-based Learning in Homo Lusitanensis specimens — sobre o fenómeno agora identificado em Portugal está já a ser escrito por M. L. Rodrigues e V. Lemos para futura publicação na prestigiada revista Nature. Especialistas prevêem que este artigo seminal estabelecerá os fundamentos de uma nova forma de aprendizagem, que vai tornar o e-Learning ultrapassado e sem qualquer élan; a designação proposta é o-Learning.)

E note-se: este efeito osmótico foi conseguido num ambiente inóspito, em que os alunos cujas aulas não se realizem são mantidos em cativeiro em (in)actividades de substituição. Pudessem os alunos do 12.º ano («P.A.M.-deprived specimens», na terminologia do artigo em preparação), pudessem estes alunos, dizia eu, circular livremente pelos pátios escolares, contactando sem mais impedimentos com os colegas beneficiários do P.A.M. («P.A.M.-enhanced specimens»), e sabe-se lá onde as potencialidades da aprendizagem por osmose nos poderiam ter levado!

De repente, uma escala até 20 começa a parecer limitadora...

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