# Li e concordei (1)
De António Paulo Costa, no Público de hoje:
IDEOLOGIA, RECTÓRICA E DEMOCRACIA
[...] Enfastiada com a inconsequência das sanhas reformadoras dos seus antecessores, Maria de Lurdes Rodrigues declarou, no programa Prós e Contras de 18 de Setembro último, que “o país não aguenta mais reformas educativas”. Há uma que aguentávamos bem: a do próprio Ministério da Educação. Nele habitam, por usucapião, hordas de técnicos que, independentemente da sua competência, fazem valer um poderzinho de retaguarda que o seu tempo de ocupação dos gabinetes, que supera largamente o dos ministros, sedimenta por natureza. E são muitos deles que asseguram que a ideologia “eduquesa” singre, em casual encontro de interesses com a obsessão fazedora da titular da pasta. Ter ideias ou agir segundo ideologias não é crime, note-se. Mas quando estes anónimos sem poder decisório formal, sem mandato concedido pelo povo e sem obrigação de sujeitar a escrutínio público as ideias que fazem valer administram, de facto, a Educação, estamos perante um totalitarismo de secretaria que é incompatível com a democracia. O que era uma ideologia educativa discutível torna-se, assim, uma ditadura educativa inexpugnável. Não há ministra — obstinada ou não — que lhes toque, não há argumentação que os persuada ou vença, não há voto que os eleja ou afaste.
No entanto, as ideologias educativas instaladas nos corredores do ministério lá vão, paulatinamente, apoucando o Conhecimento nos currículos e a exigência nas salas de aula, em favor de um “sucesso” e redução do abandono escolares para OCDE ver. [...]
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