# Portugal: o Sr. P. à luz da neuropsicologia
Estou nas páginas finais de um livro apaixonante sobre neuropsicologia: O Homem-Termómetro: O cérebro em peças soltas, de Laurent Cohen (Gradiva, 2006). Na página 162, em que o autor descreve os sintomas de um certo Sr. T., não pude deixar de pensar que o mesmo diagnóstico se poderia aplicar ao Sr. P., um país que vai por aí com o nome de Portugal...
Mais à frente (p. 164) temos até explicação para, por um lado, a nossa predilecção por modelos “chave-na-mão” (o modelo francês, o modelo anglo-saxónico, o modelo irlandês, o modelo nórdico, o modelo finlandês...), que desejamos aplicar acriticamente ao nosso caso, e, por outro, para a nossa crónica permanência no passado, a nossa incapacidade de seguir em frente:
O Sr. P. — Portugal — não consegue, como Mark Twain disse das pessoas inteligentes, «cometer sempre novos erros». Ou, como disse outro autor (de momento não recordo quem): «Errar, errar de novo, errar melhor».
[...] O Sr. T. sofre de uma doença bastante rara [«síndrome frontal»], que consiste numa degenerescência dos neurónios da região pré-frontal. Trata-se de uma doença cuja progressão é lenta, mas irreversível, infelizmente sem tratamento eficaz até hoje. [...] trata-se da perda de qualquer iniciativa autónoma. Em resumo, poderíamos dizer que por sua própria iniciativa o Sr. T. já nada faz, embora seja potencialmente capaz de acções e de um discurso normal. De facto, é o córtex pré-frontal que toma normalmente a iniciativa das novas actividades, planificadas com a finalidade de chegar a um fim significativo. Ora o Sr. T. já não tem qualquer objectivo próprio. Age apenas em resposta a circunstâncias exteriores que desencadeiam nele comportamentos rotineiros.
Mais à frente (p. 164) temos até explicação para, por um lado, a nossa predilecção por modelos “chave-na-mão” (o modelo francês, o modelo anglo-saxónico, o modelo irlandês, o modelo nórdico, o modelo finlandês...), que desejamos aplicar acriticamente ao nosso caso, e, por outro, para a nossa crónica permanência no passado, a nossa incapacidade de seguir em frente:
Tal como as duas faces de uma mesma moeda, por um lado o comportamento do Sr. T. já não é devidamente guiado pelas suas iniciativas autónomas (não faz nada de sua própria iniciativa) e por outro lado está demasiado dependente das solicitações exteriores (imita e utiliza). Mas, pelas mesmas razões, está também demasiado dependente do seu passado. A inércia cognitiva torna difícil a passagem de uma actividade à outra e impede as actividades espontâneas. O cúmulo da sujeição à rotina é a repetição incessante da mesma acção.
O Sr. P. — Portugal — não consegue, como Mark Twain disse das pessoas inteligentes, «cometer sempre novos erros». Ou, como disse outro autor (de momento não recordo quem): «Errar, errar de novo, errar melhor».
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