# Crítica de cinema em estado crítico
Definitivamente não percebo nada de cinema. Sempre soube não ser um cinéfilo (muito menos um cinélogo, se é que isso existe), mas agora tenho a certeza de que a minha bússola anda desnorteada face ao pólo magnético dominante.
A certeza quanto àquilo que era até agora “apenas” uma forte desconfiança chegou-me com a classificação de dois filmes actualmente em cartaz: Piratas das Caraíbas 2 e Miami Vice.
O primeiro, com o idiossincrático Johnny Depp no papel principal, tem uma classificação quase unânime no painel de críticos do Público: Jorge Mourinha, Luís M. Oliveira e Vasco Câmara atribuem-lhe uma estrela (“Dispensável”) e Mário J. Torres enterra-o mesmo com o famoso ponto negro (“A evitar”).
Quanto ao segundo, protagonizado por Colin Farrell (e Jamie Foxx — mas a agonia é devida a Farrell) recebe aplausos em uníssono: 4 x 4 estrelas (“Imprescindível”)! E até o Pedro Mexia se lhe refere como «(óptima) versão cinematográfica»!
Antes da estreia de Miami Vice eu interpretava a crítica demolidora a Piratas das Caraíbas 2 como um sinal de pseudo-intelectualismo serôdio: ai jesus, que horror, um filme sem densidade psicológica, de puro entretenimento! Não aceitava isso — há lugar para filmes de todos os géneros, e o filme de Johnny Depp atinge uma boa prestação no género em que se inscreve —, mas pensava compreender a lógica subjacente à classificação. Agora, vendo as reacções a Miami Vice, concluo que não compreendo nada.
Se em Piratas das Caraíbas 2 o ritmo é frenético, Miami Vice pauta-se por uma lentidão desesperante. Se Johnny Depp rouba todas as cenas em que participa, Colin Farrell nem o sono nos rouba (antes o promove): as suas personagens (todas as que me lembro dele como protagonista) não têm carisma, são amorfas, andam aos caídos pelo ecrã... Johnny Depp é histriónico (magistral, deliberada e hilariantemente histriónico) — Colin Farrell tem o carisma de um autista: em 80% das cenas os seus olhos fixam-se, mortiços, num ponto ao fundo do set por trás dos cameramen como quem, com pouca convicção, olha um estereograma...
E a todos estes defeitos, Miami Vice não contrapõe virtudes. A sua densidade psicológica está ao nível do teor alcoólico da água do Luso. A técnica narrativa é do mais banal, em linha com o argumento. Não se lhe vêem grandes méritos em termos de fotografia, de montagem, de banda sonora. E nem os efeitos especiais ou as “gajas” e os “gajos” são dignos de nota. Resumindo, Miami Vice não traz nada de novo e traz pouquíssimo de bom.
Ou seja, (i)modestamente opinarei que Miami Vice não tem nada que agrade ao vasto espectro de espectadores: da populaça mais básica às cliques (pseudo-)intelectuais, passando pelos fanáticos da técnica e pelos pragmáticos em busca de duas horas bem passadas, todos saem defraudados. Mas a crítica diz que não.
No Cinecartaz do Público classifica-se Miami Vice como um filme de acção, crime e drama. Acção, convenhamos, muito pouca e fraca (dir-se-ia que Miami Vice é um filme de acção não praticante). Crime, sem dúvida — mas menor do que o de cantar-lhe loas. E isso, sim, é que é um drama.
A certeza quanto àquilo que era até agora “apenas” uma forte desconfiança chegou-me com a classificação de dois filmes actualmente em cartaz: Piratas das Caraíbas 2 e Miami Vice.
O primeiro, com o idiossincrático Johnny Depp no papel principal, tem uma classificação quase unânime no painel de críticos do Público: Jorge Mourinha, Luís M. Oliveira e Vasco Câmara atribuem-lhe uma estrela (“Dispensável”) e Mário J. Torres enterra-o mesmo com o famoso ponto negro (“A evitar”).
Quanto ao segundo, protagonizado por Colin Farrell (e Jamie Foxx — mas a agonia é devida a Farrell) recebe aplausos em uníssono: 4 x 4 estrelas (“Imprescindível”)! E até o Pedro Mexia se lhe refere como «(óptima) versão cinematográfica»!
Antes da estreia de Miami Vice eu interpretava a crítica demolidora a Piratas das Caraíbas 2 como um sinal de pseudo-intelectualismo serôdio: ai jesus, que horror, um filme sem densidade psicológica, de puro entretenimento! Não aceitava isso — há lugar para filmes de todos os géneros, e o filme de Johnny Depp atinge uma boa prestação no género em que se inscreve —, mas pensava compreender a lógica subjacente à classificação. Agora, vendo as reacções a Miami Vice, concluo que não compreendo nada.
Se em Piratas das Caraíbas 2 o ritmo é frenético, Miami Vice pauta-se por uma lentidão desesperante. Se Johnny Depp rouba todas as cenas em que participa, Colin Farrell nem o sono nos rouba (antes o promove): as suas personagens (todas as que me lembro dele como protagonista) não têm carisma, são amorfas, andam aos caídos pelo ecrã... Johnny Depp é histriónico (magistral, deliberada e hilariantemente histriónico) — Colin Farrell tem o carisma de um autista: em 80% das cenas os seus olhos fixam-se, mortiços, num ponto ao fundo do set por trás dos cameramen como quem, com pouca convicção, olha um estereograma...
E a todos estes defeitos, Miami Vice não contrapõe virtudes. A sua densidade psicológica está ao nível do teor alcoólico da água do Luso. A técnica narrativa é do mais banal, em linha com o argumento. Não se lhe vêem grandes méritos em termos de fotografia, de montagem, de banda sonora. E nem os efeitos especiais ou as “gajas” e os “gajos” são dignos de nota. Resumindo, Miami Vice não traz nada de novo e traz pouquíssimo de bom.
Ou seja, (i)modestamente opinarei que Miami Vice não tem nada que agrade ao vasto espectro de espectadores: da populaça mais básica às cliques (pseudo-)intelectuais, passando pelos fanáticos da técnica e pelos pragmáticos em busca de duas horas bem passadas, todos saem defraudados. Mas a crítica diz que não.
No Cinecartaz do Público classifica-se Miami Vice como um filme de acção, crime e drama. Acção, convenhamos, muito pouca e fraca (dir-se-ia que Miami Vice é um filme de acção não praticante). Crime, sem dúvida — mas menor do que o de cantar-lhe loas. E isso, sim, é que é um drama.
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