foto: Bruno Espadana

18 maio 2006

#  Factos

Acho piada a quem acusa o livro de Dan Brown de «enganar os leitores» por começar com a afirmação:
Facto: [...] Todas as descrições de obras de arte, edifícios, documentos e rituais secretos que aparecem neste romance são exactas.

Serão essas pessoas uns leitores tão básicos, ao ponto de não perceberem que uma obra de ficção é-o do princípio ao fim, estando por isso “habilitada” a classificar como “factos” aquilo que bem lhe aprouver?

Veja-se o caso dos filmes de terror, em que a certa altura uma personagem poderá dizer: «Eu queria que isto fosse um pesadelo, mas afinal é real!» (É?)
Veja-se o caso de Saramago, que em epígrafe começou por citar autores reais e livros que existem (Estrabão, Fernão Lopes, Diderot, Evangelho de Lucas...), para a partir de certa altura passar a citar livros que só existem na sua biblioteca imaginária (Livro dos Conselhos, Livro das Evidências, Livro dos Contrários).

Obviamente, o leitor é livre (ou passível) de aceitar como factual algo que, em essência, é ficcional. Mas isso acontece desde sempre: veja-se o Bhagavad Ghita, veja-se o Livro de Mórmon, veja(m)-se a(s) Bíblia(s), veja-se o Corão... Em termos de credulidade — e citando um dos anteriores —, nihil nove sub sole.

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