foto: Bruno Espadana

15 março 2006

#  Compensação — ou válvula de escape?

Gostaria de recuperar aqui uma breve citação do artigo de David Justino na Pontos nos ii:
[...] a televisão, a consola de jogos, a Internet, a obsessão consumista, quantas vezes utilizados como forma de compensação dessa ausência afectiva dos pais.
Embora concorde com a maior parte do texto do ex-ministro da Educação, penso que neste caso em concreto peca por demasia de bondade ou optimismo, dando dos pais uma imagem mais positiva (ainda assim) do que eles no geral merecem. Para David Justino, as «vontadinhas todas» que os pais fazem aos filhos são o reflexo de um certo sentimento de culpa pela ausência afectiva, decorrente da vida moderna: não te dou a atenção que precisas, mal toma lá a consola. Ora, se isto também é verdade, não é a única verdade: não raras vezes, o «apetrechamento» dos filhos serve, não para compensar, mas para possibilitar a ausência afectiva. Não vá a miúda andar à nossa volta a toda a hora, compra-se uma televisão só para ela; antes que o puto chateie, o melhor é arranjar-lhe uma ligação ADSL... São o equivalente doméstico das “countermeasures” navais: dispositivos (espécie de iscos, “decoys”) com os quais se tenta desviar do nosso submarino os torpedos inimigos, para que expludam bem longe.

Ah! O sossego que é «despachar» a prole para o quarto...

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