foto: Bruno Espadana

14 março 2006

#  Pontos nos ii (1)

A edição do Público de hoje inclui o n.º 3 da Pontos nos ii («Revista Mensal de Política Educativa»). A impressão resultante de um folhear rápido e da leitura de parágrafos dispersos é de que esta é uma publicação que merece ser lida com atenção. Razão por que será natural que nos próximos dias escreva aqui coisas suscitadas pela sua leitura, ou que cite um ou outro texto.

Para já, umas breves passagens do editorial de Santana Castilho («Venham os Bárbaros!»), com destaques adicionais da minha responsabilidade:
Nesta edição da Pontos nos ii entrámos no «pavilhão» da Escola, onde o esforço deu lugar ao facilitismo, o trabalho à preguiça, o rigor científico ao totalitarismo pedagógico, a disciplina à indisciplina. [...]
[...] A escola não se realiza sem sacrifícios, disciplina e trabalho. Mas, fora da escola, a indústria da comunicação e do espectáculo faz a apologia do prazer imediato, do consumo supérfluo, da extravagância e do efémero. [...] Os pais deixaram de ser os aliados primeiros do professor na modelação dos filhos. Hoje, delegam neles todas as responsabilidades, mesmo as indelegáveis. E depois acusam e exigem. [...]
Concordo no essencial com Santana Castilho, mas não gostaria de deixar passar em claro uma omissão do director da Pontos nos ii: a «apologia do prazer imediato» no ensino não é exclusiva da «indústria da comunicação e do espectáculo». Fosse assim, e estaríamos nós bem melhor do que estamos. A ideia do prazer constante ao longo de todo o processo de aprendizagem — e a ocultação do facto (ou a recusa da ideia) de que o processo é frequentemente difícil ou enfadonho, requerendo esforço e perseverança, residindo o prazer muitas vezes apenas num resultado de sucesso — é uma bandeira também de certos teóricos da pedagogia, que emprestam às práticas laxistas um ilusório verniz de cientificidade. Tal verniz, como é patente no caso português (mas há muito quem não queira ver), é de fraca qualidade e estala facilmente.

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