foto: Bruno Espadana

30 novembro 2007

#  La Traviata

Noite. Foyer do Teatro de Vila Real. De repente, com uma atitude entre o decidida e o perdida, desce as escadas uma gatinha. É mansa, deixa-se agarrar com facilidade, não se opõe ao colo que logo eu e umas amigas mais lhe damos. O olhar nervoso denuncia o seu estado de confusão. Quando a música (há espectáculo no café-concerto) é mais mexida, tenta fugir, mas sem grande convicção. Está bem tratada e alimentada, tem claro à-vontade com os humanos e, vemos depois, por debaixo do seu pêlo farto esconde-se uma coleira bonita. Tem claramente dono: deve ter saltado da varanda de uma das casas vizinhas e não sabe como voltar.

Hesito sobre o que fazer, mas não muito. Chamo um táxi e sigo para casa. Antes, uma amiga tira-lhe fotos; amanhã enviar-mas-á. Então farei cartazes e afixá-los-ei nas ruas próximas ao teatro. No fundo, no fundo, espero que ninguém a reclame, mas sei que dificilmente será assim.

Neste momento a gatinha ronrona numa caixa de sapatos que improvisei como cama para ela. Um pano do chão (seco e limpo) é o pouco que tenho para lhe dar algum conforto. (O mal de uma casa nova é, vejo agora, a falta de coisas velhas apropriadas a estas situações.) Outra caixa, cheia com a estranha gravilha sintética que cobre os ex-jardins do largo onde moro, faz a vez de WC; pareceu menos convencida do que com a cama, mas espero que sirva...

Nestas (é quase certo) poucas horas em que é minha, chamar-se-á La Traviata.

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