Há uns anos, quando me iniciei nestas coisas da
web, dediquei uma secção do meu primeiro
site ao Maio de 68 (
slogans, cartazes,
cartoons, murais, etc.). Um conhecido meu, polaco, tentou na altura fazer-me ver o fenómeno segundo a perspectiva (bem menos favorável) dos que tinham tido o azar de nascer do lado errado da Cortina de Ferro. Sem sucesso: apesar de não me identificar de todo com a ideologia comunista, eu era no fundo um romântico e encolhi os ombros, dizendo que o Maio de 68 era outra coisa, e que ele (o polaco que me falava) simplesmente não conseguia perceber a
poesia do movimento
soixante-huitard.
Hoje, vendo as imagens e as notícias dos confrontos em Paris, penso de forma diversa. Talvez a razão seja eu ter entretanto mudado (mudei certamente — gosto de pensar que evoluí), ou o mundo ter mudado. Ou quiçá a culpa seja de um
défice poético no movimento actual. Mas, acima de tudo, penso que, face a 1968, a revolta estudantil dos dias que correm perde inapelavelmente num aspecto: falta-lhe a beleza concedida pelo verniz de se situar convenientemente num passado que não vivi.
Para o Wladimir.