foto: Bruno Espadana

31 maio 2008

#  As Guerras da Auto-Estrada Transmontana

A adjudicação do prolongamento da A4 até Vila Real (primeira fase da chamada Auto-Estrada Transmontana) deu azo a longa discussão na caixa de comentários do Público online. Temos de tudo, desde moradores de Caparica que acham que uma auto-estrada em Trás-os-Montes é um desperdício porque «a maioria [dos transmontanos] nem carro tem» (sic!) a denunciadores de tudo quanto seja negócio chorudo, passando por toda a sorte de deserdados do mundo e instigadores de conflitos inter-regionais (Norte/Sul, Interior/Litoral, Lisboa/Paisagem, Celtas/Mouros…).

Uma das questões que muitos referem é a do retorno do investimento. Neste capítulo, há muita gente a fazer contabilidade de merceeiro. Segundo eles, a obra só se justificaria se num tempo útil o valor das portagens retornasse o dinheiro gasto na sua construção, o que obviamente não vai acontecer (citando um dos comentadores, «a 35 milhões por km, e a 10 cêntimos de portagem por km, terão que passar lá 350 milhões de utentes para a pagar…»).
Ora, esta ideia é um erro. Uma obra como esta justifica-se se, pela existência da auto-estrada, a economia da região sair reforçada (mais emprego, mais impostos, maior rendimento per capita…), se as populações se fixarem na região em vez de saírem do país ou irem para Lisboa aumentar os problemas sociais, o desequilíbrio populacional e o congestionamento no IC19 e na Ponte 25 de Abril... Se isto acontecer, não só a região sai beneficiada, mas todo o país sai beneficiado, pois um país com menos desequilíbrios regionais é um melhor país, mais rico, com mais qualidade de vida e onde, por isso, é bom viver.

Agora, uma questão bem diferente é saber se uma auto-estrada tem todos esses efeitos positivos numa região. Pessoalmente, acho que não. A esmagadora maioria dos supostos benefícios das “acessibilidades” são uma miragem: não são, certamente, condição sine qua non para o desenvolvimento (veja-se o caso da Irlanda), muito menos são uma sua condição suficiente (veja-se, infelizmente, o nosso caso como país...). Mas isto é verdade tanto para Trás-os-Montes como para o Porto, Lisboa ou a Caparica...

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#  Hortografia

Helena Araújo sobre o Acordo Ortográfico:
Também não concordo com simplificações da ortografia para facilitar a aprendizagem. Isso equivale a, desculpem a ofensa, fazer uma hortografia: ortografia para nabos.

Nota: Concordo no geral com a opinião de Helena Araújo sobre o Acordo Ortográfico. Pena que caia na ignorância (infelizmente tornada cliché) de falar em «mínimo denominador comum», que é coisa que não existe... (O termo correcto é «máximo denominador comum», mas como só é usado vox populi com intenção de denegrir, penso que a quem escreve parece melhor dizer «mínimo» e não «máximo», não vá o leitor pensar que é coisa positiva... Deve ter sido por aí que tudo começou; depois a ignorância tratou de consagrar a expressão.)

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27 maio 2008

#  Depois da Geração X... a Geração Y

(c) Beaudet / Jornal de Québec (Canadá)Cartoon de Beaudet / Journal de Québec (Canadá)

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24 maio 2008

#  Adopção

Esta semana, o Procurador-Geral da República defendeu uma alteração legislativa que impeça a adopção de crianças por pedófilos condenados.

Saúdo a preocupação do Procurador-Geral da República, mas na prática a alteração legislativa é desnecessária: com toda a burocracia associada à adopção em Portugal, quando a papelada está finalmente concluída, a criança cresceu — e o pedófilo, por definição, perdeu o interesse nela...

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21 maio 2008

#  Saber fazer contas — e saber o que fazer com elas

O Presidente Executivo (CEO) da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira, «passou ao contra-ataque e devolve pressões ao Governo», afirmando que «Petróleo pesa um terço no custo total dos combustíveis».

Em reacção a esta notícia, Rui Cabral, do blogue Palermice de Bacalhau, devolve as pressões à Galp:
Então se o Petróleo pesa apenas um terço no custo total dos combustiveis a que se deve o aumento brutal de preços que se tem vindo a verificar?!?

Mesmo que os preços tivessem aumentado 50% (de 60 euros para 90 euros, sendo que o barril ainda nao chegou aos 90 euros) os portugueses sabem multiplicar… sabem 33% (custo do petroleo no total dos cumbustiveis) x 50% (aumento nos combustiveis) = 16,5%.

33% x 50% = 16,5% de aumento!!!

e não 50%!!!
[...]

A ideia de Manuel Ferreira Oliveira é simples, baixe-se os impostos em 30%, a Galp baixa os preços em 10% e todos ficamos felizes. O lucro da Galp aumenta e o “tuga” paga menos e gasolina, e como a vista é curta o “tuga” não se importa que o Estado deixe de ganhar para uma empresa ganhar, desde que ganhe (em termo privados) um pouco. Esses preferem pressionar ainda mais o Estado.

Nem o CEO da Galp nem o CEO do Palermice de Bacalhau sabem fazer contas (ou querem fazê-las).

Sendo verdade que o petróleo só representa 33% do preço final dos combustíveis, não é verdade que o aumento de 50% no preço do petróleo só seja reflectido em 0,33 x 50% no aumento do preço final dos combustíveis.
Os impostos são indexados ao preço-base, pelo que se o preço-base aumenta (em função do aumento da matéria prima), o valor correspondente ao imposto aumenta proporcionalmente, mantendo-se constante o seu peso percentual no preço final.

Vejamos o que se passa com o IVA: se o preço-base é 100 e o IVA é 21%, o preço final é 121 (i.e., 100 x 1,21). Mas se o preço base aumentar para 200, o preço final não é 221, mas 242 (i.e., 200 x 1,21).
Ou seja, um aumento para o dobro do preço base (2 x 100) resulta num aumento para o dobro do preço final (242 = 2 x 121).

Genericamente, um aumento de X% no preço base (antes dos impostos) significará um aumento de X% no preço final (já com impostos). Isto só não será assim se o valor do imposto não for perfeitamente percentual: por exemplo, se for um valor monetário fixo (seria mais uma taxa do que um imposto) ou se for percentual, mas com diferentes escalões.

Obviamente, isto não invalida duas coisas:

1. Que o CEO da Galp tem razão ao pôr a culpa da falta de competitividade dos combustíveis nacionais na carga de impostos (que o digam os gasolineiros da fronteira).

2. Que o CEO do Palermice de Bacalhau tem razão ao prever que uma diminuição do ISP prejudicaria o Estado sem beneficiar (significativamente) os consumidores, pois a diferença iria (quase) integralmente para os bolsos das petrolíferas. (Veja-se o que aconteceu com a baixa do IVA nos ginásios; e falta pouco para vermos o que vai acontecer com a baixa geral da taxa máxima de IVA...)

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16 maio 2008

#  “Newspeak” eduquês

Há não muitos dias, em entrevista ao Correio da Manhã, a inefável Maria de Lourdes Rodrigues declarou que

«Facilitismo é chumbar»
Esta sentença vai bem junta com estas:

Na “novilíngua” (newspeak, no original) imposta pelo Governo do “Grande Irmão”, o Ministério do Amor encarrega-se da repressão e da tortura, o Ministério da Paz perpetua a guerra, o Ministério da Verdade falsifica a história...

(Em Portugal, Maria de Lourdes Rodrigues vai dando o seu modesto contributo no Ministério da Educação.)

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11 maio 2008

#  Birmânia: Dúvida estatística

Pergunto-me quantas pessoas terá a Junta Militar da Birmânia “despachado” por conta do ciclone...

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