foto: Bruno Espadana

29 março 2008

#  Eppur è tutto vero...

26 março 2008

#  Estar à beira do precipício e dar um passo em frente

Eric Alterman, sobre a crise da imprensa escrita (The New Yorker, edição desta semana):
[...] In the Internet age [...] no one has figured out how to rescue the newspaper in the United States or abroad. Newspapers have created Web sites that benefit from the growth of online advertising, but the sums are not nearly enough to replace the loss in revenue from circulation and print ads.
Most managers in the industry have reacted to the collapse of their business model with a spiral of budget cuts, bureau closings, buyouts, layoffs, and reductions in page size and column inches. Since 1990, a quarter of all American newspaper jobs have disappeared. The columnist Molly Ivins complained, shortly before her death, that the newspaper companies’ solution to their problem was to make “our product smaller and less helpful and less interesting.” [...]

Etiquetas: , ,

#  Qual Green Card, qual quê! (22)

A New Yorker iniciou em 2005 um concurso de legendagem de cartoons: em cada número um dos cartoonistas da revista cria uma imagem (geralmente absurda) sem qualquer texto, devendo os leitores fornecer a legenda apropriada. As três melhores legendas são postas à votação e o vencedor é premiado com uma gravura do cartoon, devidamente assinada pelo artista, onde consta a sua legenda.
O senão de tudo isto é que se tem de ser residente nos EUA para poder concorrer. Não conformado com isso, apresento aqui a minha sugestão para o cartoon n.º 139:


(c) Leo Cullum / The New Yorker
«Missing pieces of the puzzle? What missing pieces of the puzzle?...»

Desenho de Leo Cullum /The New Yorker

Etiquetas: , ,

#  Qual Green Card, qual quê! (21)

A New Yorker iniciou em 2005 um concurso de legendagem de cartoons: em cada número um dos cartoonistas da revista cria uma imagem (geralmente absurda) sem qualquer texto, devendo os leitores fornecer a legenda apropriada. As três melhores legendas são postas à votação e o vencedor é premiado com uma gravura do cartoon, devidamente assinada pelo artista, onde consta a sua legenda.
O senão de tudo isto é que se tem de ser residente nos EUA para poder concorrer. Não conformado com isso, apresento aqui a minha sugestão para o cartoon n.º 136:


(c) Drew Dernavich / The New Yorker
«OK, it gives away my stance on death penalty, but other than that...»

Desenho de Drew Dernavich /The New Yorker

Etiquetas: , ,

25 março 2008

#  Arrancar portas e janelas, e depois lamentar as correntes de ar

Nesta época populista em que tanto se fala em «abrir a Escola à Comunidade» ou «trazer a Comunidade para dentro da Escola», dando voz e voto na sua gestão e orientação a todo o bicho-careto, Gabriel Mithá Ribeiro tem remado contra a maré. Desde há vários anos que este professor (por via das circunstâncias, tornado autor de livros sobre o nosso sistema educativo) vem defendendo um rumo precisamente oposto ao ditado pelo Ministério da 5 de Outubro: heresia das heresias, Mithá Ribeiro reclama uma maior separação entre a Escola e a Sociedade envolvente como medida preventiva da fagocitose daquela por esta e da resultante ineficácia do papel da instituição de ensino.

Cito de seguida (algo longamente) duas passagens de dois textos do autor em causa (recomendando desde já a leitura integral dos livros):

A Pedagogia da Avestruz (2003), pp. 54–55:
[...] devo ter o cuidado de alertar para o dogma que tende a tomar como dado adquirido uma relação directa, tipo causa-efeito, entre a sociedade e a escola, como se a última fosse um mero reflexo ou espelho da primeira. Isso não só não é um dado adquirido, como acredito que a escola é ou tem de ser um espaço relativamente artificial onde se têm de esbater as diferenças sociais trazidas de fora dela. Só assim o ensino será socialmente mais justo, esbaterá diferenças sociais de toda a ordem, em vez do actual que, como está, só tem servido para agravá-las. Mas para que a escola cumpra essa sua missão, tem de se fechar em torno do conhecimento. Tal só se atinge em ambientes estáveis. Ou seja, defendo que a escola seja descontaminada ou relativamente imunizada da histeria social em que vivemos. O que pode parecer uma heresia nos dias que correm, é para mim a via mais adequada. Significaria uma verdadeira mudança de paradigma de que tanto a escola quanto a sociedade estão gravemente necessitadas. Tenho insistido neste ponto, porque reclamo uma maior autonomização da escola de tudo o resto, mesmo e sobretudo da família, como condição sine qua non do seu sucesso.
Se a escola passar a ser concebida assumidamente como um espaço limitado com uma identidade própria, sem se confundir seja com o que for, terá toda a legitimidade para estabelecer regras próprias que apenas valem nas suas fronteiras, sem que terceiros se arroguem a um sistemático direito de interferência. Tudo ficaria muito mais fácil.
No estado actual em que tudo se confunde, se as crianças e jovens têm determinado tipo de relacionamento com os progenitores ou padrões de comportamento familiar (desadequados ou não, por agora não interessa), acham legítimo reproduzi-los na escola, tida como extensão da família. Há nisto culpas da própria escola e de todo o sistema de ensino.

A Lógica dos Burros (2007), p. 173 (artigo publicado originalmente no n.º 8 da revista Pontos nos ii, de Agosto de 2006):
[...] A escola, antes de ser o espaço dos alunos, antes de ser o espaço dos professores, deve ser o espaço específico do conhecimento. Tal consegue-se através de medidas políticas de carácter curricular, pedagógico ou administrativo que remetam para a centralidade simbólica do conhecimento no contexto da instituição-escola. Infelizmente, a esse nível, continuamos a navegar em sentido contrário, para fora da filosofia (trocando a centralidade do «amor» ao Saber pela centralidade do «amor» ao aluno) e para fora da escola (trocando a decisiva artificialidade da escola em torno dos «agentes de dentro», da escrita, da leitura e do cálculo, pela valorização, dentro da escola, dos pais e encarregados de educação que arrastam para o seu interior «os interesses e preocupações das comunidades», muitas vezes nos seus piores vícios).

Vem isto a propósito de uma notícia publicada hoje no Público online, de que reproduzo a seguir um excerto:

Violência nas escolas é um problema que vem de fora, diz secretário de Estado

O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, disse hoje, em entrevista à TSF, que a violência nas escolas se deve a factores externos às instituições e que os estabelecimentos têm mecanismos para atacar estes problemas. As declarações do responsável vêm no seguimento do procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, citado pelo "Diário Económico", ter pedido mais autoridade para os professores.
Valter Lemos sustentou a sua opinião com os dados do programa “Escola Segura” que foram recebidos pelo ministério e onde os comandantes da polícia garantem que os problemas são “importados de fora” e que o ministério está a agir na resolução desta situação.

Não deixa de ter a sua piada, tudo fazer para esboroar o «cordão sanitário» que protegia a Escola das influências do exterior e depois apontar o dedo acusador aos «factores externos» assim que os problemas daí resultantes começam a atingir proporções que já não permitem ignorá-los...

Etiquetas:

23 março 2008

#  Reformas

Numa altura em que se fala da reforma ortográfica (vulgo, Acordo Ortográfico) que visa aproximar a grafia do português europeu à do português brasileiro (é assim mesmo, não vale a pena fantasiar um suposto “middle ground”), deparo-me com este excerto na página 155 de Empires of the Word: A Language History of the World (Nicholas Ostler, HarperCollins, 2005) sobre a milenar duração, virtualmente sem alterações, dos sistemas de escrita da China e do Antigo Egipto:
This resistance to script reform [in Ancient Egypt and China] really shows no more than that these cultures had already [...] achieved a stable incorporation of writing into their way of life. Asking for a replacement of the writing system in such a literate administration was no more practicable than the various attempts to introduce spelling reform into modern English.

Mas isso qualquer pessoa minimamente informada sabe: o inglês escrito é ortograficamente conservador, a sua grafia está significativamente desligada da fonética e as “normas” variam não só de país para país, mas mesmo entre grupos mais restritos (um exemplo paradigmático é a revista The New Yorker) — mas tais “barreiras” não impediram a afirmação da língua inglesa como língua franca a nível mundial e como língua de ciência e cultura, nem limitou a circulação global de livros e revistas escritos nas diferentes grafias.
(A ideia de que tais idiossincrasias são barreiras ao sucesso da língua, ou que derrubar tais moinhos de vento abrirá caminho a um futuro radioso — «amanhãs que cantam» português?... — é uma ilusão cara a alguns políticos respaldados por linguistas que buscam naqueles a autoridade política que compense a sua falta de influência na sociedade, e vice-versa.)

Mais interessante é a frase com que Nicholas Ostler continua:
It could only be feasible if the systems of education and administration were so severely disrupted that the succession was broken, and a new start could be made.
o que me faz pensar se a paulatina destruição (vulgo, as sucessivas «Reformas») do currículo do Ensino Básico e Secundário a que vimos assistindo nas últimas décadas não visa, afinal, garantir por antecipação o sucesso da entrada em vigor do dito Acordo Ortográfico...

Etiquetas: , ,

19 março 2008

#  Não me lembra nada nem ninguém (7)

«Aprender sem pensar é inútil. Pensar sem aprender é perigoso.»
(Confúcio, Lúnyŭ, ii.15)

Etiquetas: , , , ,

06 março 2008

#  Axioma

Quando alguém começa uma frase por «A mim ninguém me ensina...» — é verdade.

Etiquetas:

#  Ineducável

No Público online:

Leiria: Escola retira ficha que avaliava professores a partir da opinião sobre modelo de ensino

A presidente do Agrupamento de Escolas Correia Mateus, em Leiria, anunciou hoje que retirou a ficha polémica de avaliação de professores do estabelecimento, alvo de críticas pelo Bloco de Esquerda. [...]
A ficha em causa possuía um item em que os professores eram avaliados pela forma como verbalizavam a sua satisfação ou insatisfação em relação ao modelo de ensino, uma situação que foi denunciada por Francisco Louçã, no debate com José Sócrates, no Parlamento.
Após a polémica gerada, Esperança Barcelos decidiu retirar a ficha polémica para evitar “mais questões”, pelo que a reunião do conselho pedagógico irá apreciar um outro documento em que não consta esse item. A ficha inicial “foi elaborada apenas por mim”, porque essa grelha de avaliação visa “avaliar todos os professores”, inclusive os restantes do conselho executivo, explicou Esperança Barcelos. “A mim ninguém me ensina democracia”, acrescentou.

Quando Esperança Barcelos diz que a ela “ninguém ensina democracia”, queria efectivamente dizer que, ainda que tentem ensinar-lha, ela não aprende...

(Nisso é como muitos alunos.)

Etiquetas:

#  O paradoxo da ASAE

No Público online de hoje:

Funcionários sem higiene, saúde e segurança

Os funcionários da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) não têm um sistema de higiene, saúde e segurança no trabalho. A denúncia partiu da Associação Sindical dos Funcionários da ASAE.
Na prática, a falta deste sistema significa, por exemplo, que não é feito controlo médico aos cerca de 600 funcionários do organismo criado há dois anos. “Somos tão rigorosos para os outros e não somos para nós”, disse ao PÚBLICO o presidente da associação, Luís Pires da Silva. Segundo a associação, uma das componentes do sistema de higiene e segurança no trabalho, obrigatório nas empresas de trabalho e na função pública, é a realização de consultas, análises e de apoio psicológico, dado que os inspectores usam armas, o que é um risco acrescido ao desempenho da função.
Os aspectos a desenvolver no sistema de higiene, saúde e segurança no trabalho são decididos numa comissão representativa que ainda não foi criada, diz a associação sindical.
Para Pires da Silva, a situação é grave, até porque os funcionários visitam muitos locais diferentes onde podem receber qualquer tipo de doença e propagá-la.

Será que a ASAE vai mandar fechar a ASAE?

Etiquetas:

04 março 2008

#  A avaliação dos professores (2)

O segundo grande problema da avaliação dos professores (e de que ninguém fala) é a sua falta de transparência.

Segundo o Art.º 49.º do novo Estatuto da Carreira Docente, «o processo de avaliação tem carácter confidencial»: a cada ano, por escola, apenas são publicados «resultados globais da avaliação de desempenho de informação não nominativa». Ou seja, para além de saber a sua própria classificação, cada professor apenas sabe quantos Excelentes, Muito Bons, Bons, Regulares e Insuficientes foram atribuídos na sua escola, mas não quem obteve o quê.

Esta falta de transparência é muito perigosa. A divulgação pública dos resultados completos é o maior garante da justiça na avaliação. O sigilo promove as injustiças e os abusos: a fraude, o amiguismo e o compadrio.

Um exemplo. Ao Prof. Fulano foi atribuída uma classificação de Muito Bom, e, pela lista global, Fulano sabe que houve apenas um Excelente na sua escola. Pensando que essa classificação foi obviamente atribuída ao Prof. Sicrano (quase unanimemente considerado o mais competente da escola — eventualmente ex æquo com o próprio Fulano), o Prof. Fulano não acha que houve qualquer injustiça: as quotas só permitem um Excelente naquela escola, pelo que entre ele e Sicrano alguém tinha de se contentar com um Muito Bom. Azar: calhou-lhe a ele.
O problema é que o Prof. Fulano não tem à-vontade para perguntar ao colega Sicrano que classificação obteve ele (há um certo pudor nestas coisas). Se perguntasse, descobriria que o Prof. Sicrano também obteve um Muito Bom, e que está convencido que o Excelente foi para o Fulano... Se as classificações fossem publicadas detalhadamente, Fulano e Sicrano descobririam que o Excelente foi para o Prof. Magano, a léguas de distância em competência e entrega à escola, mas com a determinante vantagem de ser grande amigalhaço das pessoas certas no júri... Ou, com alguma probabilidade, se as classificações finais fossem totalmente públicas, o júri já não correria o risco de favorecer às claras os comparsas menos competentes.

Mas, claro, a transparência da avaliação só se justificaria se o Ministério da Educação quisesse mesmo retribuir o mérito e o empenho...

Etiquetas:

#  A avaliação dos professores (1)

Fico pasmado como ninguém fala dos dois principais problemas da avaliação dos professores, de acordo com o novo Estatuto da Carreira Docente!

O primeiro é o pré-requisito de ter DEZOITO anos de serviço para se poder candidatar a titular (Art.º 38.º, n.º 2, alínea a). Daqui resultou que professores reconhecidamente excelentes (com mais formação — p. ex., com mestrado — e com mais trabalho de qualidade desenvolvido nas escolas) não puderam sequer concorrer à titularidade, sendo passados à frente por outros mais fracos, mas mais velhos.

Como os quadros estão cheios, nos próximos 20 anos (pelo menos) não haverá mais titulares, ficando as escolas entregues àqueles promovidos à pressa para completar as vagas iniciais. Com a população estudantil a diminuir, quando estes primeiros titulares se reformarem (alguns só têm actualmente uns 40 anos), as vagas fecham e ninguém melhor os substitui.

E é assim que o Ministério da Edução diz querer promover o mérito! Na prática, o que fez foi passar a titulares aqueles que já estavam no topo da carreira e da tabela salarial (tendo lá chegado pela simples passagem do tempo), garantindo que nas próximas décadas não precisa de se preocupar (€€€) com a progressão dos restantes. A mão-de-obra barata está, portanto, garantida! Uma medida economicista, cinicamente disfarçada de promoção da qualidade e do mérito.

Repare-se que não discuto a exigência de um mínimo de anos de serviço (isto é, de experiência) antes da titularidade, mas convenhamos que com 5–10 anos já ninguém é propriamente inexperiente.
E se o Ministério tivesse efectivo interesse em promover a qualidade, então incentivaria a formação científica avançada dos professores (mestrados e doutoramentos, em vez de “acções de formação” da treta): por exemplo, um licenciado precisaria de 10 anos para poder candidatar-se a titular, mas a um mestre bastariam 8 anos e um doutorado chegaria lá com “apenas” 5.

Mas isso, claro, era se o Ministério da Educação quisesse mesmo promover a qualidade de ensino e motivar os professores para a formação contínua séria...

Etiquetas:

01 março 2008

#  Current Audio Obsession

Maia Hirasawa, cantora-revelação sueca (de pai japonês). Escreve e compõe todas as suas letras e músicas. É fraquita aos matrecos — mas quem sou eu para atirar a primeira pedra?

capa de 'Though, I'm just me' capa de 'And I found this boy' capa de 'Gothenburg' Mattis & Maia

Mais informação no site oficial. Músicas disponíveis no MySpace. Vídeos, no YouTube.