foto: Bruno Espadana

30 setembro 2007

#  «Se esta rua fosse minha...»

É já no próximo dia 5 (sexta-feira) que se realiza o «Se esta rua fosse minha...», o festival de rua organizado pelo Plano B com a colaboração de outros comerciantes da Rua Cândido dos Reis (aos Clérigos).

Para quem não sabe, o Plano B foi uma das vítimas da recente sanha pseudo-securitária que varreu a noite do Porto (ou melhor, parte da noite do Porto — a menos problemática, porque os locais realmente preocupantes foram deixados em paz...).

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28 setembro 2007

#  Quem te avisa, teu amigo é...

No Público online:
O responsável pela Igreja Católica de Moçambique, o arcebispo Francisco Chimoio, acusa dois países europeus de quererem matar a população de África com o vírus da sida. Em declarações à BBC, o arcebispo de Maputo disse que os preservativos e os medicamentos anti-retrovirais que chegam ao país estão infectados.

Por isso é que a Igreja Católica é contra o uso do preservativo! Eu sabia que havia alguma razão ponderosa...


(Reveladora, esta estratégia “à Mugabe” do responsável da Igreja Católica moçambicana: aquele culpa “os Brancos” da situação catastrófica do Zimbabwe; este faz coro, atribuindo-lhes a responsabilidade dolosa da progressão galopante da sida em África...)

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26 setembro 2007

#  Duplamente desconcertante

'War', de Paula RegoPaula Rego é dos poucos artistas cujas entrevistas verdadeiramente me interessam: o seu discuso não fica aquém da sua arte (mérito do discurso, não desmérito da arte). Nos outros, com sorte, interessa a arte — em Paula Rego até as palavras são desconcertantes!

O exemplo mais recente (de ontem) é o da reportagem de Alexandra Lucas Coelho na inauguração da retrospectiva de Paula Coelho no “Reina Sofía” de Madrid. Mas ainda recordo com humor a cara do comissário da exposição do CCB em 1997 (Alexandre Melo) a cada resposta da pintora...

De “The Pillowman” (peça que teve recentemente uma fenomenal encenação de Tiago Guedes), disse a pintora que transformou a sua vida (um elogio não despiciendo, vindo de alguém com a idade, o percurso e o universo temático de Paula Rego, referindo-se a um dramaturgo — Martin McDonagh — nascido em 1970). Nas palavras de Paula Rego: «Vi aquela peça e pensei: “Como é que há pessoas que sabem isto?”»

(Interessante: quando vi a peça no TNSJ pensei: «Como é que ele se lembra destas coisas?!» — mas Paula Rego viu melhor: McDonagh não inventa aquilo, ele sabe que aquilo existe!)

A pintora dedicou-lhe um tríptico:

'The Pillowman' (tríptico), de Paula Rego(Há mais informação sobre esta obra — e a peça que a motivou — na reportagem do Público e no site da Tate.)


Agustina Bessa-Luís, Paula Rego e Martin McDonagh: ora aí está uma mesa-redonda para nos deixar de olhos arregalados!

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23 setembro 2007

#  Riso

(c) reneehiggsSegundo leio no De Rerum Natura, um estudo realizado pela equipa de Paul Crutzen (químico galardoado em 1995 com o Prémio Nobel pelo seu trabalho em química da atmosfera) indica que
[...] utilizar biocombustíveis irá muito provavelmente aumentar em vez de diminuir as emissões de gases de efeito de estufa. Os cálculos de Crutzen e colaboradores indicam que a cultura dos biocombustíveis mais utilizados liberta cerca do dobro de óxido nitroso, N2O, que estudos anteriores indicavam. O N2O, o gás hilariante, é um gás de efeito de estufa com potencial de aquecimento global — global warming potential (GWP) — 296 vezes maior que o CO2.

Ou seja, a situação antevê-se grave — mas o mais certo é acabarmos todos a rir sobre o assunto.

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17 setembro 2007

#  «Ninguém é deixado para trás» (post scriptum)

Ficou por dizer que, nas Forças Armadas de Israel, o objectivo subjacente ao princípio de que «Ninguém é deixado para trás» é o de dar um enterro digno ao soldado caído em combate.

O resultado da aplicação de tal princípio à Educação em Portugal é quase o mesmo: o enterro — se bem que pouco digno.

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#  «Ninguém é deixado para trás»

As Forças Armadas de Israel (Tsahal) incluem nos seus princípios um que poderíamos sintetizar na frase «Ninguém é deixado para trás». Ou seja, mesmo perante a catástrofe, um soldado israelita não deve abandonar um camarada às mãos do inimigo — nem mesmo que esse camarada já esteja morto! (É, por isso, ponto de honra recuperar o corpo de todos os que caem em combate.)

A nossa Ministra da Educação parece querer aplicar o mesmo princípio na sala de aula. Primeiro, e contrariando as boas práticas reconhecidas por todos em todo o mundo, ordena o aumento do número médio de alunos por turma (que em tamanho quase se assemelha a um pelotão...); depois, exorta os professores a trabalharem mais com cada aluno, «porque todos têm o direito ao sucesso».
Soterrados em turmas enormes, privados de condições de trabalho e forçados ao «sucesso» (leia-se, taxa de aprovações), os professores portugueses deverão engolir os escrúpulos e adoptar o lema do Tsahal: Nenhum aluno é deixado para trás — nem que esteja “morto”.

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15 setembro 2007

#  Em caso de dúvida, contar pelos dedos

Jornal da Tarde da RTP, hoje:
Quanto ao resultado [do jogo de râguebi], não houve lugar para dúvidas: a Nova Zelândia impôs-se a Portugal por mais de 100 pontos [de diferença]: 108–13.

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12 setembro 2007

#  Violência invicta

Leio no Público online:

Porto: Homem baleado no Bairro do Aleixo

Um homem foi baleado na cabeça, ontem à noite, no Bairro do Aleixo, no Porto, alegadamente por motivos relacionados com o tráfico de droga, anunciou hoje fonte da PSP.

Se dependesse da ASAE, encerravam-se duas ou três farmácias para «enviar uma mensagem» aos “senhores da droga”...

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10 setembro 2007

#  A ETA tem uma célula em Roswell?

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#  Next Stop... Closed!

A notícia já é do fim-de-semana que passou e o Rui já se lhe referiu na madrugada passada: a ASAE, necessitada de mostrar serviço, fechou o Triplex[1] e o Maus Hábitos; para além da falta de licenciamento, ditou o encerramento a falta de seguranças (os mesmos que, conforme largamente noticiado, estão o mais das vezes em situação ilegal e são, não o remédio ou a profilaxia, mas a fonte de problemas no “mundo da noite”).

Para quem não sabe, o Maus Hábitos é a única sugestão da noite da “Invicta” a constar de um artigo sobre pontos de interesse turístico no Porto publicado este ano no The New York Times. Agora que está fechado, a ASAE aconselha como alternativa a recém-reaberta Chic[2] — ou outro local devidamente dotado de “seguranças” (ainda que, conforme as próprias autoridades reconhecem[3], igualmente sem o devido licenciamento... nihil obstat) — onde, entre tiros e outras “coboiadas”, o turista norte-americano poderá sentir-se tão integrado como se nunca tivesse saído do seu país.


[1] No seu site, o Triplex define-se como «aberto, acolhedor e aprazível» — quanto aos dois últimos adjectivos, a ASAE nada pode (hélas!), mas revoga-se monossemanticamente o primeiro e está resolvido...

[2] José Ferreira, gerente da discoteca, garante que «a zona industrial do Porto [onde a Chic se situa] é das áreas mais seguras da cidade porque a polícia anda sempre por aí»; por exemplo, estiveram lá ainda a 27 de Agosto, quando Aurélio Palha, proprietário da dita Chic, foi mortalmente baleado...

[3] Segundo o Público de domingo, o subcomissário Afonso Sousa (oficial da PSP que participou na operação policial da madrugada de sexta para sábado) «detectaria discotecas que estavam a funcionar sem licença e que assim continuaram pela noite fora».

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07 setembro 2007

#  Deus, o Mal e o livre-arbítrio

No site da FNAC deparo-me com esta publicidade ao último livro de Luís Miguel Rocha, autor de O Último Papa:

«Nenhuma bala pode matar se essa não for a Sua vontade»: Irmã Lúcia numa carta a João Paulo II
A Igreja sempre meteu os pés pelas mãos quando chega a altura de lidar com a Inconciliabíssima Trindade.

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#  Nem “a martelo” se disfarça a desgraça nacional

Desidério Murcho, hoje no De Rerum Natura:
Não me lembro de um ministro da educação tão mau, nem mesmo Roberto Carneiro, que é responsável pelo começo das reformas que transformaram a escola gradualmente num videogame para iludir os pobres e mostrar ao mundo números felizes de sucesso escolar inventado.

A suprema ironia é que nem com esse expediente se conseguiu dar um lustro de sucesso aos números da Educação nacional...

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05 setembro 2007

#  Na superficialidade é que está o ganho

Escrevia Palmira F. da Silva ontem no De Rerum Natura:
[...] Em questão estava o título com que a National Geographic apresentava uma descoberta relatada na Nature e que dava a entender que esta descoberta despedaçava a teoria da evolução humana.
Outros media usaram igualmente títulos desconexos da realidade para apresentar a mesma descoberta, como é exemplificado pela canadiana CBS, que intitulou a história «World's oldest gorilla fossil challenges evolutionary beliefs». Ambos os títulos não têm rigorosamente algo a ver quer com as notícias que os acompanham quer com a descoberta reportada. Aparentemente os criacionistas apenas leêm títulos sem se darem à maçada de ler os artigos originais ou mesmo o corpo da notícia e quasi de imediato aproveitaram a «prenda» para repetirem qual mantra títulos de mau jornalismo.
Entretanto a National Geographic alterou o título de «New Fossil Ape May Shatter Human Evolution Theory» para o menos bombástico (e fantasioso) «New Fossil Ape May Shake Human Family Tree».

Esta história trouxe-me à lembrança o comentário de Jon Stewart à promessa de a CNN nos dar «mais histórias por hora»:


Para quem não quer — vá lá... — ou não pode ver o vídeo, ou para quem não percebe suficientemente inglês, o fundamental pode resumir-se a esta frase do apresentador do The Daily Show:
As pessoas não querem poucas histórias minuciosamente investigadas, elas querem muitas histórias abordadas por alto.

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#  Wackypedia, contributos para um dicionário alternativo

Asteca
A manga do casaco de um batoteiro.

Axioma
Tumor no sovaco.

Calvinista
Aquele que acredita que ser ou não careca depende exclusivamente da graça divina.

Católico
Aquele que aceita a infalibilidade felina.

Expansionista
Judeu que deixou de defender a união de todos os judeus na Terra Prometida.

Externo
Que se tornou bruto.

Seminário
Banco de esperma.

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#  O céu (microconto)

O motorista tinha acabado de sair com o seu autocarro da central de recolha quando, olhando o céu, pensou algo abstractamente que naquele dia ele estava excepcionalmente branco e uniforme, como uma folha de papel virgem. Sorriu ao lembrar-se dos seus desenhos da infância, em que o céu era uma estreita barra de azul remetida para a margem superior do papel, deixando uma vasta área da folha totalmente branca. Recordava-se também do fascínio com que, mais tarde, recebera o conceito de que ele (o céu) começava logo acima das nossas cabeças, dos telhados das casas ou das ervinhas do chão. (A partir desse dia iniciático, os desenhos demoraram mais tempo a acabar — e a mãe teve de lhe comprar lápis azuis extra.)

Mas daquela vez as coisas eram diferentes. De alguma forma, a criança que todos os dias pinta a paisagem em que nos movemos tinha-se fartado do desenho mais cedo do que o habitual, e nem a raquítica barrinha azul na borda do papel contrariava a brancura do firmamento. O motorista já tinha visto muitos dias com aquela nebulosidade a que chamava chapada, feita de uma camada uniforme de nuvens finas, amorfas e sem interesse, qual edredão comprado na loja dos trezentos, que tornam indeterminável a posição do sol e dão ao dia uma luminosidade incómoda — mas nunca se deparara com um branco tão imaculado. «Branco mais branco não há», pensou, um pouco triste por não ter ninguém com quem partilhar a piada que acabara de fazer.

Entretanto chegou à primeira paragem do seu percurso, onde entrou uma dezena de passageiros de caras ovinas. O cheiro acre do suor encardido penetrou nas narinas do motorista, trazendo-o para cotas mais terrenas.

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