foto: Bruno Espadana

15 novembro 2006

#  Coisas lidas por aí

Na montra de uma loja no Porto:
Habituem-se à IDEIA: vamos mudar outra vez para o outro lado da rua...

Etiquetas:

10 novembro 2006

#  Para acabar de vez com a Cultura

No próximo dia 14 vai realizar-se no Porto uma jornada de reflexão subordinada ao tema «Serviço Público: fundamentos e funções». O evento será presidido pela Ministra da Cultura, estando prevista a presença, entre outros, de diversos directores de teatros municipais e membros de companhias de artes de palco. E de Rui Rio, que deverá fazer-se acompanhar de intérprete para tradução simultânea.

Face à presença num único sítio de tanta gente ligada à Cultura, a PSP do Porto já classificou o encontro como «de alto risco». À cautela, a Brigada de Minas e Armadilhas revistará à entrada o Presidente da Câmara Municipal do Porto, não vá ele levar explosivos atados à cintura.

Etiquetas: ,

#  Ler a ironia

Frontispício da edição original de 'Flatland'Há em muitas pessoas uma clara incapacidade de ler a ironia. Essa incapacidade é verificável mesmo naqueles que, pela sua profissão, deveriam estar habilitados a detectá-la. Veja-se o texto de Eduardo Prado Coelho (EPC) no Mil Folhas de hoje, em que fala da recente edição portuguesa de Flatland, romance de Edwin A. Abott em que as personagens são figuras geométricas:

[...] A isto deverá somar-se a questão das mulheres. Podemos dizer que aqui ressalta uma certa misoginia do autor. Em qualquer casa, por exemplo, deverá existir uma entrada só para os Homens e uma entrada posterior para as Mulheres. Mas também surge algo de subtil. As mulheres têm forma de agulha, são, por assim dizer, todas afiadas, pelo menos nas suas extremidades. Ora daqui decorre uma condição: podem tornar-se invisíveis. “Colocai uma agulha em cima de uma mesa, olhai-a de lado, de modo a que possais ver todo o seu comprimento; depois, olhai-a de frente e reparai como não vedes senão um único ponto: tornou-se praticamente invisível. Ora é isto mesmo que se passa com as nossas mulheres.” Este estatuto (algo em certa medida equivalente ao famoso aforismo lacaniano: “La femme ça n’existe pas”) torna-as manifestamente perigosas e por isso reprimidas pela ordem vigente masculina.

Não distinguirá EPC a misoginia da ironia? Não perceberá que a exposição de uma situação de facto (o estatuto de submissão da mulher na Época Vitoriana), mesmo que não expressamente contestada, não significa necessariamente uma apologia dessa situação? Não conceberá que por vezes a forma mais eficaz de crítica está no texto “meramente expositivo” e não no declaradamente argumentativo?

Talvez não. Talvez seja preciso fazer-lhe um desenho.



EPC não o diz, mas Flatland teve pelo menos uma edição nacional anterior: pela Gradiva, na colecção Ciência Aberta. Já agora, o livro inspirou um filme.

Etiquetas: , , ,

09 novembro 2006

#  Qual Green Card, qual quê! (10)

A New Yorker iniciou em 2005 um concurso de legendagem de cartoons: em cada número um dos cartoonistas da revista cria uma imagem (geralmente absurda) sem qualquer texto, devendo os leitores fornecer a legenda apropriada. As três melhores legendas são postas à votação e o vencedor é premiado com uma gravura do cartoon, devidamente assinada pelo artista, onde consta a sua legenda.
O senão de tudo isto é que se tem de ser residente nos EUA para poder concorrer. Não conformado com isso, apresento aqui a minha sugestão para o cartoon n.º 74:


(c) P. C. Vey / The New Yorker
«... and that’s why we need interns.»

Desenho de P. C. Vey / The New Yorker

Etiquetas: , ,

08 novembro 2006

#  Cosmicómicas

José António SaraivaOntem à noite, no café com amigos, discutíamos os delírios mitómanos de José António Saraiva. Concretamente, deliciávamo-nos com «Em defesa do rigor», artigo publicado na última edição do semanário Sol, constando ao que parece de excertos do seu livro CONFISSÕES — os últimos anos no Expresso, o nascer do SOL e as conversas com políticos à mesa.

A leitura de Saraiva — como a sua vida, de facto — é fundamental para a compreensão do Portugal moderno. Pelo menos a julgar pelo que o próprio escreve. Aconteceu? Ele estava lá. Foi bom? Foi ele a sugeri-lo. Foi mau? Ele bem nos alertou, mas recusámo-nos a acreditar.

José António Saraiva é o Forrest Gump português: omnipresente e activo em todos os momentos-chave da História. Ou, dadas as evocações cósmicas do seu novo semanário, é uma versão infinitamente mais cómica de Qfwfq, a curiosa personagem que Italo Calvino, em Cosmicómicas, pôs a protagonizar todos os episódios relevantes da História do Universo, do Big Bang ao surgimento dos átomos, da formação das galáxias à evolução da vida na Terra.

Verdadeiramente, José António Saraiva é o Sol da nossa vida. E faz questão que nós o saibamos.

Etiquetas: , ,