foto: Bruno Espadana

25 agosto 2006

#  Ainda Plutão

Ninguém me tira da ideia que a despromoção de Plutão (que já não é um planeta de pleno direito no nosso sistema solar) tem dedinho do Ministério da Educação, da Comissão Nacional de Educação (CNE), ou de outros quejandos, notáveis adeptos do facilitismo curricular (de facto, se não de jure). É que, tendo que decidir entre o aumento do rol de planetas a decorar nos bancos da escola (acrescentando aos nove anteriores pelo menos os noviços Ceres, Caronte e Xena) e a sua diminuição para oito, a opção recaiu sobre a diminuição (agora efectivada). No mínimo, suspeito.

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#  Ich bin ein Pluto!

Sistema Solar
Unamo-nos em defesa de Plutão, do Gil Vicente FC, e de todos os injustamente despromovidos deste mundo!

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17 agosto 2006

#  Nokiaman Returns

O Super-Homem do século XXI troca de roupa no telemóvel?

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#  Não me lembra nada nem ninguém (3)

(c) Jack Ziegler / The New Yorker
«Claro, seria uma história totalmente diferente se conseguíssemos extrair petróleo das células estaminais.»

Cartoon de Jack Ziegler / The New Yorker

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11 agosto 2006

#  Os Três Enterros de um Homem

Cartaz de 'Os Três Enterros de um Homem'Vejo no Cinecartaz do Público que os Cinemas King estão a repor Os Três Enterros de um Homem, realizado e protagonizado por Tommy Lee Jones.

(Nota à margem: ando há anos a adiar um “estudo” sobre o misto de fatelice e “medo de arriscar” dos distribuidores portugueses, bem patente em certas escolhas na hora de traduzir o título de um filme: a tradução correcta deste seria Os Três Enterros de Melquiades Estrada, mas cruz credo!, que o nome estranho ainda me afasta a clientela...)

Este filme — um dos melhores que vi nesta temporada (reconheço: não vi/não vejo muitos) — foi classificado com 3 estrelas por Luís Miguel Oliveira e Vasco Câmara; os mesmos das 4-estrelas-4 para Miami Vice. Mais mistérios...

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#  Crítica de cinema em estado crítico

Definitivamente não percebo nada de cinema. Sempre soube não ser um cinéfilo (muito menos um cinélogo, se é que isso existe), mas agora tenho a certeza de que a minha bússola anda desnorteada face ao pólo magnético dominante.

Cartaz de 'Miami Vice'A certeza quanto àquilo que era até agora “apenas” uma forte desconfiança chegou-me com a classificação de dois filmes actualmente em cartaz: Piratas das Caraíbas 2 e Miami Vice.
O primeiro, com o idiossincrático Johnny Depp no papel principal, tem uma classificação quase unânime no painel de críticos do Público: Jorge Mourinha, Luís M. Oliveira e Vasco Câmara atribuem-lhe uma estrela (“Dispensável”) e Mário J. Torres enterra-o mesmo com o famoso ponto negro (“A evitar”).
Quanto ao segundo, protagonizado por Colin Farrell (e Jamie Foxx — mas a agonia é devida a Farrell) recebe aplausos em uníssono: 4 x 4 estrelas (“Imprescindível”)! E até o Pedro Mexia se lhe refere como «(óptima) versão cinematográfica»!

Cartaz de 'Piratas das Caraíbas 2'Antes da estreia de Miami Vice eu interpretava a crítica demolidora a Piratas das Caraíbas 2 como um sinal de pseudo-intelectualismo serôdio: ai jesus, que horror, um filme sem densidade psicológica, de puro entretenimento! Não aceitava isso — há lugar para filmes de todos os géneros, e o filme de Johnny Depp atinge uma boa prestação no género em que se inscreve —, mas pensava compreender a lógica subjacente à classificação. Agora, vendo as reacções a Miami Vice, concluo que não compreendo nada.

Se em Piratas das Caraíbas 2 o ritmo é frenético, Miami Vice pauta-se por uma lentidão desesperante. Se Johnny Depp rouba todas as cenas em que participa, Colin Farrell nem o sono nos rouba (antes o promove): as suas personagens (todas as que me lembro dele como protagonista) não têm carisma, são amorfas, andam aos caídos pelo ecrã... Johnny Depp é histriónico (magistral, deliberada e hilariantemente histriónico) — Colin Farrell tem o carisma de um autista: em 80% das cenas os seus olhos fixam-se, mortiços, num ponto ao fundo do set por trás dos cameramen como quem, com pouca convicção, olha um estereograma...

E a todos estes defeitos, Miami Vice não contrapõe virtudes. A sua densidade psicológica está ao nível do teor alcoólico da água do Luso. A técnica narrativa é do mais banal, em linha com o argumento. Não se lhe vêem grandes méritos em termos de fotografia, de montagem, de banda sonora. E nem os efeitos especiais ou as “gajas” e os “gajos” são dignos de nota. Resumindo, Miami Vice não traz nada de novo e traz pouquíssimo de bom.
Ou seja, (i)modestamente opinarei que Miami Vice não tem nada que agrade ao vasto espectro de espectadores: da populaça mais básica às cliques (pseudo-)intelectuais, passando pelos fanáticos da técnica e pelos pragmáticos em busca de duas horas bem passadas, todos saem defraudados. Mas a crítica diz que não.

No Cinecartaz do Público classifica-se Miami Vice como um filme de acção, crime e drama. Acção, convenhamos, muito pouca e fraca (dir-se-ia que Miami Vice é um filme de acção não praticante). Crime, sem dúvida — mas menor do que o de cantar-lhe loas. E isso, sim, é que é um drama.

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09 agosto 2006

#  A sapiente abstinência poética

Numa parede em Matosinhos Sul pode ler-se:
Um único verso seria uma nódoa no meu poema

A História (ia dizer: da Literatura) é vítima de gente a quem faltou a sabedoria ou o discernimento do anónimo grafitter de Matosinhos Sul.

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07 agosto 2006

#  Escolha o bombardeamento que mais lhe convém

A Reuters retirou da sua base de dados 920 fotografias de um freelancer libanês, depois de se descobrir que pelo menos duas delas tinham sido manipuladas.
(Mais detalhes: aqui, aqui e aqui.)

Fotografia manipulada Fotografia original

Um exemplo é o que apresento aqui. À esquerda, a imagem inicialmente divulgada, claramente manipulada, com “fumo” acrescentado; à direita, a imagem original.

Sugestão a futuros manipuladores: o fumo é mais realisticamente simulado usando algoritmos fractais...

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#  A nódoa

Ayman al-ZawahiriUm tema habitual entre os jihadistas e quejandos é a reconquista de todas as terras que já foram islâmicas, nomeadamente a Crimeia, os Balcãs e a Península Ibérica (que, no imaginário muçulmano, configura uma espécie de Éden da Idade de Ouro do Islão). Ainda recentemente o n.º 2 da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, afirmava num vídeo que a sua organização «libertará todos os lugares que foram terra do Islão, do Al-Andalus ao Iraque».

Não entendo esta fixação, este tabu sobre a presença de outras religiões e culturas em terras onde o Islão já pôs um dia o pé. Apesar de tudo, o Islão não é como o cavalo de Atila, de que se dizia que onde pisava nada mais crescia. Apesar de tudo, a conversão de uma terra (?) ao Islão é menos nociva do que o teste nuclear no Atol de Bikini ou o desastre de Chernobyl, que incompatibilizaram estes territórios com a vida. Apesar de tudo, o Islão não é uma nódoa no mapa civilizacional.

Ou será? Al-Zawahiri lá o saberá.

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02 agosto 2006

#  Retiro

Nos próximos dias (semanas?) eu e o mundo não diremos grande coisa um ao outro. Não prevejo a leitura de outros blogues, nem a compra e a leitura regulares de jornais, principais fontes de inspiração deste blogue (embora por vezes possa não parecer).

Vou dedicar-me a outras leituras: consumir a “gordura bibliotecária” acumulada ao longo dos meses e dos anos. Ocasionalmente, um DVD ou outro, um cinemita aqui ou ali.

(c) Pascal Thivillon

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01 agosto 2006

#  Portugal: o Sr. P. à luz da neuropsicologia

Capa de 'O Homem-Termómetro', de Laurent CohenEstou nas páginas finais de um livro apaixonante sobre neuropsicologia: O Homem-Termómetro: O cérebro em peças soltas, de Laurent Cohen (Gradiva, 2006). Na página 162, em que o autor descreve os sintomas de um certo Sr. T., não pude deixar de pensar que o mesmo diagnóstico se poderia aplicar ao Sr. P., um país que vai por aí com o nome de Portugal...
[...] O Sr. T. sofre de uma doença bastante rara [«síndrome frontal»], que consiste numa degenerescência dos neurónios da região pré-frontal. Trata-se de uma doença cuja progressão é lenta, mas irreversível, infelizmente sem tratamento eficaz até hoje. [...] trata-se da perda de qualquer iniciativa autónoma. Em resumo, poderíamos dizer que por sua própria iniciativa o Sr. T. já nada faz, embora seja potencialmente capaz de acções e de um discurso normal. De facto, é o córtex pré-frontal que toma normalmente a iniciativa das novas actividades, planificadas com a finalidade de chegar a um fim significativo. Ora o Sr. T. já não tem qualquer objectivo próprio. Age apenas em resposta a circunstâncias exteriores que desencadeiam nele comportamentos rotineiros.

Mais à frente (p. 164) temos até explicação para, por um lado, a nossa predilecção por modelos “chave-na-mão” (o modelo francês, o modelo anglo-saxónico, o modelo irlandês, o modelo nórdico, o modelo finlandês...), que desejamos aplicar acriticamente ao nosso caso, e, por outro, para a nossa crónica permanência no passado, a nossa incapacidade de seguir em frente:
Tal como as duas faces de uma mesma moeda, por um lado o comportamento do Sr. T. já não é devidamente guiado pelas suas iniciativas autónomas (não faz nada de sua própria iniciativa) e por outro lado está demasiado dependente das solicitações exteriores (imita e utiliza). Mas, pelas mesmas razões, está também demasiado dependente do seu passado. A inércia cognitiva torna difícil a passagem de uma actividade à outra e impede as actividades espontâneas. O cúmulo da sujeição à rotina é a repetição incessante da mesma acção.

O Sr. P. — Portugal — não consegue, como Mark Twain disse das pessoas inteligentes, «cometer sempre novos erros». Ou, como disse outro autor (de momento não recordo quem): «Errar, errar de novo, errar melhor».

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